Uma história além do seu tempo.

A série de livros A Roda do Tempo, de Robert Jordan, costuma ser definida como uma obra massiva, enorme. Na verdade, por vezes o termo utilizado é “inadaptável”. A história é desenvolvida ao longo de 14 livros espalhados por mais de duas décadas, tendo na verdade dois autores diferentes (Jordan faleceu em 2007, e seu colega Brandon Sanderson foi contratado para finalizar a série, utilizando as anotações do autor). A série também era considerada revolucionária de várias maneiras, de seu amplo número de personagens relevantes à sua incorporação da natureza cíclica da criação, característica típica de religiões orientais, com foco em equilíbrio e dualidade, mas talvez o mais importante seja a inclusão de diversas mulheres poderosas e impactantes.

É difícil não dar ênfase no quão revolucionário era o simples ato de incluir personagens femininas em uma história de fantasia como esta na data de lançamento do primeiro livro, em 1990. É verdade, nem todas as mulheres de A Roda do Tempo são particularmente bem desenhadas ou seriam consideradas bem desenvolvidas por leitores atuais, mas em um mundo cujas publicações raramente se preocupavam em incluir o mínimo de personagens femininas, o trabalho de Jordan se destacou como uma novidade muito bem-vinda – e com isso conquistou uma geração de fãs.

“Eu acho que uma das coisas que eram tão importantes em A Roda do Tempo em seu lançamento era apenas o número de personagens femininas que estavam ali”, afirmou Rafe Judkins, showrunner da adaptação televisiva da Amazon e autodeclarado “nerd do Robert Jordan”.

Quando você lê O Senhor dos Anéis, é só Eowyn. É só ela, e eu amo personagens femininas quando estou lendo, então para mim, só ter ela para me apaixonar sempre foi algo difícil em O Senhor dos Anéis.

Judkins entendeu implicitamente que a sua adaptação para televisão também deveria se adaptar – ao cenário da fantasia e ficção nos anos que se seguiram ao lançamento de O Olho do Mundo, em 1990, para públicos que buscam histórias desta natureza mais cheias de nuances, como Daenerys Targaryen, Cersei Lannister e Sansa Stark, de Game of Thrones. Ele afirmou:

Uma das coisas sobre os livros é que eles provavelmente eram bem feministas nos anos 90, quando foram lançados, e eu queria manter isso verdadeiro para que eles passem essa sensação feminista ainda hoje. Eu acho que se apenas pegarmos as coisas que aconteceram nos livros e colocarmos nas telinhas, essa não seria a sensação. Existe um espaço de 30 anos entre o lançamento dos livros e da série.

De acordo com o showrunner, a equipe de redação de A Roda do Tempo passou muito tempo pensando em como melhor adaptar as personagens femininas para as telinhas de forma que ainda houvesse o apelo às mulheres modernas que possam estar assistindo à obra.

Nossa equipe de redação, diretores e produtores, nossa equipe possui metade ou mais de mulheres também, então estamos tentando garantir que vamos cumprir a promessa de que a série dos anos 90 ainda será bastante feminista.

Parte deste compromisso é apenas um jogo de números. A série A Roda do Tempo é bastante marcante no sentido de apresentar muitas personagens femininas com papéis importantes no mundo da história – e não apenas interesses românticos para os personagens masculinos. Ela apresenta um sistema de magia focado em mulheres, diversas personagens femininas em posições de poder político, e uma sensação marcante de que o seu gênero é obviamente capaz de muito mais do que apenas serem esposas e mães.

Chegar em A Roda do Tempo e apenas ver todas essas mulheres diferentes que – e eu acredito que quando temos uma multiplicidade de personagens representando cada grupo, o peso é muito menor sobre os ombros de cada um deles – assim como cada uma delas, podem ser muito mais do que realmente são. Nós temos tantos tipos diferentes de mulheres representadas na série, e tipos diferentes de força feminina.

Uma dessas mulheres poderosas da série é Moiraine Damodred, integrante do grupo feminino de portadoras de magia conhecido como Aes Sedai, capazes de canalizar o poder de forma a proteger o mundo das forças das trevas.

A personagem será interpretada por Rosamund Pike, atriz indicada ao Oscar, e à primeira vista, parece ser uma personagem bem diferente dos papéis que a tornaram famosa em Garota Exemplar (2014) e A Private War (2018). Mas de acordo com ela, foi a natureza complexa da Aes Sedai que a atraiu para o papel.

