Aviadoras da vida real que são inspiração para a heroína.

Capitã Marvel foi um grande sucesso, se tornando o primeiro filme de super-herói protagonizado por uma mulher a ultrapassar a marca de 1 bilhão de dólares em bilheteria, inspirando uma legião de garotas incríveis a perseguir o seu sonho de voar. O filme conta a história de Carol Danvers, uma piloto de testes da Força Aérea Americana que se torna a mais poderosa heroína do Universo Cinematográfico Marvel. Assim como diversas pioneiras da vida real, porém, Danvers teve que superar dúvidas sobre as suas capacidades – tanto externas quanto internas – para encontrar a sua verdadeira força.

Apesar do ceticismo, mulheres piloto por toda a história, frequente e repetidamente provaram que elas tinham o que era necessário, quebrando recordes, completando façanhas teoricamente impossíveis e conquistando suas asas, vez após vez. E apesar de Amelia Earhart ser o principal nome que salta à mente, ela é apenas uma das incríveis mulheres que encontraram o seu lugar entre as nuvens. Para todas essas garotas incríveis inspiradas pela Capitã Marvel a ir mais alto, mais longe, mais rápido e além, reunimos esta lista de oito heroínas da vida real que superaram todos os limites e voaram.

Raymonde de Laroche (1882 – 1919)

Pouco depois da invenção do avião, a piloto francesa Raymonde de Laroche se tornou a primeira mulher a conquistar uma licença de piloto. A ousada jovem já amava motociclismo e carros, quando Wilbur Wright fez sua apresentação de voo em Paris, em 1908, ela imediatamente descobriu que precisava voar. Ela começou a ter aulas em outubro de 1909. Apesar de ser uma mulher piloto ter a tornado a maior das novidades, ela declarou que “voar é a melhor coisa que uma mulher pode fazer”. A Federação Aeronáutica Internacional emitiu sua licença em 8 de março de 1910, sob o número 36, fazendo com que ela fosse a primeira mulher a ostentar uma licença. Laroche ainda receberia aclamação internacional, apesar de ter sofrido lesões graves após um acidente no mês de julho que a impediu de voar por cerca de dois anos. Em novembro de 1913, ela venceu a France’s Femina Cup ao voar por cerca de 4 horas sem parar. Ela também estabeleceu os recordes femininos de voo mais alto (4.800m) e de maior distância (323km). Infelizmente, ela veio a falecer em um acidente pilotando um avião experimental. Seu legado, porém, segue: a Semana Mundial das Mulheres na Aviação ainda é comemorada na semana de 8 de março, data do aniversário do dia em que recebeu sua licença.

Bessie Coleman (1892 – 1926)

A piloto americana Bessie Coleman nasceu em uma família de arrendatários do Texas, em 1892. Aos 24 anos, ela se mudou para Chicago com seus irmãos e começou a trabalhar em uma barbearia, onde conheceu as histórias dos pilotos que haviam retornado da Primeira Guerra Mundial. Por conta destas histórias, ela começou a juntar dinheiro para entrar na escola de aviação, mas descobriu que nenhuma das escolas americanas a aceitaria por conta de seu gênero e etnia. Então, ela resolveu aprender francês e viajou para Paris em busca de sua licença de piloto. Após retornar aos Estados Unidos, ela se especializou em voos acrobáticos e rapidamente se tornou uma sensação midiática atuando como atração em diversas apresentações de voo. Por conta de suas façanhas, ela recebeu o apelido de “Queen Bess” (Rainha Bess). Ela faleceu tragicamente no dia 30 de abril de 1926, quando foi arremessada da cabine de seu novo avião durante um giro, caindo de uma altura de aproximadamente 600 metros. Apesar disso, ela inspirou uma geração de pilotos afro-americanos, tanto homens quanto mulheres. “Por causa de Bessie Coleman, nós pudemos superar algo que era mais difícil do que as barreiras raciais. Nós pudemos superar nossas próprias barreiras e ousamos sonhar”, escreveu o Tenente William J. Powell, em seu livro “Black Wings” (Asas Negras), em 1934.

