O filme é uma coprodução Coreia do Sul, E.U.A, França e República Tcheca.

Filmes distópicos, pós-apocalípticos e adaptações de quadrinhos para a tela grande estão dominando as salas de cinema no mundo todo. Com a vasta quantidade dessas produções no mercado é comum se deparar com obras repetitivas, superficiais, dominadas por clichês e bem pouco autenticas. Olhando para frente, parece que quase tudo já foi filmado e os filmes de ação não conseguem mais se reinventar e surpreender tanto. Porém olhando para trás, mais necessariamente para o ano de 2013, ainda é possível comprar o ticket para a viagem do Expresso do Amanhã e desfrutar de seu enredo simplista, embora metafórico e sanguinolento.

Inspirado na graphic novel francesa Le Transperceneige (O Perfuraneve em português), o Expresso do Amanhã se inicia quando num futuro próximo um experimento para impedir o aquecimento global dá errado, e uma nova era do gelo se alastra pela Terra. Os únicos sobreviventes estão a bordo de uma imenso trem autossustentável chamado Snowpiercer, ou Perfuraneve para os BR’s. Lá, os mais pobres vivem em condições miseráveis, enquanto que os ricos se comportam como reis. Até o dia em que um dos pobres resolve mudar o status quo dessa situação, descobrindo todos os segredos deste intrincado maquinário e fazendo explodir uma rebelião.

Antes da rebelião a galera do fundão passava o dia comendo goiabada!
Antes da rebelião a galera do fundão passava o dia comendo goiabada! 

Expresso do amanhã inicialmente oferece uma metáfora óbvia, mas satisfatória da vida em sociedade no século XXI. Onde os mais favorecidos financeira e intelectualmente se encontram à frente das decisões e nos vagões da frente, e os mais pobres vivem na cauda do trem de maneira desumana, comendo restos e dormindo amontoados, fazendo uma analogia visual aos campos de concentração da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. As noções de liberdade, igualdade, sociedade e revolução são fortemente influenciadas pelas ideologias francesas da HQ em que foi adaptada, no qual o trem além de personagem é também um retrato maximizado da situação social e econômica da França e dos próprios trens franceses, que são distribuídos em castas, onde pobres e ricos não se misturam. Ou seja, mesmo abordando temas e problemas universais, a obra se utiliza de elementos e referências específicos de uma localidade para englobar e retratar uma situação macro.

O diretor Jonn-Ho Bong é muito afiado nas sequências de ação criativas, chocantes e sem pudor. Uma escolha estilística influenciada pelo cinema asiático, o que faz das cenas de lutas estilizadas e brutais, um verdadeiro show para amantes de violência gráfica *o*. A trilha sonora é discreta, mas presente, mudando de heavy metal à música clássica a cada nova etapa avançada. A iluminação é bastante eficiente na trama, simulando sempre um trem em movimento e dando o tom e a cor da situação e do ambiente a cada novo vagão descoberto e adentrado pelo protagonista Capitão América Curtis Everett (Chris Evans). A fotografia é de longe o melhor elemento técnico do filme, sempre apresentando seu personagem principal numa perspectiva horizontal e lateral (da esquerda para direita) conduzindo a historia e seus componentes linearmente para  frente, corroborando a ideia de que não há mais volta; e com enquadramentos influenciados pelas animações japonesas e mangás, que transmitem efetivamente para o espectador a sensação claustrofóbica de se viver 18 anos dentro de um trem escuro e sujo.

Nem mulheres grávidas e crianças são poupadas da porrada!
Nem mulheres grávidas e crianças são poupadas da porrada! 

O filme exige do espectador um desapego de crença, realismo e das leis da física, afinal é uma mistura de ficção científica, ação, fantasia e drama, que faz referência às obras como 300, Duro de Matar, Old Boy, Matrix Reloaded e Metropolis.  Mesmo com alguns furos de roteiro, montagem por vezes ruim, e vilões um pouco caricatos, a jornada entre vagões possibilita uma experiência cinematográfica inesperada, pautada principalmente pelo rompimento estético, onde a atmosfera suja, densa e morta do vagão dos pobres, vai dando lugar a uma explosão de vida, cores e sensações das outras alas do trem. Experiência essa que parece os níveis de um jogo de videogame, mais necessariamente os estágios de Super Mario Bros, onde é preciso conduzir o Mario por ambientes variados como a fase da água, do castelo, do subterrâneo , entre outros.

Expresso do Amanhã foi produzido em 2013, mas por batalhas judiciais de produtoras e distribuidoras só pôde entrar em cartaz em 2015. O elenco, além de Chris Evans também traz Tilda Swinton, Ed Harris, John Hurt e Octavia Spencer em papéis bem executados, mas que você não deve se apegar…se é que você me entende! 😉

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