Hora de falar sobre mulheres chutando traseiros!!!

Ainda hoje é bastante raro encontrar personagens femininas protagonizando filmes dos principais gêneros, e apesar de Mulher Maravilha ter sido ma-ra-vi-lho-so, As Caça Fantasmas estão ai para provar que o protagonismo feminino ainda é alvo de controvérsia. Por diversas vezes, personagens femininas acabam se tornando ajudantes, donzelas, objetos sexuais ou figuras estereotipadas. Parece que a cada dia, surge uma nova estatística para demonstrar como as mulheres são sub-representadas em Hollywood, e que, apesar de as coisas aparentarem melhorar aos poucos, ainda há um gigantesco caminho a trilhar. Apesar disso, enquanto esperamos Hollywood dar um jeito nisso, vale a pena celebrar um gênero em que podemos encontrar vários exemplos de protagonistas fortes e incríveis, que lideraram filmes por décadas: Artes Marciais!

Aqui estão dez das melhores heroínas do gênero, que obviamente não são as únicas, e esperamos que vocês possam colaborar com a expansão dessa lista! Cynthia Rothrock, Michelle Yeoh, entre outras, que merecem ser saudadas como heroínas em filmes de artes marciais!

Andorinha Dourada – Golden Swallow (interpretada por Cheng Pei-Pei em O Grande Mestre Beberrão, 1966)

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Não existe outra forma de começar essa lista. O Grande Mestre Beberrão é um dos principais filmes do gênero, e não apenas um clássico, mas um estrelado por uma protagonista feminina. Andorinha Dourada é a filha de um governador local, que tem seu irmão sequestrado (em uma excelente inversão do papel de donzela em perigo) pelos vilões Tigre do Rosto de Jade (Jade-face Tiger) e Tigre Sorridente (Smiling Tiger) e cabe a ela salvar o dia. Talvez o filme seja tão ópera chinesa quanto filme de kung fu (graças as músicas, cortesia do mendigo Gato Bêbado). Os diálogos são poéticos e a coreografia graciosa, com Pei-Pei (que é dançarina, e não lutadora de artes marciais) arrasando.

Disfarçada de homem durante a primeira metade do filme, ela revela sua identidade verdadeira e se vinga dos bandidos com um verdadeiro exército de mulheres em um catártico momento de graça explodindo sob pressão. Chang Pei-Pei voltou a encarnar a Andorinha Dourada dois anos depois, em Andorinha Dourada – A Garota com o Chute de Trovão (Golden Swallow), se você quiser mais da heroína!

Jade (interpretada por Maggie Cheung em “New Dragon Gate Inn”, 1992)

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Esse filme é uma reinvenção dessa história clássica wuxia (gênero chinês que mistura artes marciais com enredos medievais) pelo diretor Tsui Hark. Nele, capangas de um déspota eunuco (Donnie Yen) e um grupo de rebeldes em fuga acabam presos em uma pousada juntos durante uma tempestade. O local é um antro de profanidade dirigido por Jade, uma mulher que não tem medo de matar seus hóspedes, roubá-los e servir seus pedaços aos porcos.

Apesar de não ser tecnicamente uma heroína, Jade também não é uma vilã, e as suas mudanças de fidelidade e comportamento egoísta a tornam a personagem mais interessante de toda a história, além de ser absolutamente importante para a trama. Ela é muito mais do que uma personagem de alívio cômico do que aparenta ser. Além disso, na cena da luta final (uma das mais sangrentas de todos os tempos), enquanto Donnie Yen parte para cima de todos os sobreviventes, Maggie Cheung, apesar de não ter formação em artes marciais, é impecável na coreografia e tem um desempenho intenso. É difícil não se apaixonar pela Jade, por mais perigoso que isso possa ser.

