E de bônus, um ótimo super vilão.

A década de 2010 viu reinterpretações de personagens clássicos de super-heróis, como um Super Homem de calça jeans e camiseta, e personagens novos assumindo mantos antigos, como Jane Foster como a nova Thor. Mas também foi uma época de ouro para o surgimento de novos super-heróis que se tornaram instantaneamente icônicos.

E olha que atualmente, considerando a quantidade de heróis já lançados, não é nada fácil obter um novo super-herói do zero que tenha essa identificação e aceitabilidade do público.

Em um cenário interminável de história em quadrinhos, criar um novo super-herói ou vilão que seja original e carismático é como construir um castelo de areia. Se ninguém quiser aproveitar a sua criação, tudo acaba perdendo um pouco o sentido e a coisa toda vai embora com a maré.

Para ter sucesso, um personagem precisa ter o tipo de potencial aberto que outros criadores de conteúdo desejem explorar em suas histórias, que fãs se inspirem. Alguns personagens criados nesta década ainda não tiveram a chance de ultrapassar esse limite – então vamos indicar alguns abaixo que conseguiram o sucesso nesse sentido.

MILES MORALES / HOMEM-ARANHA

Kaare Andrews/Marvel Comics
Criado pelo escritor Brian Michael Bendis e pela artista Sara Pichelli para a Ultimate Comics: Spider-Man.

A história de Miles Morales entra também nos melhores quadrinhos da década! Ele é uma das versões mais bem-sucedidas de todo o universo do Homem-Aranha. O Miles é um dos poucos personagens em todo o Universo Ultimate da Marvel que poderia vender mais quadrinhos que o resto do universo principal.

Os diretores da animação No Aranhaverso explicaram a importância do personagem e, sinceramente, ele era um candidato óbvio para ganhar a categoria de Melhor Filme de Animação do Oscar e todas as outras premiações que conquistou (Annie, Golden Globe, Critics’ Choice, British Academy, etc). Fizemos um post exclusivo pra mostrar detalhes da arte da animação, que é absolutamente de tirar o fôlego.

OS JOVENS X-MEN

Stuart Immonen, Wade Von Grawbadger, Marte Gracia/Marvel Comics
Criados pelo escritor Brian Michael Bendis e pelo artista Stuart Immonen para o All-New X-Men ("X-Men 3ª Série" no Brasil).

Tecnicamente, os novos X-Men não são exatamente novos personagens. Mas eles são um novo conceito de personagem, e por isso – e também por injetar muitos elementos fascinantes que eletrizam o fandom dos X-Men desta década – eles merecem um lugar na lista.

Em 2013, os X-Men estavam em um lugar bem ruim na história dos quadrinhos: Ciclope era um terrorista que assassinou o Professor Xavier, Jean estava morta e assim por diante na lista de desgraças. E então coube a Hank McCoy (o Fera) fazer algo brilhante nos quadrinhos (e meio estúpido na visão do mundo real). Ele construiu uma máquina que puxou os cinco X-Men originais para fora do período deles e em direção ao presente, esperando que eles pudessem lembrar e motivar suas versões adultas do por que eles se tornaram heróis. Então, ele apagaria suas mentes e os colocaria de volta no passado.

Mas assim que as versões mais jovens dos X-Men perceberam o quanto seus futuros eus estragaram suas vidas (Hank ficou depressivo! Warren tem asas de veneno! Scott é um terrorista! Jean morreu várias vezes! E mesmo depois de tudo, os mutantes ainda são odiados e temidos!), eles se recusaram a voltar. O jovem Ciclope, Bobby Drake (Homem de Gelo), Jean, Fera e Warren (Anjo ou Arcanjo) ficaram na modernidade dos X-Men por seis anos.

Eles se juntaram a outras equipes, fizeram amizade com os super-heróis adolescentes modernos do Universo Marvel, e mesmo sendo finalmente enviados de volta ao seu tempo, tiveram o efeito significativo de tirar Bobby do armário.

A NOVA FAMÍLIA SHAZAM

Geoff Johns, Gary Frank/DC Comics
Criada pelo escritor Geoff Johns e pelo artista Gary Frank na Liga da Justiça.

A família Shazam não é uma novidade no mundo dos quadrinhos – Billy Batson compartilha seus poderes com seus amigos desde 1941. Mas, com o surgimento do New 52, quando a DC resolveu se rebootar inteira, ​​Geoff Johns tinha algo em mente: uma família Shazam composta por seis filhos, um para cada letra no nome. Ele testou a ideia em um universo alternativo com o evento Flashpoint, mas acabou estreando uma versão mais refinada com Gary Frank, em histórias de reserva para a Liga da Justiça do New 52.

