Elas continuam sendo retratadas como depravadas e isso implica o apagamento de violências e abusos que sofrem

No famoso caso judicial de Amber Heard e Johnny Depp, uma das alegações que Amber fez contra o ex-marido se referiu ao ciúme e à paranóia sobre a bissexualidade dela. Ela alega que sua paranoia e insegurança foram parte do que o tornou violento.

Independentemente do que ocorreu entre ambos, é importante refletir sobre essa alegação e sobre como ela se aplica a tantas outras pessoas.

A Pesquisa Nacional de Parceiros Íntimos e Violência Sexual (NISVS), que foi patrocinada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), compartilhou descobertas de que “mulheres bissexuais experimentam níveis mais altos de violência por parceiro íntimo do que mulheres lésbicas ou heterossexuais. Ao longo da vida, 61% das mulheres bissexuais relataram ter sido estupradas, agredidas ou perseguidas por um parceiro íntimo, em comparação com 44% das mulheres lésbicas e 35% das mulheres heterossexuais. Em contraste com mulheres lésbicas e heterossexuais, mulheres bissexuais também relatam níveis mais altos de violência grave, como ser estrangulada ou batida em algo duro”.

Uma das explicações para esse alto valor estaria ligada a suposições sobre infidelidade bissexual. A bissexualidade, embora mais normalizada agora, tem sido tratada como uma piada e uma implicação simbólica de desonestidade em muitos meios de comunicação. Infelizmente, há uma dualidade estrita (você só pode se identificar como ser hetero ou gay), de modo que ser visto como bissexual tem sido sinônimo de confuso. Então, se não estivessem “confusas”, as mulheres seriam apenas reduzidas a megeras hipersexualizadas. Três exemplos proeminentes da cultura pop disso são Drew Barrymore como Ivy (Relação Indecente), Blake Lively como Emily (Um Pequeno Favor) e Sharon Stone como Catherine Tramell (Instinto Selvagem).

Ivy, no filme, é uma adolescente femme fatale que seduz sua amiga Sylvie e o pai de Sylvie para formar a família que não tem. Ela está disposta a matar e manipular todos ao seu redor. Devemos ver Ivy como perigosa e sua promiscuidade sexual como um sinal de quão perigosa ela é.

Catherine Tramell é essa personagem adulterada, uma assassina que engana os departamentos de polícia e desvenda as piores partes do detetive Nick Curran (Michael Douglas). Vemos Nick se desligando do que resta de sua moralidade e se transformando em um estuprador violento Catherine usa sua sexualidade para obter poder e, assim como com Ivy, vemos explicitamente sua atração por mulheres.

Esse é o outro lado da moeda dessa era de femme fatales bissexuais: o olhar masculino – ou seja, as cenas prolongadas destinadas a atrair o público masculino. Outro exemplo disso é Garotas Selvagens, onde temos duas cenas de Neve Campbell e Denise Richards se beijando e depois participando de um trio com um personagem masculino.

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Um Pequeno Favor não é tão ruim, porque o tom permite que Blake Lively seja tratada como uma personagem genuinamente inteligente e envolvente. No entanto, mesmo o beijo entre Emily e Stephanie (Anna Kendrick) tem uma camada de manipulação. Além disso, a própria Emily pode ser uma versão mais suave desse tropo, mas demonstra ter a capacidade perfeita de seduzir e manipular homens e mulheres, que é essencial para a caracterização dela.

Não ajuda que todas essas mulheres sejam jovens e dentro do padrão de beleza imposto socialmente, mesmo porque isso é usado para ilustrar o quão mentirosas elas são. Aliás, em comparação, a bissexualidade masculina não é apenas menos retratada na mídia, mas muitas vezes, quando é, a mentira e a violência sexual são frequentemente retratadas ao lado dela. As coisas melhoraram lentamente, mas mesmo assim, esses estereótipos permanecem e continuam a ser usados ​​para apagar  experiências de violência e abuso.

E a coisa triste é que é realmente interessante a maneira como personagens como Emily e Catherine são capazes de manipular pessoas aparentemente mais poderosas. O ideal é que a sexualidade delas não fosse uma parte tão importante e integrante de sua vilania, porque mesmo quando esperamos que a sociedade tenha superado a visão de mulheres bissexuais como inerentemente desonestas, esse estereótipo se firma cada vez mais. No entanto, a violência que as pessoas bissexuais enfrentam ainda será amplamente ignorada em razão de sua sexualidade – que nada tem a ver com tudo isso.

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Texto traduzido e adaptado de The Mary Sue

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