Koda (interpretada por Yuka Mizuno em Heróis do Leste, 1978)

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Esse clássico de Lau Kar-Leung é quase uma comédia de artes marciais, e um ótimo filme para novatos no gênero. Tecnicamente, o protagonista da história é Ho Tao (Gordon Liu), um artista marcial que entrou em um casamento arranjado com uma garota japonesa chamada Yumiko Koda… Mas é Koda que rouba a cena durante o filme. Após o casamento, os pombinhos entram em discussões bem quentes sobre qual tipo de arte marcial seria o melhor, chinês ou japonês. “Armas são um lixo”, diz ele. “Seu estilo de oito riscos parece a dança de uma garotinha”, responde ela. A melhor parte da cena é a forma como as palavras vão escalando para os punhos, chutes, espadas e lanças.

As coisas só pioram quando Koda revela ser uma ninja de verdade e seu namorado de infância resolve que quer ela de volta. Será que Ho Tao vai conseguir deixar de lado seu preconceito e salvar seu casamento ou Koda encontrará o amor nos braços de seu amigo ninja, adepto ao letal estilo do “caranguejo”? Só assistindo Heróis do Oeste você pode descobrir. Mas já fica um aviso: Koda vai roubar seu coração.

Mulher Lobo – Wolf Woman (interpretada por Pearl Cheung em “Wolf Devil Woman”, 1981)

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Pearl Cheung é provavelmente a mais desconhecida autora feminina, mas o seu trabalho é essencial para qualquer fã do cinema psicotônico. Apesar de ter estrelado uma boa quantidade de filmes clássicos “grindhouse” (estilo de filme que explora temas chocantes, como sexo, gore, nudez e violência) taiwaneses, ela também escreveu, dirigiu e estrelou vários filmes wuxia de baixo orçamento antes de sumir da vida pública no meio dos anos 80. O mais ousado desses trabalhos foi “Wolf Devil Woman”, uma adaptação inacreditável de “Baifa Monü Zhuan” (mesmo livro que inspirou “The Bride With White Hair”).

Cheung interpreta uma personagem sem nome, que foi deixada para morrer na neve quando era criança no dia em que seus pais foram mortos pelo tirano conhecido como “Demônio Azul”. Ela então é resgatada e criada por uma matilha de lobos mágicos que a trata como uma deles. Após crescer, ela utiliza uma capa de pelos magnífica, acreditando ser uma loba também. Com a ajuda de um nobre que se apaixona por ela (e tenta ensiná-la a viver em sociedade), eles vão atrás do Demônio Azul para salvar sua terra.

É impossível escrever em um texto curto os motivos pelos quais Wolf Devil Woman é maravilhoso e estranho, mas o centro disso tudo é Pearl Cheung, cujo entusiasmo fantástico, imaginação sem limites e a palhaçada desinibida tornam tudo mais interessante. Ela não tem vergonha de correr de quatro, rosnando, latindo e resmungando. Sua fisicalidade invoca clássicos da comédia muda. Ela é selvagem, violenta e ao mesmo tempo, capaz de salvar todo mundo com seu coração puro e magia lupina. Sinceramente, ela é foda.

Wu Siu-Wai (interpretada por Elsa Yeung em “Challenge Of The Lady Ninja”, 1983)

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Elsa Yeung não poderia deixar de entrar nessa lista, já que ela interpretou tantos personagens ninjas, passando por sofrimento por causa de sua arte e raramente recebendo o reconhecimento que merecia. Diferente dos outros filmes na lista, “Challenge of The Lady Ninja” talvez seja o mais problemático, por conta da objetificação das mulheres (não há nudez, mas sim um excesso de lycra que te permite conhecer mais do que esperava até o fim do filme). Apesar disso, Yeung é fantástica e sua personagem é ótima.

A trama se passa nos anos 40 e Wu Siu-Wai foi levada de sua terra natal (China) há 17 anos para treinar como ninja. Após dominar a arte da ilusão ninja e o deslocamento mágico, ela recebe uma insígnia especial de ninja e é nomeada a primeira ninja mulher. “O Kung fu não conhece fronteiras”, diz o seu mestre orgulhosamente (misturando suas artes marciais), antes de soltar a bomba que o pai da protagonista morreu. Devastada, Siu-Wai retorna a uma Xangai ocupada por japoneses e descobre que sei pai não morreu, mas sim foi assassinado por Lee Tung, seu noivo (um homem tão mau que a marcha imperial de Star Wars toca sempre que ele entra em cena, de verdade). Siu-Wai jura vingança contra seu antigo amor e forma um grupo de guerreiras para derrubá-lo. “Qualquer coisa que um homem possa fazer, mulheres também podem… e muitas vezes, ainda melhor!”, ela declara. E o resto, é história de ninjas.

