Melhor boy da Disney!

Frozen 2 é um grande filme que se destaca por diversos motivos. Podemos falar sobre sua trilha sonora, seu feminismo singular, suas influências pagãs… Mas algo que foi pouco abordado nas análises sobre o filme é a forma como ele é capaz de apresentar um personagem masculino de maneira sensível e solidária com as mulheres ao seu redor, e como isso o torna também um herói. Sim, Kristoff, criado pelos trolls e amigo das renas, é um ótimo exemplo de masculinidade não-tóxica.

Sejamos justas, Kristoff sempre foi ótimo. No primeiro filme, ele era o perfeito contraste do vilão manipulador Hans. Ele era um tanto estranho e fechado, mas se abriu para o amor. Ele julgou corretamente as más decisões de Anna (com ele, a Disney finalmente usou a frase “não case com alguém que você acabou de conhecer“) e, no fim, ele acabou oferecendo apoio e deixou que ela fizesse aquilo que acreditava ser certo. Ele nunca tentou controlar Anna e inclusive pediu o consentimento dela antes de beijá-la. Isso é o mínimo de decência, é claro, mas é uma forma bacana de demonstrar como ele sempre foi um cara decente, principalmente levando em conta que essas coisas quase nunca aconteciam assim ou tinham esse foco nos filmes antigos de princesa da Disney.

E Kristoff não apenas continua sendo dessa maneira, como parece se esforçar ainda mais em Frozen 2.

** ALERTA DE SPOILERS DE FROZEN 2 **

A história de Kristoff na trama de Frozen 2 é sobre encontrar coragem para pedir Anna em casamento, encontrando uma forma de expressar seus sentimentos sinceramente. E isso foi bem legal.

Boa parte da ideia de masculinidade tóxica surge da noção de que homens sentirem qualquer coisa – ou expressarem esses sentimentos de qualquer forma saudável – é algo proibido.

Mas Kristoff sabe (ou pelo menos Sven, a rena, por meio de Kristoff, sabe) que não tem nada de errado em expressar seus sentimentos.

O grande número musical de Kristoff em Frozen 2, Não sei onde estou, é a única música sobre amor em todo o filme (apesar daquele vídeo breguíssimo mas super engraçado) e foi uma música divertida e uma expressão sincera de insegurança sobre um relacionamento e sobre ser abandonado.

Ele é vulnerável. E isso é exatamente o oposto de uma masculinidade tóxica. Kristoff nunca parece incomodado com o fato de que sua namorada e sua cunhada são membros da realeza ou mais poderosas do que ele, o que seria típico. Ele apenas se sente deixado de lado pela proximidade das irmãs e o foco de Anna sobre Elsa. E isso é válido.

Mas, ainda assim, ele supera isso. E quando as coisas estão ruins, e Anna retorna, Kristoff faz a pergunta mais importante para aquele momento. Não é um “onde você estava?” ou mesmo um “você está bem?” – ele confia nela o suficiente para perguntar essas coisas no momento certo. Ele apenas pergunta: “O que você precisa?”

E isso é fantástico.

Kristoff sabe que seus problemas não são os mais importantes no momento e que uma mulher forte está tomando a frente. Ele não fica irritado por não ser o herói da história. Ele sabe que é forte e que é amado, e que seus sentimentos são válidos, mas que não é tudo sobre ele naquele momento. A masculinidade tóxica faria com que fosse o oposto, mas Frozen 2 está muito à frente disso.

No final do filme, Anna aprende que ela é uma pessoa única, e que pode também ser uma poderosa líder. Essa é a evolução que ela precisava para estar pronta para dar o passo seguinte com Kristoff. No ponto central do final, ela até tenta se desculpar com Kristoff por deixá-lo para trás, e ele diz que está tudo bem:

“Meu amor não é frágil”.

E esse é o seu ponto de crescimento, e é algo importante.

Caso Kristoff fosse controlado pela masculinidade tóxica, ele ficaria chateado, ou exigiria que ela desse prioridade pra ele. Sua insegurança tomaria conta e se tornaria raiva ou agressividade, causando conflito. Mas ele não é. Ele se deixa sentir – e bota tudo pra fora em uma música, em um processo saudável – e então escolhe confiar e apoiar Anna.

Eu sei que Frozen 2 será um filme importante para muitas garotinhas, e isso me deixa muito feliz, porque amo a ideia de que essas garotas ouvirão essa mensagem na forma de “você é aquele que eu estava esperando” em vez de “um dia meu príncipe chegará”. E os garotos também precisam ouvir isso.

Garotos precisam saber que não tem nada errado em ser amoroso, em se sentir e ser vulnerável, em confiar nas pessoas, e que eles não precisam forçar ninguém a amá-los ou ceder seu poder a eles.

Frozen 2 é, afinal de contas, sobre cada um de seus personagens conseguir encontrar sua autoconfiança e independência. É sobre encontrar suas próprias forças e a segurança em si mesmo como uma pessoa. E essas são lições realmente importantes para crianças. É feminista e ao mesmo tempo a antítese daquela masculinidade tóxica que só encontra validação por meio da dominação das emoções e dos outros. Isso é maturidade. Algumas coisas nunca mudam, mas outras precisam mudar, e não tem nada de errado nisso.


Texto traduzido do TheMarySue

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