Answer the Call gerou mais dinheiro do que Afterlife, e ainda assim foi considerado um flop. Eu me pergunto por quê.

No mês passado, Ghostbusters: Afterlife (em português traduzido para Caça-Fantasmas: Mais Além ou Ghostbusters – Mais Além), do diretor Jason Reitman, chegou aos cinemas, conquistando uma estreia de bilheteria de U$44 milhões (agora U$74 milhões) e primeiro lugar nos cinemas norte-americanos. Foi uma inauguração sólida, dada a pandemia e tudo mais. E apesar de uma avaliação menos do que entusiástica de 63% da crítica especializada no Rotten Tomatoes, os fãs estão adorando o filme, dando a ele uma pontuação de público com o total de 95%.

Eu vi Mais Além, e como um fã de Ghostbusters de longa data, me diverti muito: o filme foi engraçado, sincero e entregou toda a nostalgia calorosa e difusa que os fãs querem da série.

Mas não posso deixar de ficar frustrada com o quão diferente a narrativa ao redor de Mais Além é da que ocorreu em Ghostbusters (Caça-Fantasmas – Answer the Call), liderada por mulheres em 2016.

Answer the Call foi inundado com más avaliações da imprensa e fãs tóxicos que começaram a tentar acabar com a reputação do filme mesmo durante sua produção. Depois que esses fãs viram que o filme seria centrado em quatro mulheres caçadoras de fantasmas, interpretadas por Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie Jones e Kate McKinnon, os homens furiosos da internet se mobilizaram para fazer bomb-reviews, desde os dislikes nos trailers postados no YouTube até inundar o Rotten Tomatoes com críticas negativas, antes mesmo da data de lançamento do filme. Houve também alguns ataques online extremamente racistas dirigidos a Leslie Jones, que o estúdio responsável pelo filme pouco fez para resolver.

‘Ghostbusters’ é o trailer de filme com mais dislikes na história do YouTube

Graças à imprensa implacavelmente negativa, Answer the Call foi considerado morto antes mesmo do seu nascimento, apesar de ter ganhado U$46 milhões no fim de semana de estreia nos EUA (hoje, o filme tem um total de U$229,1 milhões em bilheteria). Mas a narrativa de bilheteria pintou o filme como um fracasso, e os planos para uma sequência foram rapidamente descartados. O The Hollywood Reporter apresentou uma manchete que dizia: “Ghostbusters está em rumos de perder US$70 milhões a mais, e uma sequência é improvável”, apesar da Sony não ter dito absolutamente nada sobre uma sequência desde o primeiro momento.

Em contraste, o título do THR para Afterlife foi “‘Ghostbusters: Afterlife’ abre bilheteria divinamente com $44 milhões”. E embora seja um bom fim de semana de abertura (durante uma pandemia, nada menos), este filme atingiu apenas metade do que outros sucessos de bilheteria como Viúva Negra, Shang-Chi e Velozes e Furiosos 9 conseguiram.

Answer the Call arrecadou $2 milhões a mais do que Mais Além no fim de semana de estreia. E recebeu uma avaliação recente de 74% dos críticos do Rotten Tomatoes (a pontuação do público é de 49%, dado o movimento online para destruir as pontuações do filme).

Há algo estranho na vizinhança mesmo, e – surpresa surpresa – é o machismo. Da campanha de ódio online ao mundo dominado pelos homens do jornalismo de entretenimento, parece que os homens em geral decidiram unilateralmente que Answer the Call seria um fracasso, e essa narrativa pegou. Alimentando essa narrativa estavam os respectivos orçamentos dos filmes: Answer the Call custou pesados ​​US$144 milhões para produzir e arrecadou, como afirmado acima, US$229 milhões em todo o mundo. Em contraste (e provavelmente devido à margem de lucro da Answer the Call), Afterlife foi feito com um orçamento mais modesto de US$75 milhões, que é algo mais fácil de se recuperar.

Answer the Call, dirigido por Paul Feig, foi criticado por misóginos furiosos que estavam putos apenas porque os caça-fantasmas originais, Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson não estavam reprisando seus papéis (o quarto ghostbuster, Harold Ramis, infelizmente faleceu em 2014).

E o discurso “arruinou minha infância” (unhé) continuou até que foi anunciado que Jason Reitman (filho do diretor dos Caça-Fantasmas, Ivan Reitman) pegaria as rédeas para o Afterlife. Com Reitman a bordo, o filme foi saudado como um retorno às raízes da amada franquia. É impossível quantificar como as diferentes respostas da imprensa e do público aos dois filmes mudaram seu resultado de bilheteria, mas sem dúvida afetou o lançamento de cada um.

O próprio Reitman atiçou as chamas do fandom, prometendo que “estavam, em todos os sentidos, tentando voltar à técnica original e devolver o filme aos fãs”. Reitman deixou implícito que os fãs de Answer the Call não eram fãs “de verdade” de Ghostbusters, o que é um insulto tanto para os fãs quanto para o filme de Feig. É uma atitude antiética e pouco profissional também.

Tanto Mais Além quanto Answer the Call são filmes sólidos e bem-vindos ao cânone dos Caça-Fantasmas, e devem ser tratados como tal. Mais Além ainda tem sua própria protagonista feminina icônica na fenomenal Phoebe de Mckenna Grace. Depois de deixar o cinema, não pude deixar de imaginar como seria uma sequência cruzada, com Jillian Holtzmann de McKinnon sendo a mentora da jovem Phoebe em ciências e na arte de caça-fantasmas.

Seria bom ver Answer the Call incorporada à mitologia da vida após a morte, em vez de ser tratada como a enteada ruiva da franquia. Deveria haver espaço para os fãs amarem os dois filmes. O que fica no final é um gosto amargo na boca com as injustiças.


Texto traduzido e adaptado do The Mary Sue, de autoria deChelsea Steiner. Imagens: Sony.

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