Logo após ser escolhido para exercer o poder de Shazam, Billy Batson descobriu que seu maior presente era poder compartilhar seus poderes com sua nova família adotiva. Isso significa não só a participação de Mary e Freddy – que se baseiam em antigos personagens secundários da família Shazam – mas também Pedro, Eugene e Darla. Vocês inclusive já podem estar familiarizados com esses personagens por causa do filme de Shazam da Warner.

O conceito de Shazam não mudou muito nos últimos 80 anos: um garoto especial que diz uma palavra mágica e se torna um super-herói da vida real. Na década de 1990, ele se aproximou ainda mais dessa metáfora da realização dos desejos com uma reviravolta bem grande – em vez de trocar de lugar com um super-herói adulto, Billy Batson se tornou uma criança no corpo de um super-herói adulto.

Adicionar uma família toda adotiva e com super poderes em cima disso? Cereja do bolo! A adição dos autores nesta nova versão de Shazam diversifica os personagens e as histórias do herói e moderniza a ideia da popular família lá da Era de Ouro de uma maneira muito mais atraente para os padrões atuais.

ALL MIGHT

Bones/Funimation
Criado pelo mangaká Kōhei Horikoshi.

All Might, nome de herói de Toshinori Yagi, é o farol de esperança para todos os heróis de My Hero Academia como o herói número um do mundo (dava pra falar um pouco mais sobre isso aqui, mas prefiro não dar spoilers). Em um cenário em que uma grande parte da população tem superpoderes (ou “peculiaridades”, na linguagem do mangá), apenas alguns podem se destacar como heróis. Mas o All Might faz isso usando o melhor da positividade que se encontra em histórias de heróis, sempre com uma energia divertida e contagiante que dava uma sensação incomparável de segurança para os civis. Além de, claro, uma tremenda peculiaridade: o One For All, poder que cresce em cada usuário até que seja passado para a próxima geração.

O All Might é tudo o que um fã de super-heróis poderia pedir em uma pessoa: ele é poderoso, alguém que se sacrificaria por qualquer pessoa sem distinção e que tem um senso real de justiça que não se baseia em traumas passados. Ele realmente quer o melhor para o mundo – e consegue colocar essa vontade em ação.

Ele é um pouco brega, sendo uma paródia amorosa de super-heróis americanos. Ele usa ataques com nomes de estados e cidades, como “Detroit Smash”, mas isso não o torna menos agradável (e no final das contas, os fãs todos adoram o lema do “Plus Ultra“). Ele é uma figura paterna para o personagem principal do mangá, Izuku Midoriya, e é apenas um cara legal e íntegro. Zero defeitos.

GHOST SPIDER

Joe Quesada/Marvel
Criada pelo escritor Jason Latour e pelo artista Robbi Rodriguez no evento Spider-Verse.

Acontece que a Gwen Stacy era conhecida por uma coisa e apenas uma coisa: morrer. Ela foi uma das primeiras namoradas de protagonistas a ser “colocada na geladeira” numa época em que qualquer morte séria de personagens de HQs de super-heróis ainda era algo bastante novo, ela era mais uma gota no balde já transbordando de traumas do Peter Parker.

Jason Latour e Robbi Rodriguez ofereceram uma Gwen Stacy diferente, literalmente. Uma versão da personagem de um universo alternativo onde Gwen é que foi mordida pela aranha radioativa em vez de Peter. Ela tinha uma dos designs mais marcantes e um armário bem fashion para enfeitar as páginas dos quadrinhos dos anos 2010.

Mesmo que ela tenha sido inventada apenas para o evento Spider-Verse, uma onda de cosplays e fanarts da personagem convenceu os produtores que ela merecia uma série própria, o que rendeu uma HQ que está em andamento desde 2015 e um papel importante em No Aranhaverso. Seus quadrinhos seguem firme e forte, agora com um novo nome de super-heroína: Ghost Spider, com o escritor Seanan McGuire e o artista Takeshi Miyazawa.

JON KENT / SUPERBOY

Patrick Gleason, Mick Gray, John Kalisz/DC Comics
Criado por Dan Jurgens em Convergence: Superman; continuou em Superman: Lois e Clark com o artista Lee Weeks; continuado ainda pelo escritor Peter J. Tomasi, artistas Patrick Gleason, Jorge Jiménez, Carlo Barberi e outros nos livros Superman e Super Sons; e por Brian Michael Bendis e vários artistas em Superman, Action Comics e muito mais.