Amelia Earhart (1897 – 1937)

A aviadora americana Amelia Earhart é até hoje uma das mais famosas pilotos de sua época. Quando criança, ela construiu sua própria “montanha russa” do telhado da casa de sua família e declarou que era “exatamente como voar”. Ela teve sua primeira chance com voos reais em 1920 quando participou de um voo de 10 minutos. “Na hora que chegamos a 60 ou 90 metros de altura eu sabia que tinha que aprender a voar”, ela declarou mais tarde. Ela começou a ter aulas de voo com a pioneira da aviação, Anita “Neta” Snook, em 1921 e se tornou reconhecida, em 1928, ao se tornar a primeira mulher a “voar” através do Atlântico. “Shultz fez todo o trabalho – e tinha que ser. Eu era só bagagem como um saco de batatas”, admitiu ela. “Talvez um dia eu tente sozinha”. E ela fez, em 1932, se tornando a primeira piloto mulher a atravessar o Atlântico sem escalas. Em seguida, ela começou seus planos de dar a volta ao mundo voando. Em 2 de julho de 1937, com 35 mil dos 46 mil quilômetros cumpridos, ela e seu navegador Fred Noonan partiram do campo de Lae, na Papua Nova Guiné e nunca mais foram vistos. Ela inspirou uma atitude de “nós podemos” em gerações de garotas e mulheres e seu espírito ficou marcado em uma de suas mais famosas citações: “Nunca interrompa alguém fazendo algo que você disse que não seria possível”.

Beryl Markham (1902 – 1986)

Piloto queniana nascida na Inglaterra, Beryl Markham aprendeu a voar por volta dos 20 anos e, em pouco tempo, se tornou piloto de reconhecimento, encontrando animais para expedições de safari. Seu sonho era uma aventura maior e, então, ela começou a se preparar para tentar atravessar o Atlântico sem paradas, no sentido Europa-América. Naquela época, diversas pilotos haviam falecido tentando o voo e o objetivo de Markham era conseguir a façanha sem paradas e sozinha. Ela mesma chegou a sofrer um acidente em sua tentativa fazendo um pouso forçado em Nova Scotia (Canadá) no dia 4 de setembro de 1936, após as ventoinhas de seu motor ficarem completamente tampadas por gelo. Apesar disso, ela chegou à America do Norte e foi reconhecida como uma pioneira da aviação. Ela registrou suas recordações em “West With The Night”, mas sua fama desapareceu rapidamente e ela permaneceu na obscuridade até 1982, quando George Gutekunst ler seu livro e a convencer a publicá-lo novamente. Markham, com 80 anos na época, estava vivendo miseravelmente no Quênia. O sucesso da publicação permitiu que ela passasse seus últimos anos com mais conforto. “Eu olho para o meu passado… E vejo ele tão bom quando muitos passados que as pessoas gostariam de ter…”, está registrado em suas memórias. “Eu tive responsabilidades e trabalho, perigos e prazer, bons amigos e um mundo sem paredes para viver”.

Jacqueline Cochran (1906 – 1980)

Levou apenas um passeio de avião para que a pioneira da aviação americana, Jacqueline Cochran percebesse que seu destino era voar: ela começou imediatamente suas aulas de voo e já pilotava sozinha em apenas três semanas. No final dos anos 1930 ela já era tão famosa quanto Amelia Earhart, mas foi durante a Segunda Guerra Mundial que ela teve sua mais importante influência na aviação. Ela lutou incansavelmente para que as mulheres pudessem pilotar em missões fora de combate, como entrega de aviões e voos de reconhecimento. Cochran se tornaria diretora e uma das principais treinadoras da Women Airforce Service Pilots ou WASP (Pilotos Mulheres a Serviço da Força Aérea, em português). As pilotos da WASP completaram mais de 96 milhões de quilômetros em voos operacionais, entregando mais de 12 mil aviões. Por seus esforços, Cochran recebeu a Medalha de Distinção a Serviço e a Cruz Distinta de Voo. Após o final da guerra, ela se tornou a primeira piloto a quebrar a barreira do som e foi parte do programa Mercury 13, que tinha como objetivo decidir se mulheres poderiam se candidatar para serem astronautas. Infelizmente, ela não viveu o bastante para ver uma mulher ir ao espaço, mas ela sempre sonhou que as coisas seriam diferentes: “Eu daria meu olho direito para ser uma astronauta”, declarou ela a época.

