O filme é uma história real adaptada do livro Ar Rarefeito escrito por Jon Krakauer.

Filmes sobre montanhismo, escaladas e alpinistas em apuros não são nenhuma novidade no mercado cinematográfico. Numa simples busca na memória é fácil lembrar-se de obras como 127 Horas O/, Limite Vertical, K-2 A Montanha da Morte e muitos outros. Além das paisagens estonteantes, da natureza inóspita, das condições desfavoráveis e do risco iminente de morte, a motivação pessoal e o desejo de superar o meio e a si mesmo é o que, na verdade, rege a maioria dos filmes desse gênero. Contudo, há algo que diferencia Evereste (Everest) dos demais filmes de mesma temática: a abordagem de sua narrativa.

Baseado em fatos e no livro Ar Rarefeito do jornalista Jon Krakauer, Evereste narra os acontecimentos fatídicos ocorridos em maio de 1996 no Nepal. Quando um alpinista profissional e experiente, o neozelandês Rob Hall (Jason Clarke), tem a missão de guiar um heterogêneo grupo de pessoas em uma expedição ao lugar mais perigoso do mundo: o Monte Evereste. Porém, uma grande nevasca coloca a vida dele e de todos em risco. A premissa pode soar comum, e de fato há vários outros filmes inspirados nesse mesmo livro, mas Evereste vai um pouco mais além.

 

"Você quer brincar na neve?" :twisted:
“Você quer brincar na neve?”

 

Com um roteiro muito simples e às vezes pouco explorado, Evereste alfineta sutilmente o boom da comercialização, do capitalismo e do consumismo que tomou conta da montanha mais alta do planeta. Onde alpinistas carregados de motivações pessoais e de jornadas interiores, dão lugar a turistas e montanhistas inexperientes, que alguns quando questionados sobre a verdadeira razão da aventura, respondem: “A montanha está lá. Então, porque não?”. É exatamente essa falta de emoção e de sentimentalismo que dá o tom que permeia todo o longa-metragem. A narrativa não força várias situações de perigo, mas a expectativa da morte de seus personagens é latente. As fatalidades (ou você realmente achava que ninguém ia morrer?), no entanto, são retratadas com frieza, sem grandes ênfases emocionais, sem recursos de slow motion, ou músicas sentimentalistas. Outro fator importante para a narrativa é a ausência de culpabilidade, na qual os acontecimentos trágicos são resultado do poder da natureza. O perigo, afinal, foi assumido pelos personagens a partir da decisão de escalar um local inóspito. A maioria de outros filmes com a mesma temática provavelmente colocaria parte da culpa em um vilão, traidor, ou em um personagem inconsequente. Entretanto em Evereste o acaso dos fatos e a fragilidade do homem frente à imensidão do mundo é mais importante.

 

Na real, o objetivo dessa galera é tirar uma selfie lá no cume!
Na real, o objetivo dessa galera é tirar uma selfie lá no cume!

 

Com aspectos técnicos irretocáveis, que incluem uma fotografia 3D colossal e vertiginosa, e design e mixagem de som impressionantes, Evereste parece mesmo pecar na falta de ritmo e na má roteirização de diversas cenas. A consequência disso é refletida diretamente no mau desenvolvimento, unidimensionalidade e aproveitamento de seus incontáveis personagens, que mesmo com um elenco competente como Jake Gyllenhaal O/, Emily Watson, Jason Clarke e Keira Knightley, não deixam de ser por vezes confusos, dificultando o reconhecimento de quem está por trás dos grandes óculos, máscaras e trajes pesados e fechados de proteção contra o frio.

Evereste consegue imprimir um realismo cru e assustador às cenas, conseguindo captar bem o espírito hostil e congelante do ambiente. Que mesmo com perceptível esvaziamento emocional e motivacional da maioria de suas situações e personagens, utiliza-se de recursos discretos de melodrama, suspense e tensão para retratar em detalhes o drama vivido pelos alpinistas. Que embora estejam rodeados de circunstâncias perigosas e extremas de triunfos e fracassos, o eterno ideal de superação é o que verdadeiramente ecoa por entre as cordilheiras.

 

Compartilhe: