Quem diria que duas aves representariam tanto nós, mulheres
A Netflix lançou neste mês a animação adulta Tuca e Bertie, que retrata sobre a improvável amizade entre uma tucana e uma pássara em um insano mundo animalesco em que vivem. Além de mostrar a amizade, mostram como o universo feminino é confuso, caótico, porém real.
Tuca é aquela típica solteira “livre, leve e solta”, vivendo de bicos (perdão ao trocadilho) e sem se importar com o que os outros dizem a seu respeito. Enquanto Bertie é tímida, namora e tem um emprego estável, porém não com o que sonha. O que elas têm em comum? Pouca coisa, mas acho que todo mundo tem uma amizade assim, em que as partes se completam.
POR TRÁS DA ANIMAÇÃO
Tuca e Bertie tem uma produção comandada por mulheres: sua criadora é Lisa Hanawalt, que também faz BoJack Horseman, animação também da Netflix. E a dublagens das personagens são feita por mulheres não-brancas: Tiffany Haddish é negra e quem dá voz à Tuca e a nipo-estadunidense Ali Wong dubla Bertie, que também ajudou na produção da série.
O fato é que são poucas as animações voltada para o público mais velho que tem protagonistas femininas. Não esquecendo de personagens marcantes e importantes como Lisa Simpson, a filha feminista com pensamentos progressistas de Os Simpsons ou Turanga Leela, a ciclope humanoide de Futurama. Mas elas são apenas secundárias de um universo em que, quase sempre, o personagem central é um homem. E aí que a série brilha.
REPRESENTATIVIDADE
Ter mulheres nos bastidores da série é um diferencial ao retratar certos assuntos em que muitas produções pecam ao tentar abordar, como em Game os Thrones que foi criticado ao mostrar de forma rasa relacionamentos abusivos vividos pelas personagens femininas. Já Tuca e Bertie consegue apresentar sobre o que nós, mulheres humanas, passamos sem pecar em excessos ou deixar cair em esteriótipos.
De começo a série parece não ir muito além de uma animação mal desenhada de propósito com cenários em que parecem que vieram de retratos surrealistas, mas consegue expor de forma assertiva o íntimo de suas protagonistas expondo seus medos, defeitos e inseguranças de forma que o público também consegue se identificar.
Tuca e Bertie é importante por preencher buracos na animação adulta ao dar espaço para expor temas importantes e poucos discutidos na vida feminina
Sem querer dar muitos spoilers sobre a série, logo no primeiro episódio vemos os sinais de que a amizade entre as duas aves passam por problemas. Tuca sai do apartamento em que vive com a melhor amiga, um pouco contra a sua vontade, para que Bertie more com o namorado.
A tucana larga o vício em álcool e precisa aprender a lidar com uma Tuca sóbria, e passa por dificuldades ao fazer coisas casuais como ir a um encontro, e lidar com outras responsabilidades como trabalho e a família. Já Bertie está em um emprego estável, mas infeliz enquanto sonha em ser confeiteira e, ao mesmo tempo, é perseguida pelos seus fantasmas do passado.
Tuca e Bertie é importante por preencher buracos na animação adulta ao dar espaço para expor temas importantes e poucos discutidos na vida feminina como o abuso, o machismo, insegurança e amor próprio e o apoio entre pessoas (ou no caso, animais) do sexo feminino.
Jornalista, editora de vídeo e podcaster. Fala de games, coisas nerds e é uma enciclopédia de curiosidades aleatórias. É magical girl nas horas vagas e pode encontra-lá no twitter @giovannabreve falando sobre memes e gatinhos.