Nadezhda Popova (1921 – 2013)

Nadezhda Popova mudou de uma fascinada por aviação para uma das maiores heroínas de guerra da história da União Soviética em pouco tempo. Após ver um pequeno avião pousar próximo ao seu vilarejo, ela se inscreveu na escola de asa delta aos 15 anos. No início da Segunda Guerra ela se ofereceu como piloto voluntária, mas foi rejeitada. O governo da União Soviética ainda impedia que mulheres participassem de combates. Porém, em outubro de 1941, Marina Raskova convenceu Joseph Stalin a criar três regimentos femininos de pilotos, conhecidos como as “Bruxas da Noite” pelos soldados alemães, uma vez que o barulho de seus aviões de madeira e lona lembrava o som de uma vassoura de bruxa. As Bruxas da Noite não tinham armas ou paraquedas, luzes ou radares. Elas voavam utilizando bússolas e mapas, com uma bomba em baixo de cada asa. Popova fez mais de 852 voos durante a guerra, com um recorde pessoal de 18 voos em uma única noite. Ela recebeu o título de Heroína da União Soviética em 1945, mas assim como as outras Bruxas da Noite, sua fama foi apagada após a guerra. Recentemente, as ousadas pilotos voltaram a ter o reconhecimento de antigamente. “Nós tínhamos um inimigo a nossa frente e tínhamos que provar que éramos mais fortes e preparadas”, declarou uma delas após a guerra.

Jerrie Mock (1925 – 2014)

Uma sugestão irônica feita por seu marido acabou a colocando na rota para se tornar a primeira mulher a dar a volta ao mundo sozinha. Mock adorava aviões desde sua juventude e chegou a estudar engenharia aeronáutica na Ohio State University, mas ela acabou abandonando os estudos após se casar. Quando seu filho mais velho foi para a escola ela conseguiu sua licença de piloto. Sempre que reclamava estar entediada em casa, seu marido brincava dizendo que ela “talvez devesse subir em um avião e dar uma volta ao mundo”. Mock, que sempre sonhou em seguir os passos de Amelia Earhart, decidiu aceitar a sugestão. Ela partiu no dia 19 de março de 1964, aos 38 anos, e outra mulher chamada Joan Merriam Smith havia acabado de partir em uma viagem igual apenas dois dias antes. Em pouco tempo, a imprensa começou a acompanhar a “corrida”. Mock recebeu o apelido de “dona de casa voadora”. Ela planejava uma viagem aproveitando as paisagens, mas acabou pilotando por doze exaustivas horas diárias. Quando pousou em sua cidade, em 17 de abril, seu feito foi algo muito celebrado por todo o país. Porém, ela caiu no esquecimento novamente após passar por dificuldades financeiras que a impediram de voltar a voar. Ainda assim, ela falava constantemente sobre a alegria que seu voo havia trazido a ela: “Eu só queria me divertir um pouco com meu avião”.

Betty Skelton (1926 – 2011)

A audaciosa piloto americana Betty Skelton quebrou tantos recordes que ficou conhecida como a “Primeira Dama dos Primeiros Lugares”. Em sua infância, ela era fascinada pelos aviões que voavam sobre a Estação Aérea Naval próxima de sua casa. Ela recebeu sua licença de piloto aos 16 anos, o que a qualificou para o programa WASP, porém a idade mínima para atuação nele era de 18 anos e meio. O programa foi encerrado antes dela atingir esta idade. Uma vez que ela não podia voar em atividades militares ou voos comerciais, ela então aprendeu a fazer manobras acrobáticas. Em um movimento que se tornou sua assinatura, ela cortava uma fita a três metros do chão com a hélice de seu avião enquanto voava de cabeça para baixo. Após vencer três Campeonatos de Acrobacias Femininas dos EUA, batendo diversos recordes, Skelton passou para as corridas de carros, estabelecendo ainda mais recordes e se tornando a primeira mulher piloto de testes dos Estados Unidos. Ela também se tornou a primeira mulher a participar dos testes para astronautas da NASA. A tripulação masculina da Mercury 7 começou a se referir a missão como “7 e meio”, fazendo referência a sua possível participação, porém a NASA rejeitou a ideia de ter uma astronauta mulher e ela nunca teve sua chance de ir para o espaço. Seu principal conselho continua válido nos dias de hoje: “Não importa o que te atrapalha no meio do caminho. A todo momento você deve dizer a si mesmo ‘eu posso fazer’”.


Texto traduzido do AMightyGirl.

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