Oi de novo galera! Meu nome é Camilla Slotfeldt e eu sou da BitCake Studio, uma empresa desenvolvedora de games do Rio de Janeiro!

Essa semana eu vim para falar justamente de como é essa vida de indie developer, tentando sobreviver fazendo jogos! E para isso eu acho que uma maneira boa seria fazer uma lista de coisas super importantes para se fazer um jogo. Normalmente em uma empresa grande de desenvolvimento de games, existe um departamento ou mais para cada uma das etapas, mas na vida de indie a coisa é diferente… Um time pequeno tem que pensar em tudo, e uma pessoa tem que “vestir vários chapéus diferentes” durante a produção. Enfim, então vamos lá!

O que é preciso para fazer um jogo? Como é essa vida de indie dev? Comofas?

1) Você precisa de uma equipe! (Dã)

Bom, a primeira coisa importante é que, normalmente, não se faz um jogo sozinho. Existem alguns exemplos muito maneiros por aí, mas eles são exceção à regra. Se você não for um one-man army que sabe muita programação, se vira com arte, anima um tantinho, sabe fazer trilha sonora e ainda manja de marketing, então acho que você precisa de uma equipe. E essa pode ser a parte mais difícil e mais importante no processo de desenvolver um jogo. Quem você escolhe para o time pode trazer muitas coisas boas, ou muita dor de cabeça!

Uma coisa muito comum hoje em dia são equipes que trabalham à distância, e para isso tem uma séérie de ferramentas online que ajudam muito. Vou citar o Pivotal Tracker, para quem curte desenvolvimento ágil (esse a gente usa mesmo trabalhando presencialmente) e o Slack, para comunicação em equipe.

Screenshot do jogo Game Dev Tycoon, onde você tem seu próprio estúdio de games
Screenshot do jogo Game Dev Tycoon, onde você tem seu próprio estúdio de games

2) …que saiba trabalhar em equipe!

Por ser um esforço em conjunto, e também uma atividade que envolve muita paixão (e muitas vezes não envolve dinheiro algum por muito tempo), é importante escolher bem com quem você escolhe seguir essa jornada de desenvolvimento.

Se você perguntar para qualquer pessoa da BitCake qual é a coisa mais importante em alguém para se dar bem numa equipe de indie devs, provavelmente a resposta vai ser: saber trabalhar em equipe e, principalmente, ouvir críticas! Já tivemos problemas com pessoas que eram ÓTIMAS no que faziam, mas não conseguiam ouvir não. E, bom, como eu disse antes não estamos fazendo o jogo sozinho, nem para si mesmo, então é preciso saber conversar e entender o lado do outro – e abrir mão das suas vontades de vez em quando!

3) Pensar em termos de projeto:  juntar um monte de atividades de naturezas diferentes em uma coisa só

Isso tem a ver com trabalhar em equipe, de novo, mas tem mais ainda com o que é, intrinsicamente, fazer um jogo: é uma atividade interdisciplinar. É juntar um monte de trabalhinhos diferentes em uma coisa só. Juntar a arte, a história, as animações, a programação, o gameplay, o fluxo da interface, e fazer não parecer um frankenstein, mas uma coisa maneira.

Tem coisas que parecem super simples para um jogador (por exemplo, passar por cima de um item no cenário e pegá-lo com seu personagem), mas que na verdade podem levar horas e horas para se chegar a perfeição no desenvolvimento. Pode-se adicionar uma animação especial, um efeito com partícula ao passar por cima do item, alguma mudança na interface para indicar que o item foi adquirido… É o que a gente chama de “polish”, polimento, e que pode levar muitas, muitas horas, e exigir trabalho de várias pessoas com skills diferentes.

Mighty No. 9 In Development

Adoro esse exemplo do Mighty No. 9, que antes de ter arte de cenário e tudo (esse fundo era só temporário, placeholder), já tinha animações e efeitos super maneiros que davam todo o “feel” gostoso do jogo. O jogo já parecia pronto para jogar e estava tudo no lugar, funcionando em conjunto!

E é isso que importa: a experiência final que o jogador vai ter, e por isso é tãaaao difícil fazer coisas boas e bem acabadas!

4) Além disso, o jogo tem que fazer sentido como um produto

O ponto é: o seu jogo precisa ter um lugar no mundo, uma raison d’étre — uma razão de existir! Ele não pode ser só “mais um joguinho puzzle bonitinho” ou “mais uma releitura de Portal com uma mecânicazinha diferente”. Seu jogo tem que ter algo de diferente, que faz ele ser único e que vá atrair um certo número de pessoas.

Indie Game Developer Meme

Claro, ele também pode ser artístico, ou você pode estar fazendo o jogo dos seus sonhos, ou da sua vida. Mas é sempre bom pensar que, se você pretende botar ele no mundo e pagar as contas com isso um dia, alguém vai precisar comprar.

Não precisa fazer o jogo pensando especificamente em como agradar um público, como se fosse uma peça de marketing, tambem. Mas um estúdio sempre pensa em como um jogo se insere no mercado, e  ele precisa ter um diferencial: algo interessante o suficiente para fazer os players terem aquele motivo para quererem jogá-lo, mesmo aqueles que são super fãs do gênero.

5) É, tambem tem que ganhar dinheiro… Uma parte bem difícil!

