Uma história maravilhosa cheia de reflexões atuais.

*** O TEXTO A SEGUIR TEM SPOILERS DA TERCEIRA TEMPORADA DE AGGRETSUKO ***

Em fevereiro deste ano, os quadrinhos de Aggretsuko, da Oni Press, mergulharam de forma um tanto presciente em uma trama em que o mundo havia sido devastado pelo “C-virus”. E a doença transformava todas as criaturas expostas em uma espécie de zumbi, fazendo com que fosse impossível para Retsuko e seus colegas frequentarem o escritório de maneira segura. Apesar de os quadrinhos fazerem referência à franquia Resident Evil, tanto essa história quanto a última temporada da série animada ganharam um significado muito diferente nos dias de hoje, com a pandemia de COVID-19.

A terceira temporada  mergulhou em uma trama mais pesada e intensa, com uma energia diferente daquela estabelecida pelo resto da série, que até então parecia ter um foco no pequeno mundinho da personagem principal. A história fez com que Retsuko tenha de lidar com uma verdadeira fama dentro de seu universo, a transformando em alguém conhecida, e com isso ela acaba tendo que lidar com várias situações e viradas, tanto positivas quanto negativas (muitas delas que se assemelham a crítica sobre idols, como a  feita no filme Perfect Blue). E é uma mudança muito bem-vinda, afinal até aquele ponto a série era apenas uma crítica direta à cultura e ambiente de trabalho corporativo, mas agora ela é algo mais.

Ao construir a existência de Retsuko fora do seu ambiente de trabalho, a terceira temporada destaca de forma não-intencional vários aspectos da vida comum que quase desapareceram por causa da pandemia do coronavírus. Retsuko se torna membro de um grupo de idols que ascende rapidamente à fama por causa de um passeio na rua – algo que muitos não podem fazer com segurança. Sim, enquanto ela estava na rua, acabou se envolvendo em um acidente de trânsito, que a força a buscar uma renda extra. E seu envolvimento com o grupo começa com ela trabalhando como contadora, até que gradualmente ela acaba sendo empurrada para a carreira de artista contra a própria vontade.

A pandinha vermelha então argumenta que suas chances de se tornar uma artista de sucesso dependem de sua capacidade de tocar uma guitarra, para acompanhar sua habilidade vocal. E ela acaba conseguindo melhorar suas habilidades no instrumento por causa de Haida – logo ele – que é um excelente professor. E ainda que não haja nada de especial em suas interações, existe uma intimidade platônica entre eles que parece ser algo muito distante desse mundo mergulhado na pandemia.

E o mais estranho sobre esse capítulo de Aggretsuko é que sua principal preocupação é retratar um mundo mais ou menos normal, da forma como as coisas costumavam ser, dando ênfase ao mundano. E o momento em que os episódios foram transmitidos faz com que a série passe uma sensação nostálgica, em uma época mais simples e menos viral, em que uma pessoa poderia espirrar no escritório sem gerar caos. E imaginando que a série vá contar com novas temporadas, será interessante ver se Sanrio vai manter a série como uma espécie de escapismo ou se seu mundo se adaptará à realidade que vivemos atualmente.

A série está em uma posição em que pode tecer todo tipo de comentário sobre a natureza do trabalho, sobre direitos dos trabalhadores e sobre a importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, que são temas muito relevantes nesse momento. Torcemos para que os criadores da série reconheçam essa oportunidade e façam o seu melhor.


Fonte: io9

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