Do preconceito à conquista de massas, o livro aborda toda a VERDADEIRA história da FC 🙂

Por muito tempo, o gênero ficção científica (FC) foi menosprezado pelos críticos e pelo próprio mundo acadêmico. Mas nas últimas décadas presenciamos uma verdadeira mudança na situação, já que a FC é cada vez mais comum nas artes visuais (cinema, HQs, videogames) e acabou se tornando o gênero narrativo mais característico desta época.

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Mas de onde veio a FC? Qual é sua verdadeira origem? Como ela se popularizou? Adam Roberts apresenta uma proposta totalmente diferenciadas sobre o gênero na obra A Verdadeira História da Ficção Científica: do Preconceito à Conquista das Massas, trazendo uma nova perspectiva para o desenvolvimento do gênero literário através de uma definição historicizada, mesclando a magia sacramental católica e o humanismo científico protestante.

A origem

O primeiro capítulo do livro é inteiramente dedicado a apresentar diversas teorias de estudiosos sobre a origem da FC, como Karl Popper, Bertrand Russell e Bernard Stiegler – entre muitas outras referências, já que o final de cada capítulo é recheado de notas e referências bibliográficas!

Desde este capítulo vemos que diferente da maioria dos experts no assunto, que apontam o início da FC entre os séculos XIX e XX, Adam Roberts nos ensina como o nascimento do gênero literário se deu muito anteriormente, na Grécia Antiga, já que as novelas da época envolviam elementos fantásticos.

Ele aponta, imediatamente, que a FC acabou sendo passada para trás, e deixada totalmente de lado, por conta da grande influência da Igreja Católica, especialmente cultural. Entretanto, acaba ressurgindo em meados do século XVI com a Reforma Protestante.

De início, parece um pouco absurdo para nós que a Reforma Protestante possa, de alguma forma, ter influenciado [positivamente] na produção literária, especialmente quando falamos em ficção científica. Isso porque existem definições diversas do gênero literário. Nas palavras de Adam Roberts:

A ficção tecnológica é com extrema frequência encarada precisamente como a narrativa insossa, centrada em engenhocas, que eu digo aqui que ela não deveria ser: histórias de FC hard – ficção mecânica ou cosmológica sobre espaçonaves, armas , próteses ou o universo como a física hoje em dia o entende, onde se aplica em regra férrea da verdade cosmológica. A FC soft, por outro lado, ganha mais liberdade de movimento dos leitores. O que não fica evidente de imediato é porque, por uma estranha lógica, a ficção techno vai cedendo a essa verdade absoluta não testada e, em essência, platônica, enquanto a ficção científica se vê capaz de explorar as possibilidades imaginativas do pensamento humano sem os entraves dessa preocupação. (…) vejo a FC moderna surgir na clivagem, falando de modo geral, de visões de mundo fictícias católicas e protestantes – uma separação que dato de cerca da entrada do século XVII.

Roberts explica, pouco a pouco, a relação da FC com as primeiras novelas, com o romance medieval – retirando, aqui, aquele estigma de que a ficção científica está necessariamente ligada à ciência como a conhecemos hoje (química, física, biologia) -, com as utopias do século XVI, com a reforma protestante e revolução Copernicana e, finalmente, do renascimento da FC no século XVII e o boom da ciência no século XVIII.

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A contemporaneidade

Finalmente, Roberts chega aos séculos XIX e XX, período este apontado com frequência por críticos como a verdadeira origem do gênero literário.

Segundo o autor, isto ocorre porque os avanços tecnológicos nesta época foram grandes e rápidos (basta você lembrar de sua infância, quando a internet era discada e precisava desligá-la para que alguém pudesse usar o telefone, e nos dias atuais, com o seu smartphone com tecnologia 4G), e tal mudança teve um grande reflexo na literatura, principalmente com as novas perspectivas do futuro – explicando a grande quantidade de obras futuristas que vemos atualmente.

É claro que falando em século XIX estamos nos referindo a Mary Shelley e a obra Frankenstein, além de Júlio Verne com Viagem ao Centro da Terra A Volta ao Mundo em 80 Dias e de H. G. Wells (A Máquina do Tempo A Guerra dos Mundos).

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Já o início do século XX foi marcado pela Era de Ouro (1940-1960) e pela New Wave (1960-1970), período em que temos os grandes clássicos tecnológicos: Eu, Robô (Isaac Asimov), 2001: uma Odisseia no Espaço (Arthur C. Clarke), O Senhor dos Anéis (J.R.R. Tolkien), Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), 1984 (George Orwell) e Laranja Mecânica (Anthony Burgess). Também há muita ênfase nas revistas Pulp.

Adam Roberts disserta sobre como o maior “contato” da população com as histórias são através do cinema e da televisão (e das tecnologias que eles foram desenvolvendo ao longo do tempo). Aqui, exatamente neste momento, falamos sobre Star Wars (1977), a revolucionária obra da época.

É interessante, também, como Roberts se refere à influência da ficção científica em outras áreas além da literatura e dos filmes: a pintura, a escultura, e a música, enfatizando as obras do famoso artista David Bowie.

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Adam Roberts nos mostra como a FC se sobressai no século XXI, principalmente porque a a cultura jovem (também conhecida como Young Adult) domina a criação artística, razão pela qual as grandes obras como Harry Potter (J. K. Rowling), Crepúsculo (Stephanie Meyer) e Jogos Vorazes (Suzanne Collins) popularizaram o gênero.

Vemos, aqui, a importância desta popularização e o reflexo da disseminação do gênero da FC dentro da sociedade, especialmente porque este gênero sempre foi associado a um certo público-alvo e hoje vemos um público mais diverso 🙂

Conclusões

A Verdadeira História da Ficção Científica definitivamente me surpreendeu, revelando-se como uma VERDADEIRA aula sobre o gênero literário, desenvolvendo uma análise bem crítica através de fatores históricos, sociológicos e filosóficos e nos revelando uma forma diferenciada de encarar o gênero, tão cheio de preconceitos e estigmas.

Adam Roberts nos oferece a oportunidade de vermos de perto como as obras são atemporais e marcam todas as gerações através de uma reflexão profunda dos fatores que caracterizam a ficção científica e da análise de sua origem, usando de uma linguagem técnica e acessível, demonstrando, assim, como o genêro se tornou o modo de expressão cultural mais influente dos últimos tempos.

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