E o porquê disso ser MUITO legal.

O príncipe salva a princesa e os dois vivem felizes para sempre, certo? Bom, pelo menos é isso que acontece em boa parte dos contos de fadas. Mas por que tem que ser sempre assim? Sem ter uma boa resposta para esta pergunta, a psicóloga e escritora Janaína Leslão resolveu botar a mão na massa e fazer uma coisa completamente nova: um conto de fadas que fala sobre amor romântico entre duas mulheres.

Havia um grande castelo, e neste castelo vivia a princesa Cíntia e sua irmã Selene, muito amigas entre si, e também muito amigas do príncipe Febo, noivo da princesa Cíntia. Ao ir atrás do vestido de noiva para o casamento, ela conhece a costureira Isthar, que acaba se tornando seu verdadeiro amor. A partir daí, rola muita confusão, amor e mágica.

pna_capaAPrincesaEACostureira (1)Uma história muito bonita em sua simplicidade, porém não foi tão simples assim conseguir publicar o livro. Janaína ficou 5 anos correndo atrás de editoras apresentando o seu projeto, que foi rejeitado por ter uma temática diferente (e que não seria bem vista por uma grande parcela da população ignorante brasileira, vamos ser sinceros). Até que ela encontrou a Metanóia Editora, que aceitou publicá-lo por escrever uma nova forma de pensar.

Em seguida surge um novo desafio; Janaína precisava de um ilustrador. Ela acabou encontrando Júnior Caramez, no entanto não podia cobrir os custos. Para isso expôs o seu projeto de A Princesa e a Costureira no Catarse, e essa história acabou tendo um final muito feliz. Ela não apenas atingiu o seu objetivo de arrecadar R$4.600, como quase o triplicou. No meio do caminho, até colocou uma nova meta para também publicar sua outra história, Joana Princesa, que conta sobre um princepezinho que nasceu chamado “João”, mas que quando cresceu passou a querer ser chamado de Joana. Essa nova meta também foi atingida! \o/

Então já podemos esperar para ter uma cópia das aventuras da princesa Cíntia e Joana em nossas mãos.

joana princesa

Mas por que isso é tão legal?

Estamos em dias conturbados quando pensamos em igualdade. Qualquer tipo de igualdade. Dias em que até uma questão do ENEM causa polêmica e chega a gerar moção de repúdio (inclusive fizemos um podcast sobre isso). Dias em que ser contra a violência contra mulher é o mesmo que ser um esquerdopata. E não estou dizendo que hoje é pior do que já foi um dia. Não. Ser mulher, ou ser homossexual, ou transexual, ou negro, ou pobre, ou qualquer coisa que não se encaixe no padrão de “perfeição” nunca foi fácil (e já foi muito mais perigoso a bem da verdade). Só que com o aumento da popularidade da internet e das redes sociais, veio muita coisa boa, mas também veio uma enorme leva de pessoas que acha que deve comentar todo o tipo de coisa, sem pensar se suas palavras vão ferir alguém, se vai incitar a violência, ou sem pensar de forma alguma, porque muitos desses comentários não fazem nem sentido. E com isso pudemos perceber o quanto o Brasil, que lembro de sempre ouvir quando era criança ser um país super ~pra frentex~ em questão de racismo e todos os outros tipos de preconceito, é na verdade uma grande farsa. Um Estado extremamente conservador e intolerante.

Se alguém aí tiver alguma dúvida, veja alguns dos comentários que surgiram na publicação sobre A Princesa e a Costureira no Facebook (para aumentar é só clicar na imagem):

a princesa e a costureira comentários facebook

(Para ver a publicação completa é só clicar aqui)

A questão é que muitos desses comentaristas de internet cresceram ouvindo que histórias de amor só são bonitas e válidas se forem entre um ser humano que tem um pipizinho e outro que tenha uma pepequinha. Qualquer coisa diferente disso não vale, não é legal, é sujo e imoral. E sabemos que muito do nosso caráter é formado durante a juventude. Então imagine que maravilhoso seria se essa nova geração pudesse ter acesso a uma história de amor um pouco diferente do que estamos acostumados. Imagine de novo que maravilhoso seria esta geração crescendo com a opinião de que o verdadeiro amor é sempre lindo, independente de quem você ama. E que todos têm o direito de amar qualquer um, sem correrem o risco de serem apedrejados por isso. *Sonhando com este mundo maravilhoso*

Representatividade é importante SIM! PRECISAMOS DE REPRESENTATIVIDADE SIM!

Sem falar no problema de como as mulheres são retratadas nas histórias de contos de fadas. Muitas vezes sendo uma donzela frágil que precisa de um príncipe para lhe salvar. Ou então é a vilã que odeia esta donzela por pura inveja, recalque ou qualquer outro motivo desse nível. Até temos personagens femininas que apoiam outras personagens femininas, mas estas quase sempre são fadas e mais velhas, com o aspecto de ‘vovó/tia boazinha’, ou seja, dois fatores que afastam qualquer rivalidade que as mulheres possam ter. Ter personagens femininas amigas (como Cíntia e sua irmã Selene) já é difícil, imagine duas mulheres que se amam além da amizade? Pois é, por isso o livro é tão legal e tão importante.

E saber que o primeiro livro de conto de fadas que fala sobre homossexualidade publicado no Brasil É brasileiro, país tão conservador, dá orgulhinho e uma pontada de esperança boa. Sem falar que em questão de representatividade, A Princesa e a Costureira está nota 10, pois além de falar de relacionamentos homossexuais, ainda tem uma protagonista negra (que deixa ainda mais com a cara do Brasil).

Se você gostou e quer continuar acompanhando o trabalho da Janaína Leslão, é só acompanhar sua página no Facebook. E para comprar seu próprio exemplar de A Princesa e a Costureira, basta entrar no site da Metanóia Editora.

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