Relembre a mais importante publicação brasileira dedicada ao RPG <3
Ser jogador de RPG no Brasil na década de 1990 não era algo fácil. A maior parte dos livros disponíveis estavam em inglês. Não existiam tantos blogs, tantos eventos e nem tantas fontes de informação sobre os diversos sistemas, ou dicas para a construção de aventuras, de cenários e de como interpretar os personagens. Por isso, a revista Dragão Brasil foi tão importante para os rpgistas old school. A publicação ajudou a formar mestres e jogadores e é parte importante da história do RPG em nosso país.
A publicação foi lançada em 1994 pela Editora Trama, que mais tarde passou a se chamar Editora Talismã e, posteriormente, Melody. Uma das mais conhecidas revistas dedicadas ao RPG no Brasil, a Dragão Brasil durou quase treze anos e chegou até o número 123, um feito extraordinário, praticamente nível épico, num período em que as publicações do segmento mal passavam da terceira ou quarta edição.
Cenário de campanha
No começo da 1990, o mercado de produtos relacionados ao RPG no Brasil estava em expansão. A Abril Jovem estava publicando as primeiras traduções dos principais jogos da TSR (atual Wizard of The Coast): Advanced Dungeons and Dragons e Hero Quest. A Devir estava lançando Vampiro – A Máscara e Lobisomem – O Apocalipse e Gurps em português, e já tinha gente jogando o RPG nacional O Desafio dos Bandeirantes .
A partir dos anos 2000, a coisa ficou feia. Com a queda das vendas dos jogos de RPG, a revista tentou se reinventar, trocou de editores, mas não conseguiu sobreviver. Em agosto de 2007, as máquinas foram paradas, os dados e fichas recolhidas e a Dragão Brasil encerrou suas atividades, deixando saudades e polêmicas.
Background
A revista chegou às bancas como Dragon. Mas para desfazer qualquer possível relação com a Dragon Magazine, famosa publicação norte-americana de RPG, a revista foi logo renomeada como Dragão Brasil. A Dragon chegou a ter uma versão nacional publicada pela Abril Jovem, mas não durou muito. Algum tempo depois, a própria Editora Abril já anunciava seus produtos na Dragão Brasil. Nesta época, entraram para a equipe J. M. Trevisan e Rogério Saladino (ex-editor da Dragon Magazine), que juntamente com Marcelo Cassaro, formaram o trio de editores que fez história na Dragão Brasil.
Habilidades e atributos
A Dragão Brasil fez muito sucesso nos primeiros anos da publicação e até lançou, em seu aniversário de 50ª edição, o cenário próprio medieval, Tormenta , baseado no D20 System. Tormenta é até hoje um dos mais bem sucedidos cenários nacionais.
Além de matérias e adaptações de RPG, a revista trazia contos de fantasia, ficção científica e histórias em quadrinhos. A Dragão Brasil também divulgou o trabalho de grandes ilustradores nacionais, como André Valle (não achamos link), André Vazzios e Evandro Gregório (não achamos link), por exemplo, além das ilustrações e quadrinhos de Marcelo Cassaro.
Vantagens e defeitos
Entre o final dos anos 1990 e início de 2000, a publicação lançou uma série de adaptações de famosos animes. Neste período foi lançado um dos mais divertidos e zoados RPGs com esta temática: Defensores de Tóquio. Conhecido pela simplicidade, flexibilidade e total falta de realismo, o sistema tornou-se popular em sua terceira versão, conhecida como 3D&T quando passou a ser genérico, isto é, utilizável para qualquer ambientação desde que tenha alguma semelhança com animes.
Porém, a Dragão Brasil começou a ser criticada pelos leitores por dar bastante foco a seus próprios cenários e projetos. Os rpgistas veteranos diziam se sentirem abandonados pela revista, por dar mais espaço ao anime que aos RPGs tradicionais.
Pontos de dano
Em 2004, J. M. Trevisan, Rogério Saladino e Marcelo Cassaro deixaram a Dragão Brasil, devido à desacordos com a editora, queda nas vendas, além do fracasso de vários produtos derivados da revista. A editora, agora chamada Talismã, contratou uma nova equipe formada por membros da Rede RPG, maior portal de role playing game do país, mas sem experiência no mercado editorial.
A Dragão Brasil passou por uma série de mudanças, até mesmo com a inclusão de material próprio, mas a baixa vendagem da revista não se alterou. Depois de apenas nove edições, a recém chegada equipe deixou a revista, devido à recusa da editora em manter a nova linha editorial.
Mesmo com novo editor, em fevereiro de 2007, a revista continuou sofrendo atrasos e com baixa vendagem. Por fim, em agosto de 2007, a última edição da Dragão Brasil chegou as bancas, encerrando melancolicamente a publicação dedicada ao RPG.
Pontos de Experiência
A revista Dragão Brasil foi muito importante para jogadores de RPG que, assim como eu, começaram a se aventurar por masmorras, naves espaciais ou mundos sombrios na década de 1990. Foi responsável formar jogadores e mestres com dicas de narração, de criação de personagens e ainda aventuras prontas e cenários nacionais para os principais jogos daquela época – D&D, Gurps, Mundo das Trevas, entre outros.
Além de divulgar o RPG propriamente dito, a publicação também deu maior visibilidade para literatura fantástica, de terror e até mesmo quadrinhos. A Dragão Brasil também lançou vários sistemas próprios por um preço acessível, num período em que os mais populares RPGs custavam entre 40 e 70 reais.
Se você quiser conhecer a revista que ajudou a escrever a história do RPG no Brasil, é possível encontrar na internet digitalizações de todas as edições.
Jornalista, Especialista em Gestão da Comunicação e Mestra em Análise do Discurso. Rpgista de longa data, trekker (Vida longa e próspera!) e whovian (Allons-y!)… Gosto da natureza, de literatura, HQs, cinema, séries de TV, rpg, board games, de música boa (rock and roll) e de nerdices em geral! Adoro preparar quitutes e receber os amigos. Insisto em ser feliz e sou altamente convivível! E amo o Leo – o maridão e personal-particular-chef!!!