“Robert Jordan era muito interessante por ser capaz de escrever mulheres com valor de verdade”, afirmou Pike.

Mulheres, que como aprendi pelas cartas escritas pra mim pelo fandom, inspiraram vários homens, e eu acho isso bastante peculiar.

A atriz ainda descreveu seu papel como “delicioso”, creditando as “reservas ocultas de profundidade” de Moiraine pelas décadas de fascinação pela personagem, assim como a sua aparente determinação inabalável por fazer a coisa certa pela humanidade.

“Ela é uma mulher com um propósito”, explicou Pike. “Eu acho que o seu comprometimento com a causa é quase – tem quase um zelo religioso envolvido. É ao custo de tudo, e esse é o nível de comprometimento que eu realmente admiro”.

Mas Moiraine não é necessariamente é a personagem feminina mais interessante de A Roda do Tempo – desta ou das próximas temporadas. Pike afirmou entusiasmada que “temos tantas personagens femininas incríveis chegando” na segunda temporada da série, que já foi aprovada e está em produção.

“Quer dizer, Moiraine é uma personagem incrível”, disse ela rindo. “Mas na segunda temporada que estamos gravando agora, temos tantas, mas tantas mulheres mais fantásticas, interessantes, complexas, misteriosas, sabe? Todos os tipos de mulheres adjetivas, da inocência à experiência”.

De acordo com Judkins, o simples fato de que mulheres poderosas não estão sendo vistas como algo surpreendente ou inesperado no mundo da história já é muito importante.

“As mulheres têm o seu poder de formas muito, muito diferentes neste mundo e na série”, afirmou.

Mesmo em Game of Thrones, as mulheres eram comumente incríveis e bem-sucedidas apesar de seu gênero. Eu não acho que esse seja o caso no mundo de A Roda do Tempo. Aqui, existe a expectativa de que as mulheres sejam poderosas e bem-sucedidas, então quem elas são como pessoas tem um impacto muito maior em seu papel.

Atualizar a representação das personagens femininas da série não é a única mudança que Judkins decidiu fazer nessa adaptação. Sua versão de A Roda do Tempo é também intencionalmente muito mais diversa do que os livros, com personagens de etnias muito mais diversas e alteração fenotípica de diversos personagens que não são especificamente identificados como brancos nos livros (mas que muitos dos fãs imaginavam desta forma).

“Eu acho que os livros eram revolucionariamente diversos em seu lançamento”, afirmou o ator Marcus Rutherford, intérprete do personagem Perrin Aybara, um jovem de uma pequena vila em Dois Rios, e um dos vários ta’veren – personagens sobre os quais a roda do tempo marcou o seu padrão de destino – na história.

Mas eu acredito que ao fazer a série refletir o mundo em que vivemos hoje, com uma diversidade real e um elenco global, isso permite que vários atores incríveis embarquem no projeto. E isso é algo novo e empolgante, mas ainda assim muito fiel ao que Robert Jordan tentou escrever.

Boa parte desta adaptação de A Roda do Tempo é sobre o reconhecimento da importância do trabalho feito pela série original de Jordan no universo da fantasia espacial, sem deixar de empurrar o gênero em direção a um futuro que ressoe com o público moderno.

Eu acho que esses livros foram alguns dos mais diversos de sua época, em termos de presença de diferentes culturas representadas no mundo de A Roda do Tempo. Então como uma série lançada hoje, eu quero que seja uma das mais diversas da atualidade.

Além disso, Judkins afirmou que espera que A Roda do Tempo marque uma mudança na forma como vemos a fantasia na televisão. Uma virada dos aspectos mais sombrios para algo que seja mais inspirador.

Eu acho que em seu núcleo, A Roda do Tempo ainda tem – é um mundo em que a esperança ainda existe, e isso não é necessariamente verdade em algo como Game of Thrones – esse sentimento de esperança é algo muito diferente do que vemos em outras obras de fantasia da atualidade, que são muito mais desoladoras.

Os três primeiros episódios de A Roda do Tempo já estão disponíveis na Amazon Prime Video, e os demais episódios serão lançados às sextas-feiras, com o episódio final da primeira temporada tendo previsão de lançamento para o dia 24 de dezembro.


Texto traduzido e adaptado da Den of Geek.

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