E já era sem tempo.

Não faz muito tempo que o Youtube decidiu que o discurso racista e homofóbico proferido pela “personalidade” Steven Crowder, direcionado a Carlos Maza, da Vox, não violava a sua política de prevenção de discurso de ódio. Agora, por conta da repercussão negativa causada por múltiplas publicações e produtores de conteúdo, o Youtube finalmente decidiu banir, e está em um processo de remoção de “todos os vídeos promovendo o nazismo e demais ideologias discriminatórias”, o que deve causar a exclusão de milhares de canais por todo o Youtube.

No último dia 4 de junho, a plataforma de mídia decidiu que não tomaria ações contra Crowder após Carlos Maza postar vídeos apresentando  repetidamente os assédios com discursos racista, homofóbico e derrogatório. O que de acordo com Maza, causou diversos ataques por parte dos fãs de Crowder em diversas redes sociais. Ele também publicou mensagens de texto recebidas de diversos números que o desafiavam a “debater com Steven Crowder”.

Apesar disso, o site decidiu que Crowder chamando Maza de “viado filho da puta” (“lispy queer”, no original), “duende gay ateu símbolo da Vox” (“token Vox gay atheist sprite”, no original), “mexicano gay” e outros insultos raciais e homofóbicos não configuravam assédio e que tampouco era um problema os fãs de Crowder terem produzido camisetas com ofensas estampadas, em direta referência a Maza.

Isso nos faz questionar qual é exatamente a política do Youtube com relação a discurso de ódio. Bem, vamos dar uma olhada no que afirma o site. De acordo com as regras do Youtube, os criadores de conteúdo não podem:

Utilizar ofensas raciais, étnicas, religiosas, entre outras que tenham como principal propósito promover o ódio.

Utilizar estereótipos que incitem ou promovam ódio com base em qualquer dos atributos apontados acima. Isso inclui discurso, texto ou imagens que promovam estes estereótipos ou tratar isso como factual.

Vamos recapitular: Quais eram as acusações de Maza?

Certo. E qual foi a resposta do Youtube?

A Gizmodo questionou o Youtube acerca destas violações e a resposta do site foi a seguinte: “Crower não instruiu seus espectadores a assediar Maza no Youtube ou em qualquer outra plataforma e o ponto central destes vídeos não era assediar ou ameaçar, mas responder uma opinião”. Então é possível “opinar” que Maza é um “viado filho da puta”, porque isso é só uma opinião?

O Youtube, assim como qualquer outra organização capitalista, adora balançar a bandeira arco-íris em seu perfil oficial ou exaltar o mês da História Negra, mas sem impedir que os supremacistas brancos dominem a sua plataforma porque isso é o que mantém as luzes acesas. Essa “mudança” repentina não está surgindo por causa de uma mudança de consciência, mas sim pela publicidade negativa e é importante perceber que isso não apaga os problemas causados pela inércia inicial da plataforma.

Criadores de conteúdo queer têm de lidar com a demonização o tempo todo, porque seu conteúdo é considerado como “inadequado para todos os públicos” apenas por ser queer, e não por algo vulgar que venha a ser exposto. O fato de o Youtube não ver problemas em demonizar esse tipo de conteúdo, mas resistir a fazer algo sobre o discurso de ódio é um problema que deve ser corrigido. Carlos Maza, por exemplo, não deveria ter que lidar com assédio por mais de um ano antes que algo fosse feito para evitar o discurso de ódio.

O Youtube praticamente monopoliza o mercado de conteúdo em vídeo online e eles sabem disso. E esse também é um dos motivos que permite que eles ajam dessa forma. Qual a outra opção? E por isso é importante que eles sejam cobrados e que não possam acreditar que suas ações nunca terão consequências.

Maza, em uma entrevista com a Gizmodo, afirmou:

É uma palhaçada e eles sabem disso. Literalmente qualquer forma de discurso de ódio pode ser qualificada como uma ‘opinião ofensiva’. O Youtube está tentando arrumar desculpas para evitar aplicar a sua própria política, porque eles sabem que as cumprir faria com que punissem alguns dos seus criadores mais ‘dedicados’. O Youtube não dá a mínima para o assédio, eles só estão fazendo controle de danos para tentar manter as empresas de publicidade e fazê-las acreditar que eles têm a coragem necessária para regular a própria plataforma.

O público não precisa ser explicitamente solicitado a assediar alguém para se tornar abusivo (…) Se eles virem um grande Youtuber fazendo, eles recebem a mensagem de que esse tipo de abuso é aceitável. Dá um tempo… Meu problema não é com Crowder pedir que seus seguidores me assediem. É que ele está me assediando, com linguagem racista e homofóbica, na frente de milhões de ouvintes leais, graças à audiência que o Youtube permitiu que ele encontrasse e construísse.

Maza levantou então um questionamento direcionado aos empregados LGBT do Youtube: “O Youtube decidiu tomar o lado daquelas pessoas que fizeram nossas vidas infelizes no ensino médio. Ele decidiu utilizar a plataforma que vocês ajudaram a criar para fortalecer intolerantes e bullies com gigantescos megafones. Por que vocês ainda estão aí? O que vão fazer a respeito?”

A alteração na política começou a valer no último dia 5 de junho, de acordo com o Youtube, e a execução se tornará mais séria a partir deste mês. Esperamos ver de fato algum resultado.


Fonte: TheMarySue

Compartilhe: