TW: alguns temas desse livro podem desencadear fortes reações
Desde a metade da faculdade de jornalismo, tomei a decisão de ler quantos livros reportagens eu pudesse. Em janeiro conheci o livro A Casa do Céu, publicado pela editora Novo Conceito, que conta a história real da jornalista Amanda Lindhout, sequestrada na Somália em 2008 e mantida em cativeiro por 460 dias.
Amanda cresceu em um lar conturbado, vendo sua mãe sofrer agressões e violência doméstica. Refugiava-se entre as páginas da National Geographic sonhando em um dia explorar o mundo. Quando completou 19 anos, começou a trabalhar como garçonete para juntar dinheiro e ir viajar, repetindo o ciclo para embarcar como mochileira por vários destinos.
Em suas andanças conhecia fotógrafos e jornalistas que eventualmente trabalhavam como freelancer. Interessada pela carreira, Amanda passa a buscar contatos com o meio e consegue seus primeiros trabalhos no Afeganistão e Iraque e em seguida seguiu como repórter para a Somália, considerado o país mais perigoso do mundo, com um fotógrafo.
No quarto dia da sua estadia no local, ambos foram sequestrados.
A ameaça quase sempre era invisível. Poderia ser qualquer coisa. definia tudo o que existia, perseguia todos, fazia as glândulas adrenais pulsarem e borbulharem. A ameaça eram aranhas solífugas sibilantes, grandes como um prato de sobremesa. Eram os projéteis luminosos que riscavam o céu à noite, os e-mails com más notícias que chegavam do país natal, a calmaria inquietante em uma estrada. Era qualquer coisa que, dentro ou fora da cerca de alambrado, pudesse se transformar em um desastre.
A jornalista passa por um inferno na Terra para sobreviver aos dias em cativeiro. É interessante, ainda que extremamente triste, acompanhar seu raciocínio, sua conversão ao islamismo como tática de sobrevivência, sua tentativa de fuga e as agressões que sofre.
É curioso descobrir o que se passa na mente de grupos terroristas, especialmente dos membros tão novos, até mesmo acompanhar a diferença do tratamento para homem e mulher se torna importante. O outro lado também é intrigante: como o governo lida com esses tipos de sequestro e a exigência de um valor muito alto para resgate.
Acima disso tudo, acompanhar o relato de Amanda e sentir seu poder de resiliência é incrível. Como ela perdoa e se livra de qualquer sentimento ruim sobre seus sequestradores e, especialmente, sua jornada para se recuperar do trauma e sua capacidade de transformar tudo isso em um projeto incrível para mulheres somalianas é impressionante.
A Casa Do Céu é um livro que me marcou muito e que eu sempre recomendarei, apesar de, claro, com um alerta: esteja preparado para as cenas fortes e impressionantes, esteja preparado para não parar de pensar nem por um segundo que tudo foi nada mais do que real. E que o que aconteceu com Amanda acontece com muito mais frequência do que imaginamos.
Certa tarde, eu estava em uma reunião com Nellius e Farhiya, que formavam o corpo docente da escola, em uma pequena sala no centro comunitário que alugamos para ser o nosso espaço inicial. Junto com o diretor de programas da GEF, nós começamos a discutir ideias para o nome da escola, escrevendo várias opções com giz em um enorme quadro-negro.
Uma única possibilidade surgiu entre todas as outras, e uma das mulheres a circulou com giz branco. Rajo foi o nome que escolhemos para a escola. É a palavra que, no idioma somaliano, significa esperança. E todos nós concordamos que a esperança é a melhor coisa do mundo.
Para quem quiser saber mais e desfrutar de um trecho do livro, clique aqui.
Jornalista recém formada, blogueira de raiz, escritora de faz de conta e boa leitora. Considera pecado dizer não a um chocolate e a uma compra de livros. Gosta da cultura latina e tem uma parede de cartões-postais.