Quando se trata de arte de rua, é difícil traçar a linha entre o certo e o errado.
A arte de rua é um movimento comum em qualquer grande cidade do mundo. Artistas sozinhos ou em grupos ocupam o espaço urbano para se expressar de diversas formas, geralmente com a missão de levar sua criatividade ao público. Porém, nem sempre encontram uma boa recepção. Muitas pessoas não concordam com o modo como eles deixam sua marca sem autorização e acabam considerando-os vândalos.
Entre instalações, esculturas e movimentos diversos, o grafite é o exemplo mais óbvio de todos. Presente em qualquer metrópole, já foi condenado por inúmeros governos por destruir o patrimônio público e gerar altos custos de reparação. Com características semelhantes à pichação, que inclui frases de protesto, insultos, assinaturas e ligação com gangues, muitos veem essa arte com desconfiança. Outros separam totalmente os dois, classificando apenas a pichação como vandalismo, apesar de muitos grafiteiros terem origem nesse movimento.
De qualquer forma, o grafite já superou os limites da lei e hoje é considerado legítimo, inclusive com exposições em galerias e um grande número de apreciadores. Os Gêmeos, Nina Pandolfo, Zezão, Mag Magrela, Binho Ribeiro e Panmela Castro são alguns exemplos de brasileiros que se destacam. Em outros países, ainda temos Banksy, Kurt Wenner, Smug, Edgar Mueller, Arys e muitos outros.
Para esquentar ainda mais a discussão, o reconhecido artista Blu começou a apagar seus murais em Bolonha, na Espanha, em protesto contra a relocação de sua arte para uma exibição patrocinada por empresários ricos e um dos maiores bancos da cidade. Ele se posiciona contra a elite e poderosos que estão tirando as artes da rua com a justificativa de preservá-las do tempo e da destruição, transformando-as em peças de museus acessíveis para um público mais limitado. Neste caso, Blu reafirma a natureza controversa da cultura do grafite, que promove arte em espaços públicos, mesmo que seja ilegal.
No geral, movimentos artísticos de rua têm esse caráter espontâneo, ilícito, e surgem de diversas maneiras. Os exemplos abaixo mostram a diversidade e o impacto deles:
- Cadeados do Amor em Paris
Antes de serem retirados, em junho do ano passado, os cadeados pendurados na Pont des Arts, em Paris (França), eram símbolo do amor entre casais de todo o mundo. O ponto era popular entre turistas e parisienses que desejavam eternizar seu sentimento jogando a chave no Rio Sena. Acabou por causa do perigo que o peso representava para a estrutura.
- Muro de chiclete em Seattle
Nos anos 90, pessoas que esperavam na fila do Teatro Market, em Seattle (EUA), começaram a colar seus chicletes em seu muro. Com o tempo, a parede ficou completamente coberta e colorida, virando uma atração local. Assim como os cadeados de Paris, os chicletes foram retirados no ano passado por motivos de preservação.
- Túmulo de Oscar Wilde
O escritor irlandês Oscar Wilde move uma multidão de fãs para seu túmulo, em Paris (França). No final dos anos 90, alguém teve a ideia de deixar um beijo com batom no local. Foi o início de uma tradição popular que durou até 2011, quando a família decidiu limpar definitivamente as marcas e proteger o túmulo com vidro.
- Horta Comunitária da General Glicério
Por iniciativa dos próprios moradores do bairro de Laranjeiras (RJ), a Horta surgiu em 2014. O terreno, localizado no fim da Rua General Glicério, estava abandonado desde a década de 60, depois que houve um desabamento. Assim, um grupo resolveu dar uma função ao espaço e revitalizá-lo, criando uma atividade que aproxima vizinhos e moradores de outros bairros.
- Intervenções de Eduardo Srur
Além de ser um dos artistas brasileiros mais conhecidos por intervenções urbanas, Eduardo Srur também é dono da ATTACK, agência especializada nesse tipo de ação para a publicidade. Suas obras costumam abranger questões sociais e ambientais.
Srur é o maior exemplo brasileiro, mas muitos artistas apresentam trabalhos na mesma linha aqui e ao redor do mundo, como Néle Azevedo, Filthy Luker, Biancoshock, Benedetto Bufalino, Hofman Florentijn, Mark Jenkins e o grupo The Glue Society.
- Flashmobs do Improv Everywhere
O coletivo Improv Everywhere é um dos mais conhecidos em promover grandes flashmobs, principalmente em Nova York. Maior exemplo de performance de rua, essas aglomerações atraem pessoas com o intuito de fazer uma cena e surpreender os passantes de um local previamente escolhido.
Esses são só alguns dos muitos exemplos que vemos por aí. O que não falta é criatividade e vontade de se expressar. Algumas artes nos atingem com beleza, outras trazem reflexões e ainda tem aquelas que adicionam algo para a comunidade que participa delas. Por outro lado, muitas delas podem prejudicar estruturas públicas ou privadas, causar tumulto em áreas de circulação ou estar erradas simplesmente por não possuírem autorização, dominando o espaço alheio.
Você acha que deveria existir um limite para a arte de rua? A discussão já dura anos, em vários lugares do mundo, e ainda não se chegou a um consenso. Comente sua opinião! 🙂
Ahmí, Ámi, Âmi, Eimi. Paulistana, casada, chegando aos 30, nerd. Publicitária, artista, criadora de conteúdo. Já teve uns dez blogs, conta em todas as redes sociais e não cansa desse tal mundo digital. Viciada em ficção e em todos os seus formatos – cinema, TV, HQ, livros, games. Fala pouco e sonha muito.