“Challenge Of The Lady Ninja” é uma típica história trash taiwanesa. É um pouco boba, fraquinha, mas completamente louca. Mas Yeung realmente se dedica em sua performance, e eu gosto de pensar que isso aconteceu porque ela sabia a responsabilidade que seria liderar as ninjas mulheres de todo o mundo.

Louca como uma Abelha – Crazy Like A Bee (interpretada por Lu Yi-Chan em “Ninja 8: The Warriors of Fire” ou “Queen Bee”, 1988/1981)

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“Ninja 8: The Warriors Of Fire” é um filme de ninja da Filmark, o que quer dizer que se trata de um apanhado de cenas cortadas de outro filme, com algumas cenas novas de ninja e uma redublagem que gera uma história nova. A fonte no caso é o filme “Queen Bee” de 1981 e que integra a loucura ninja da Filmark surpreendentemente bem.

Na nova história, a máfia ninja (como de costume) acaba perseguindo um misterioso “blueprint confidencial” com um par de veteranos do Vietnam – Victor e Robin – estando no centro disso tudo. Quando a noiva de Robin é morta pelo Império Ninja Negro, sua irmã Jenny entra em ação. Ela treina com o Império Ninja Branco e recebe o “nome ninja” de “Louca como uma abelha” antes de sair para matar. E convenhamos, o filme original “queen bee” pode ser uma trama de vingança sombria e recheada de neon, mas ninguém jamais recebeu o nome de “Louca como uma Abelha”, o que faz o remake ser uma versão superior.

O filme tem várias cenas histericamente divertidas (incluindo uma cena em que um vilão grita seu nome “LOOOOUCA COMO UMA ABEEEELHA!!!” furiosamente enquanto morre), mas Lu Yi-Chan é uma das estrelas mais subestimadas de uma era, e sua atuação fumegante transcende o plano material e torna “Louca como uma Abelha” uma das mais perigosas e mais legais ninjas do filme.

Inspetora Cindy (interpretada por Cynthia Rothrock em quase todos seus filmes nessa época, 1985 – 1989)

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A lendária Cynthia Rothrock estreou nas telonas no filme Justiça em Dose Dupla (1985) e o público de Hong Kong se tornou louco por ela. Nesse filme, ela interpretou a inspetora Cindy – uma policial sem noção, altamente treinada em artes marciais, que foi transferida para a polícia de Hong Kong para impedir que um trio de criminosos fugisse com um microfilme sigiloso. E a maior prova do sucesso da personagem vem do fato que por cerca de quatro anos, todas as suas personagens foram nomeadas Cindy, e pasmem, eram policiais sem noção altamente treinadas em artes marciais.

Desde a grande obra de ação “Zhi fa xian feng” até a idiotice juvenil de “Miao tan shuang long”, a inspetora Cindy foi trazida de volta a vida por diversas vezes, a fim de manter os bandidos na linha e a audiência entretida. E é claro que o que fez a personagem funcionar – mesmo sem qualquer continuidade entre os scripts – foi o fato de que Rothrock estava basicamente interpretando ela mesma. Era o seu senso de humor (com um timing impecável), a voz em tom estridente e um sorriso capaz de desarmar qualquer um que a tornaram na fenomenal máquina de chutes em forma de mulher.
Ao deixarem Rothrock – uma artista marcial que se garante contra qualquer adversário – apenas fazer seu trabalho sendo ela mesma, os produtores deram a audiência exatamente o que ela queria, criando uma personagem digna dos livros de história. (É importante mencionar que China O’Brien foi outra personagem fantástica interpretada por ela posteriormente, mas já escrevemos bastante sobre ela.)