Bom, antigamente o mercado de games era bem simples: você fazia um jogo e vendia ele por um preço X. Às vezes o developer encontrava uma publisher para ajudar ele a vender, até dar um dinheiro inicial pro desenvolvimento. Mas ser indie costumava significar exatamente ser independente, e não ter publisher. E aí era só fazer seu jogo, dar um jeito de entrar no Steam ou outra loja do tipo, e GG: é só botar pra vender. Hoje em dia a coisa mudou muuuuito!

Indy: I was Indie Before it was Mainstream

Tem várias formas de ganhar dinheiro com seu jogo. Tem muito jogo que é de graça, e dá rios de dinheiro. No mercado de jogos mobile, a maioria dos jogos é free e muitos dizem por aí que jogos premium (pagos) não tem futuro nessa plataforma. Tem o modelo de subscription (um pagamento mensal), tem o de graça para testar e depois compra a versão full, tem o jogo que é de graça mas dá dinheiro com vendas de qualquer outra coisa relacionada… E por aí vai!

E para completar, tem MUITA, mas MUITA gente fazendo jogo hoje em dia. Tudo ficou muito mais fácil e mais barato com novas ferramentas que são até gratuitas e muito boas de usar. Então… como que o SEU jogo vai se destacar e fazer dinheiro? É a pergunta de um milhão de dólares! E a resposta, para muita gente, é gastar milhões de dólares com marketing!

6) Marketing?! Como assim?! Eu só ia fazer o joguinho bonitinho e é isso aí!

É… Só que não. Isso é outra coisa que mudou muito. A mentalidade antigamente era mais do tipo: se o jogo for bom, as pessoas vão jogar. Mas hoje em dia, com trocentos jogos na App Store, no Google Play, e até o Steam ficando abarrotado, tá difícil até pros muito bons. Então, marketing virou parte integrante do desenvolvimento do jogo.

Super Steam Sale
Promoções no steam com tantos jogos que você não consegue nem jogar tudo o que você compra.

Não dá para só desenvolver, sem saber como distribuir e divulgar. Por isso, muitas empresas mesmo indies e pequenas tem pessoas focadas só nisso, e a skill de PR (relações públicas) já virou parte do arsenal de muitos game designers!

Há um tempo atrás saiu uma pesquisa do BNDES sobre os desenvolvedores de jogos brasileiros e uma das conclusões é que a maioria das empresas não tinha pessoas focadas em marketing, vendas, e outras áreas do tipo. E isso refletia na situação delas, que tinha projetos de qualidade desenvolvidos, mas sem sucesso em colocá-los no mercado.

Isso é sério e não é um sintoma só do Brasil na verdade, é uma mudança no mercado geral. Uma coisa que aprendi muito conhecendo muita gente da cena de desenvolvimento de games na Europa, é que talvez o maior desafio de novos jogos hoje em dia é “discovery”: como diabos as pessoas vão descobrir que você existe? Exsitem várias soluções disponíveis, desde marketing de guerrilha e virais, passando pela simples esperança de ser featured pela Apple e ficar exposto na capa da App Store por uns dias, a gastar baldes de dinheiro com propaganda. Cada um tenta como pode ou como combina mais com seu jogo, mas o lado infeliz é que, muitas vezes, quem tem mais dinheiro se dá muito melhor. Por isso é tão importante pensar em como seu jogo vai ser visto pelas pessoas!

7) E não esqueça que você vai precisar abrir uma empresa e administrá-la!

Essa é uma parte que eu acho extremamente válida especialmente para o Brasil. Aqui, muitas vezes ser game dev quer dizer, de uma maneira ou de outra, ser empreendedor. Claro que existem grandes empresas de jogos onde você pode arrumar um emprego, mas a maioria delas não foca em jogos de entretenimento. Se você quiser fazer jogos desse tipo, e ser indie, você precisa abrir uma empresa e aprender um bocado sobre empreendedorismo. E por isso os primeiros pontos, sobre equipe, eram importantes. Não dá para abrir uma empresa e trabalhar com um time pequeno com alguem que você não suporta ou tem problemas com, é preciso um time que se dê muito bem, porque é muito trabalho e muitas dificuldades para superar.

No Brasil o mercado de jogos ainda é muito separado do de Startups de tecnologia, mas na Europa e nos EUA os dois já estão bem mais próximos. Estamos vendo empresas de jogos mobile pegando milhões de investimento, às vezes até antes de lançar um jogo!

Por isso, o indie dev hoje pode ter que lidar também não só com a administração de uma empresa normal (pagamento de salários, impostos, etc), mas tambem com o lado startupeiro de ir a eventos, conversar com investidores, fazer pitch, e por aí vai.

Bom, quem quiser ler um pouco mais tem um outro artigo muito interessante no Gamasutra falando das verdades sobre desenvolvimento indie. E a verdade é que é uma atividade muito difícil, complexa, e que, diferente do que muitos podem pensar, no fundo é como um outro tipo de empresa qualquer. A média que uma empresa comum leva para fazer dinheiro é de 3 a 5 anos, então, é mais do que normal se imaginar que o primeiro jogo de um estúdio não vai ser um super sucesso e trazer dinheiro suficiente para se manter. Mesmo assim, é uma das carreiras mais gratificantes do mundo, com certeza! E está cada vez ficando mais acessível e aceito por aí 🙂

E aí, o que vocês acham?

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