Confira as dicas e experiências de quem trabalha com jornalismo de games

O jornalista de games é aquele profissional que traz reviews, entrevistas e notícias sobre desenvolvedoras e games aqui no Brasil e lá fora. Já parou para pensar como é o trabalho desses profissionais? Se você tem curiosidade de saber como é trabalhar na área ou tem vontade de seguir carreira em jornalismo de games, dá uma conferida na entrevista abaixo. Quem vai falar sobre o assunto é a estudante de jornalismo e apresentadora do Daily Fix do IGN Brasil, Carol Costa, e o jornalista do TecMundo Games, Felipe Gugelmin.

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Carol Costa

GG: Você pode contar um pouco da sua experiência na área de jornalismo de games?

CC: Eu comecei a escrever sobre games e quadrinhos em um site de amigos, a princípio era mais um hobby – levado bem a sério – do que profissão. Na época, eu já trabalhava com jornalismo e, pouco tempo depois, entrei para a produção de um programa sobre games na TV. Foi lá onde conheci outros jornalistas da área, incluindo o Pablo Miyazawa que, no começo de 2016, me chamou para apresentar o Daily Fix do IGN Brasil, quadro diário com o resumo das notícias mais importantes do dia. Tem sido muito bacana, e tenho sorte por trabalhar com pessoas incríveis. Inclusive, me formo este ano em jornalismo pela PUC-SP, e meu TCC é um livro sobre o potencial dos games como ferramenta de formação e reflexão. Tem sido uma jornada de muito aprendizado e estou bem feliz por isso.

FG: Comecei escrevendo sobre games em um blog pessoal, mais por gostar do assunto do que por ter alguma pretensão de trabalhar com isso. Nesse período também cheguei a produzir algum material para o site GameHall, que se aproximavam mais de alguns reviews bem com a pegada “de fã” do que um trabalho profissional. Comecei a trabalhar com o tema em caráter mais jornalístico mesmo com o TecMundo Games (na época conhecido como Baixaki Jogos), que me proporcionou a oportunidade de aprofundar mais em certos temas e de participar de eventos como a Gamescom em 2015. Atualmente, além de produzir conteúdos para o site, também participo de vez em quando como convidado do podcast Blast Cast, feito pelo pessoal da rede Blast.

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Felipe Gugelmin

GG: O que levou você a querer ser jornalista nessa área?

CC: Foi quase o acaso! Eu cresci jogando, desde muito nova, graças aos meus pais que tinham um Dactar, meu primeiro contato com videogames. Depois veio o Super Nintendo, Mega Drive, PS1 e por aí foi. Talvez justamente por ser algo tão presente na minha vida, e eu estar acostumada com a área, nunca tinha parado para enxergá-la como profissão. Eu cresci lendo revistas sobre games, depois passei a acompanhar sites diariamente, até que me dei conta que poderia deixar de ser apenas leitora, para produzir conteúdo também, aliar a profissão à paixão mesmo. Meu intuito sempre foi seguir no jornalismo cultural, só não tinha olhado ainda para o óbvio. E acho que isso é o que mais me motiva, poder escrever e falar sobre algo que realmente gosto e considero importante.

FG: Sempre tratei videogames mais como um meio de diversão do que como um objetivo profissional, a mistura entre essas duas coisas acabou acontecendo de forma um pouco natural. Fiz universidade de jornalismo pensando mais em trabalhar com algo envolvendo música ou cultura mais “convencional” (cinema, literatura, etc), até que tive a oportunidade de começar a trabalhar na NZN, inicialmente para o site Baixaki. Com o crescimento da empresa, pude diversificar minhas atividades e surgiu a oportunidade de escrever sobre games profissionalmente, então acabou sendo algo mais natural mesmo. Mas a intenção original nunca foi de realmente procurar isso como algo “profissional” — tanto é que imagino que continuaria tratando do tema de forma individual por blogs, YouTube, etc, caso não tivesse surgido essa oportunidade no TecMundo Games.

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GG: Quais são os maiores desafios para um(a) jornalista de games?

CC: Na minha experiência, falando primeiro de modo particular, foi aprender a trabalhar com a informação para o vídeo. Eu nunca tinha apresentado antes, comecei do zero e ainda estou pegando o jeito da coisa. Tive grandes professores no IGN Brasil e devo parte do mérito a eles. Tem o lance de ser mulher em uma área que até pouco tempo atrás era considerada majoritariamente masculina – e algumas cabeças fechadas ainda insistem em não aceitar que as coisas mudaram. Lidar com preconceito é uma luta diária, mas a gente tem força o suficiente pra se manter firme. No geral, acho que é um desafio se reinventar, é uma área que muda constantemente. E, assim como boa parte da imprensa especializada, não só nos games, é uma área um pouco fechada, que aos poucos está recebendo essa nova geração de jornalistas. Acho que o jornalismo de games no Brasil ainda está se abrindo para os profissionais que estão chegando agora no mercado, ainda tem um caminho aí a ser trilhado.

FG: No Brasil, são vários. Entre eles está a distância dos “grandes centros” de produção de conteúdo, algo que foi mitigado um pouco em anos recentes (graças ao surgimento de mais desenvolvedores nacionais e uma presença mais ativa de assessorias), mas que continua um pouco difícil. Como nem sempre conseguimos ter acesso ao “material-fonte” ou podemos falar diretamente com desenvolvedores, ainda sinto que dependemos muito do que sai lá fora para fazer nosso trabalho, especialmente no que diz respeito a produção de notícias. Já no aspecto mais cultural, sinto que o público nacional ainda é muito resistente a uma visão um pouco mais “cultural” do jornalismo de games, que trata jogos como algo que merece uma análise mais profunda — incluindo temas sociais como a representatividade — e que fuja daquele esquema “me passa uma descrição estilo wikipedia e uma nota”. Sinto que, em certa medida, a gente ainda está muito preso naquela mentalidade de produção dos anos 90, e, nesse caso, falo tanto do ponto de vista de muitos profissionais envolvidos quanto do público mesmo — em certa medida, vejo como um desafio quebrar essa mentalidade de video game como “mero produto” que ainda persiste em certa medida.

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GG: O que é necessário para seguir carreira na área e quais dicas você pode dar para quem deseja seguir a profissão?

CC: Acho que como no caso de qualquer carreira, gostar do que faz é primordial. Eu já conheci jornalistas esportivos, políticos e econômicos que não gostavam da área em que atuavam, mas nunca conheci um jornalista de games que não gostasse de jogar. Acho que temos essa característica muito forte de seguir a profissão por conta da paixão mesmo, e não acho isso ruim. Entretanto, quando você leva o hobby para o âmbito profissional, precisa entender que muitas vezes é necessário deixar o apego um pouco de lado para enxergar as coisas de forma mais crítica, ou mais neutra. Não é fácil, mas a gente vai se acostumando a isso no jornalismo. E é uma prática diária: estar bem informado, ter muito interesse na área, ter a mente aberta pra conhecer todos os tipos de jogos, saber como funciona um pouco dessa indústria. Existem cursos especializados, vídeos no Youtube com discussões bacanas, tem muita literatura sobre o conceito de jogo, você sempre pode achar um meio de se inteirar mais no assunto. Minha dica para quem está começando é ler muito, não ter medo de escrever, abrir seu espaço pra portfólio – seja em texto, vídeo, ou podcast, o que preferir –, conversar com profissionais da área e, claro, jogar bastante. Tudo é aprendizado e quando você gosta do que faz é sempre um prazer aprender diariamente.

FG: Isso é algo difícil de responder, porque não existe exatamente uma fórmula certa a meu ver: no meu caso, como relatei, essa união entre a diversão e o trabalho aconteceu de forma um tanto natural. O que eu recomendaria para alguém interessado na área (ou em qualquer outra) é produzir conteúdo: começa a fazer um blog, produza alguns vídeos, tenta participar de um podcast, o que tiver a seu alcance — é só “botando a mão na massa” que você vai sacar se tem talento para a coisa e se vale a pena continuar nesse caminho. Também diria para o pessoal ler bastante, não ficar nessa coisa de “só jogo tal estilo, só gosto desse console” e, principalmente, tentar não ficar preso a uma visão única sobre o que são os jogos — o que eu até mesmo me vejo fazendo sem querer muitas vezes. Acho que a dica principal que eu deixo é: não adianta só você gostar de jogar, se você quer participar da parte jornalística desse mercado, é ideal estudar bastante e não ficar preso somente ao que é produzido por aqui.

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