Cheng Tai-Nan, vulga “Tia” (interpretada por Kara Hui em “My Young Auntie”, 1981)

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Quando o patriarca ancião da família Yu descobre que está próximo de sua morte, ele se nega a deixar a residência da família para o corrupto (e próximo na linha de sucessão) Terceiro Tio. Em vez disso, ele resolve casar com a jovem serva Cheng Tai-Nan e instruí-la até sua morte, a entregar a sua herança ao seu filho distante Jing-Chuen (interpretado pelo diretor Lau Ker-Leung). Apesar disso, Cheng (ou “Tia”, como é conhecida a partir de então) descobre que não apenas o Terceiro Tio está perseguindo a ambos em busca do dinheiro, mas também como se ajustar a um estilo de vida urbano é difícil para quem viveu uma vida no campo.

Sendo um filme de Lau Kar-Leung, o filme conta com muitas cenas incríveis de kung fu enquanto Tia demonstra seu treinamento em artes marciais, mas o filme também é bastante engraçado. Talvez o momento mais icônico seja uma cena ao estilo “Uma Linda Mulher” em que Tia chega a cidade e é humilhada por ajudantes de lojas por ser uma “caipira”, reagindo com um maço de dinheiro para comprar o vestido mais caro da loja. É uma cena divertida porque ao perceber que não sabia andar de salto e que estaria usando um vestido muito mais “revelador” do que está acostumada, ela acaba em uma luta que intercala cenas de chutes e saltos com a proteção de sua “modéstia”. O resultado é uma combinação de comédia, coreografia e do brilho de Hui. Mas faça o que fizer, Cheng Tai-Nan é uma doce e poderosa personagem que você nunca esquecerá.

Shu Lin (interpretada por Michelle Yeoh em O Tigre e o Dragão, 2000)

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É difícil escolher apenas um entre os diversos personagens inesquecíveis de Michelle Yeoh, mas é difícil negar a Shu Lin a sua relevância. Como uma heroína no aclamado (e vencedor de diversos prêmios, incluindo quatro Oscars) wuzia de Ang Lee, Shu Lin é uma guerreira andarilha, altamente treinada nas artes Wudang. Não apenas ela chuta muitos traseiros com seus punhos, pés e espadas (apesar da melhor arma ter sido a machete que ela chega a usar), ela representa muito mais do que violência.

O filme é explora profundamente o papel de uma mulher na sociedade chinesa do século XIX. Shu Lin, ao afastar as amarras daquela expectativa social ao se tornar uma guerreira, dedicada a sua própria liberdade, ainda se encontra presa por um desejo proibido por seu falecido amante e irmão de artes marciais (Chow Yun Fat). Sua batalha emocional é tão intensa quanto às suas físicas, e Yeoh tem a melhor performance de sua carreira, trazendo esse turbilhão à vida.

Zen (interpretada por JeeJa Yanin em “Chocolate”, 2008)

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O filme Chocolate, de Prachya Pinkaew (não confundir com o romance de 2000) é facilmente considerado um dos mais estranhos entre os filmes modernos de artes marciais, mas de alguma forma acabou dando certo. JeeJa Yanin intepreta Zen, uma garota autista que tentava juntar dinheiro para a quimioterapia de sua mãe, mas acabou se envolvendo em uma guerra de gangues (é uma longa história).

Apesar de ser pouco ajustada socialmente e de sua estatura, Zen aprendeu artes marciais copiando o que via em filmes e sua memória fotográfica de alguma forma a tornou uma mestra. A ultra violência corre solta. Zen é uma personagem única, com uma condição mental que não costuma ser explorada nesse tipo de filme, que inclusive é cheio de toques de comédia. As habilidades sobre-humanas em Muay Thai, porém, transformam Zen em uma personagem especial. As lutas em Chocolate são algumas das mais brutais já vistas em filmes, e feitas para impressionar sobre o quão criativos os cenários podem ser.

Se você quer ver uma mulher poderosa dar uma surra em todo mundo que vê pela frente, poucos são os filmes que entregam uma experiência tão satisfatória e sem noção quanto Chocolate. É impressionante!

É isso! Esperamos que vocês apreciem os filmes porque eles são todos ótimos!


Fonte: DenOfGeek

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