É preciso uma vila para criar um super filho! E foram necessárias travessuras contínuas para levar o filho do Super-Homem e Lois Lane, o meio-kriptoniano Jon Kent, até uma linha de tempo principal da DC – mas ele está aqui para ficar.

Em seu curto mandato, Jon se tornou o melhor amigo do próprio filho de Batman, Damian. Jon é o tipo de criança que tinha um cesto inteiro de roupas fofas e que cresceu de um adorável aluno do ensino fundamental para um adolescente super legal – mas com um potencial destrutivo que nem o Super-Homem consegue mensurar. E além do apelo de Jon como personagem individual, há também as janelas de oportunidade que ele abre para as histórias extras do Super-Homem.

O que assusta o homem mais poderoso do universo? Que seu filho talvez não tenha uma infância feliz e relaxada por causa de quem ele é e do que ele representa. E como você mantém o Homem de Aço humano aos olhos dos fãs? Você mostra ele ensinando o filho a ser uma boa pessoa e um super-herói responsável. A existência de Jon incentiva os criadores de quadrinhos a se apoiarem nos aspectos de super pai e super marido do super-herói mais antigo do mundo, e isso o torna ainda melhor.

KAMALA KHAN / MS. MARVEL

Adrian Alphona/Marvel
Criada pelos editores Sana Amanat e Stephen Wacker, escritor G. Willow Wilson e artistas Adrian Alphona e Jamie McKelvie para a Miss. Marvel.

A ascensão de Kamala Khan foi meteórica desde o momento em que ela assumiu o papel vago deixado por Carol Danvers, que foi promovida a Capitã Marvel. Pergunte a um fã de quadrinhos sobre personagens como Robin, Ghost Rider ou Superboy, e ele vai dizer “Tá, mas qual deles?” Com a Kamala isso não acontece tanto porque ela encaixou tão rápido e tão enfaticamente no papel da Miss Marvel que hoje em dia não existem dúvidas de quem você está falando quando o assunto surge.

Kamala foi anunciada como a primeira personagem muçulmana a encabeçar seu próprio livro da Marvel, e a partir do momento em que sua série chegou, ficou claro que os criadores não estavam fazendo nenhum tipo de peça superficial. A história de Kamala é sobre identidade, empatia e o poder de encontrar e equilibrar os dois. Essa história cativou muito os leitores, e Kamala acabou se tornando um dos títulos mais vendidos da Marvel. A partir daí, ela se juntou a todos os times sob o sol, desde os Vingadores até os Campeões.

A heroína inclusive estará no jogo dos Vingadores da Square Enix e vai ganhar sua própria série na Disney Plus. Kamala chegou chegando e bate corrida bem de perto com seu amigo Miles.

O BATMAN QUE RI

Riccardo Federici/DC Comics
Criado pelo escritor Scott Snyder e pelo artista Greg Capullo no evento Dark Nights Metal.

Os super-heróis não seriam tão interessantes sem os vilões, então vamos prestar homenagem a um aqui. Deixe de lado o senso de moda esquisita desse Batman que ri, e preste bastante atenção nas travessuras mais exageradas (bem heavy metal mesmo) e o fato de que ele honestamente está começando a ficar bem mais ousado nos quadrinhos, sendo o Batman mais cruel que a DC já criou.

O Batman que ri é do Multiverso das Trevas, um lugar dentro dos Universos da DC onde as coisas deram muito errado. Lá é onde Batman perdeu sua moralidade, ou onde o Super-Homem jamais ressuscitou. Esses cosmos fraturados não conseguem sobreviver suas falhas e, eventualmente, cada um deles se dissolve e é consumido pelo dragão Barbatos, para que suas energias possam ser criadas em um universo novo e melhor pela entidade cósmica conhecida como World Forger.

Tendo tudo isso em mente, o personagem é meramente uma declaração sobre o quão legal seria se Batman fosse um vilão, além de ser um híbrido entre o Batman e o Coringa vestido de couro. O metatexto do Multiverso das Trevas é que, em contraste com o resto do Multiverso da DC, é composto de histórias que não têm futuro. Um Batman que mata, um Batman sem empatia ou ética, um Batman sem esperança – é um personagem que não funciona dentro das franquias normais. Não como um herói, um exemplo.

Mas essa mesma ideia funciona de maneira fantástica para um vilão.

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E pra vocês? Quem foram os melhores super-heróis e vilões que surgiram nesta década? Indiquem pra gente nos comentários!


Texto traduzido e adaptado da Polygon.

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