Derramamos algumas lágrimas, não vamos mentir.

Esse texto não deveria ser publicado agora. O ideal seria que ele fosse publicado após o episódio final da série, mas The Good Place tem o hábito de virar tudo de cabeça pra baixo no meio da temporada, então não é surpreendente que após o oitavo episódio “O funeral para acabar com todos funerais”, tenha renovado um pouco da minha fé na humanidade como um todo.

Foto: Colleen Hayes/NBC

The Good Place sempre foi uma série um tanto ambiciosa: uma série de comédia com episódios de 30 minutos que tentam responder à simples questão: “o que faz uma pessoa boa?”. No início, a ideia de um sistema de pontos no após-vida parecia bom – uma forma simples e objetiva de medir a bondade das pessoas – mas após quatro temporadas, a série descascou completamente a ideia de que podemos julgar ações e pessoas de forma matemática. Existe uma área cinza muito grande que envolve motivação e consequências sem intenção. Ser uma pessoa é difícil e o mundo é uma bosta, gente.

E ainda assim, The Good Place continuou esperançosa, tanto para nós quanto para sua equipe de baratas, e no último episódio transmitido, maravilhosamente dirigido por Kristen Bell, Michael encerrou seu argumento em defesa da humanidade para a Juíza, falando sobre como devíamos olhar para a humanidade de uma forma diferente – não apenas como a simples soma do que fizemos, mas quem nos tornamos e como crescemos. Como Michael afirmou para a Juíza:

O ponto é: pessoas melhoram quando recebem apoio externo e amor. Como podemos usar isso contra eles quando eles não têm?

Foto: Colleen Hayes/NBC

Mas como podemos fazer essa afirmação? Existem tantas pessoas ruins no mundo fazendo coisas ruins. Henry Kissinger, Elizabeth Holmes, Pewdiepie… O experimento nos deu Brent, o pior de todos. Ele exemplificava tudo que temos de pior, talvez não no mundo, mas nos homens brancos em geral, e ele piorou no paraíso. Até o momento em que não – até o momento em que ele se conectou com uma pessoa e mostrou que podia crescer e mudar. Porque os outros podem ser o inferno para nós, mas também podem nos ajudar.

Michael ainda falou mais, no discurso mais emotivo de toda a série:

Essa é a história toda. Ninguém está além da reabilitação. Brent passou um ano sendo um absoluto monte de merda em pessoa, e os pontos demonstram isso. Mas o que os números não falam é quem ele poderia se tornar amanhã.

O ponto de Michael foi demonstrado por Janet, Eleanor, Tahani, Jason e um Chidi adormecido, enquanto eles esperavam o julgamento fazendo funerais de mentira uns para os outros, a fim de honrar não apenas as pessoas que foram em vida, mas as pessoas que se tornaram depois disso. O que ficou claro foi exatamente o que Michael sustentou:

Nós melhoramos quando nos conectamos e nos preocupamos com outras pessoas, e podemos não nos tornar pessoas boas, mas pelo menos um pouco melhores.

Ninguém melhora sozinho. Você precisa ter pessoas para te cobrar, para te incentivar a continuar tentando, como Eleanor. Você precisa de pessoas que vejam o seu valor e que mantenham suas esperanças altas, como Jason. Você precisa de amigos de verdade, que te empurrem na missão de se tornar melhor, como Tahani. Você precisa de guias que cresçam com você neste caminho, como Janet e Chidi.

O motivo são os amigos. O ponto é tentar. Você pode ser melhor amanhã do que é hoje.

Essas são mensagens simples e bonitas, e não são fáceis de viver porque existem sim muitas pessoas horríveis fazendo coisas ruins no mundo, e elas provavelmente merecem passar a eternidade com aranhas nos orifícios. Mas o que The Good Place nos desafia a fazer é adicionar alguma compaixão em nosso julgamento e acreditar que talvez, apenas talvez, as pessoas possam mudar.

E isso é algo que eu quero acreditar, porque se for verdade, existe esperança para todos nós e nosso mundo não precisa ser cancelado.

Acreditar que as pessoas podem ser melhores – e não necessariamente boas – quando as tratamos com compreensão e compaixão é algo que todos nós poderíamos nos esforçar um pouco mais para fazer. Não é fácil, porque a tentação de ver alguém apenas como algo que tenha feito, e não pelo que poderia ser, é algo muito forte. Mas talvez valha a pena. E esse é o ponto.

Mal podemos esperar pelo final da série. Com cinco episódios até o final, eu tenho certeza que muitas surpresas ainda podem acontecer. Mas esse episódio merece sem dúvidas a apreciação, porque ele tem tudo que a televisão deveria ter: é divertido e inovador, além de ser algo que nos inspira a olhar para as nossas vidas, e para o resto do universo, de uma forma mais carinhosa.

É uma série que não apenas nos faz rir, mas também querer sair por aí fazendo a coisa certa.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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