Ver “Grace and Frankie”, uma das séries mais recentes da Netflix que tem como protagonistas Lily Tomlin, de 75 anos, e Jane Fonda, 77, fez minha cabeça girar a mil!
Na série, Grace (Fonda) e Frankie (Tomlin) falam cada vez mais abertamente sobre assuntos tabus na sociedade, como sexo, lubrificantes vaginais (falam disso tão facilmente quanto como você discute seu café da manhã) e FAZEM sexo (embora não uma com a outra) – coisas que você não exatamente espera de uma pessoa com idade avançada.
A história, pra quem ainda não conhece, é a seguinte: Grace, casada por 40 anos com Robert (Martin Sheen) e Frankie, casada por 40 anos com o Sol (Sam Waterston), são frenemies, ou seja, pessoas que são relativamente amigáveis apesar do claro desgosto que sentem umas com as outras. Se deixadas sozinhas, jamais se dariam bem. E elas são forçados a socializar entre si porque Robert e Sol são parceiros de um escritório de advocacia. Certa noite ao jantar, Robert e Sol entregam um segredo como um soco: durante 20 anos, eles foram amantes e agora esse casamento do mesmo sexo é legal na Califórnia, então eles vão deixá-las e se casar. Grace e Frankie, chocadas, lentamente superaram seu desgosto mútuo uma para a outra e acabam se tornaram BFFs, daquelas amigas tão fofas que você sente até inveja. E olha, a Tomlin, a Fonda, o Sheen e o Waterston são atores tão fantásticos que vê-los recitando listas de compras ainda seria espetacular.
Grace e Frankie é uma série maravilhosa, com um humor super leve e aconchegante – além de ser algo super importante pra nossa realidade atual porque dá visibilidade a atores e personagens mais velhos, heterossexuais e queers. Pessoas com mais de 65 anos são apenas mais de 14% da população nos Estados Unidos, de acordo com o Departamento de Censo dos EUA. No entanto, os idosos raramente são vistos nas telas como qualquer coisa além de “idosos mal-humorados” e outros estereótipos comuns pra idade. Além disso, há cerca de 1,5 milhão de idosos gays, lésbicas e bissexuais nos EUA hoje. É provável que o número aumente até 2030, de acordo com os Serviços e Advocacia para idosos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (SAGE). No entanto, tem havido poucas retratações em filmes de pessoas LGBT mais velhas saindo do armário, fazendo sexo, curtindo romance – muito menos casando.
Logo, é um prazer enorme assistir Tomlin, Fonda, Sheen e Waterston habitando seus personagens em “Grace e Frankie”. É difícil acreditar que qualquer um, não importa sua idade, não os acharia atraentes. Os personagens são todos tão carismáticos que não tem como não se afeiçoar a eles durante a história e começar a rever muito sobre o que você achava da vida idosa e de direitos fundamentais humanos, especialmente os direitos das mulheres idosas e de pessoas fora do caminho estreito da heterossexualidade. A maneira como Grace e Frankie lidam com os aspectos de seus antigos casamentos e a nova vida que terão a partir disso é simplesmente emocionante.
Além de claro, ser super divertido e tocante ver Grace e Frankie lutarem para se tornar visíveis em um mundo que muitas vezes não vê pessoas com mais de 50 anos.
“Grace e Frankie” já tem a terceira temporada. Confira! Ela envelhece super bem <3
via Washingtonblade
Débora é musicista, professora de artes, pesquisadora de sociologia de gênero. Autoproclamada otaku-não-fedida e gamer casual. A alcunha de Liao veio de um site aleatório de geração de nomes japoneses (Liao é chinês, mas tudo bem).
