Garotas só querem ter… uma única conversa que não seja sobre um homem.
O Senhor dos Anéis é uma trilogia bastante amada, tanto em forma de livro quanto de filme. Mas é fato que não há uma tonelada de personagens femininas – e isso não é particularmente chocante. J.R.R. Tolkien se inspirou em sua experiência na guerra enquanto escrevia – certamente, na época, ele estaria cercado por muitos homens. Ele orientou estudiosos do sexo feminino e escreveu uma história inspirada por sua esposa, Edith, em O Silmarillion, mas seu mundo era principalmente masculino, e seus livros tendiam a seguir o exemplo.
Apesar disto, existem algumas grandes personagens femininas na famosa trilogia, então, será que ele passa no Teste de Bechdel de qualquer maneira?
O que é o Teste de Bechdel?
O experimento veio da romancista gráfica de Fun Home, Alison Bechdel, e serve para examinar se uma obra de ficção 1) tem mais de uma personagem feminina com um nome, 2) tem uma cena em que duas essas personagens femininas conversam umas com as outras, e 3) essa conversa é sobre qualquer assunto que não seja um personagem masculino.
Simples, certo? Você deve pensar que a maioria dos filmes passa neste teste. Mas, na verdade, a surpresa é grande.
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O Senhor dos Anéis passa no Teste de Bechdel?
Em uma resposta curta: mais ou menos. Há uma cena na trilogia de filmes em que duas personagens femininas interagem e não falam sobre um homem. Acontece em As Duas Torres, quando Éowyn conforta uma criança que quer sua mãe.
Mas, honestamente, isso é de forma BEM superficial mesmo, afinal, é algo bem curto e pouco significante na história. Então, a decisão oficial é que os filmes não passam no Teste de Bechdel. A propósito, os três filmes da série O Hobbit também falham. São muitas horas de filmes que não têm duas personagens femininas tendo uma única conversa que não é sobre homens.
A próxima série de O Senhor dos Anéis da Amazon Prime Video pode ser a primeira adaptação do trabalho de Tolkien a realmente passar no teste. Veremos.
Os livros têm personagens femininas mais proeminentes do que os filmes. Recebemos um pouco mais da paixão de Sam, Rosie Cotten, e da prima esnobe de Bilbo, Lobelia Sackville-Baggins. Há a esposa de Tom Bombadill, e não podemos esquecer da curandeira de Gondor chamada Loreth, que dá a Gandalf algumas informações importantes. Mas observe como a maioria dessas personagens é discretamente definida por seu relacionamento com um personagem masculino… caramba! Além disso, onde estão as mulheres anãs?
Todas as personagens femininas estão espaçadas tanto na narrativa quanto no mapa da Terra Média. As mulheres são apresentadas uma de cada vez, e não há oportunidade para eles conversarem. As únicas duas que moram na mesma cidade são Lobelia e Rosie, que provavelmente não teriam muito em comum se fossem obrigadas a conversar de qualquer maneira.
O Teste de Bechdel importa?
É uma orientação, não uma regra. Falhar no Teste de Bechdel não torna o filme uma obra de arte, nem o define como feminista. O teste é mais útil ao analisar tendências em um gênero ou uma época em específico. Há livros mais antigos que O Senhor dos Anéis que passam no teste, como Jane Eyre, Anna Karenina e Mrs. Dalloway. Inclusive, a trilogia de fantasia His Dark Materials passa.
Existem muitos outros tropos de gênero misóginos problemáticos que O Senhor dos Anéis evita. As três ou quatro donzelas que encontramos não estão em perigo. Elas nunca são agredidos sexualmente para fins de desenvolvimento de caráter. Éowyn não é exatamente uma representação do tropo “não sou como outras garotas”, mas também não está exatamente no tropo “personagem feminina forte estilo girl boss”.
Pessoalmente, LOTR não parece ser alarmantemente sexista – mas se você acha, isso é totalmente válido! Mas já é importante adiantar: as implicações raciais da narrativa de Tolkien e suas intersecções são uma história diferente. Outra questão que também fica fora da discussão do teste de Bechdel é a de que O Senhor dos Anéis também é, pelo menos na superfície, surpreendentemente heteronormativo.
No entanto, sobre o teste: qualquer um que tente lhe dizer que a aranha Shelob (Laracna, a Grande) conta como uma personagem feminina de Tolkien deve ir diretamente a Mordor.
Texto traduzido e adaptado de The Mary Sue
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Devoradora de livros e ávida consumidora de séries.
