A lenda de Mulan não deve ser reduzida ao alívio cômico.

Quando o primeiro trailer da versão live-action de Mulan, da Disney, foi lançado em julho, as cenas de luta, a aproximação do conto original chinês e a maravilhosa cinematografia do remake foram suficientes para chamar a atenção dos fãs em todos os lugares do mundo. Ele aflorou discussões especialmente intrigantes entre grupos de asiáticos e asiáticos americanos, que ficaram empolgados e ao mesmo tempo preocupados ao ver sua cultura representada nos telões de um estúdio tão grande – muito conhecido por se apropriar de contos culturais e levá-los a cair em estereótipos e outros problemas bem graves.

No Garotas Geeks, conversamos sobre isso com o Leo Hwan, que é descendente asiático, e falamos bastante sobre a importância da representatividade do novo filme da Mulan e sobre alguns problemas de representação tanto na adaptação animada da Disney (inclusive os problemas que se referem a Mushu) quanto do live-action. Leiam!

No entanto, alguns fãs da animação da Disney de 1998 insistem no desagrado com a ausência do Mushu no novo filme. E agora, com o novo trailer, a discussão sobre ele voltou. Então, vamos repetir:

Embora seja triste ver o favorito das nossas infâncias ser retirado da história, a ausência de Mushu pode ser na verdade um movimento na direção certa.

Mushu, o dragão antropomórfico dublado por Eddie Murphy na animação, é amado por seu jeito cômico e pela devoção em proteger Mulan quando ela se apresenta como um homem para servir no exército chinês contra os hunos. Ele também é um dos personagens mais memoráveis ​​do desenho graças a suas frases hilárias (como o “Desonra pra tua vaca!”) e, claro, pela dublagem de Eddie (no Brasil, pelo dublador Mário Jorge Andrade). Portanto, sua ausência no novo trailer foi notada imediatamente pelos fãs, que rapidamente foram ao Twitter para expressar sua reprovação.

Na época:

[Sem Shang, sem música, SEM MUSHU, desonra pra você, desonra pra sua vaca]

[Nós não vamos ter um Mushu no remake de Mulan? O desrespeito. A desonra.]

E agora:

Claramente, os fãs estão preocupados que, sem Mushu, o filme não seja o mesmo que o desenho que eles lembram da infância. Mas o que eles podem não perceber é que esse é exatamente o ponto da Disney com o remake.

Esta versão de Mulan não deveria MESMO ser a idêntica à versão animada da Disney, porque a intenção dessa vez é ser culturalmente sensível e respeitar a origem da lenda, consequentemente respeitando a maioria chinesa que se sentiu ofendida quando o desenho de 1998 foi lançado.

A Disney pretende ser mais fiel à lenda original de Hua Mulan, que era contada desde 386 d.C.!

A chave para apreciar este filme agora é reconhecer quais são as intenções da Disney. Sem dúvida, Mulan ainda apresentará muitas referências ao filme de 1998 – como o pôster refletindo o rosto da protagonista numa espada, o pente de cabelo icônico visto no trailer e a trilha sonora – mas seu foco claramente não será oferecer aos fãs um remake copiado frame a frame do desenho. Em vez disso, será uma história mais “realista” (até certo ponto, já que ainda retrata figuras lendárias e magia, com o intuito de encaixar no gênero wuxia de artes marciais chinesas) da incrível força de uma mulher e sua luta para proteger seu país e as pessoas que ela ama, contra todas as probabilidades.

A fonte original da história conhecida popularmente, o conto chinês “A Balada de Mulan“, foi escrita no século VI.

E mesmo que o coração da história possa ser o mesmo, a Disney assumiu muitas liberdades ao adaptá-la nos anos 90, e isso incomodou profundamente o público chinês.

Mas a Disney foi ainda além quando se tratava de Mushu. Acontece que o companheiro dragão do desenho não existe em nenhum lugar na balada original, nem mesmo aparece na história “Sui Tang Romance” do século XVII, que repopularizou Hua Mulan mais de mil anos depois. Mas adivinhem? Mesmo sem a proteção e as piadas de Mushu, Mulan ainda salva o dia e vence a guerra.

Versões anteriores da história enfatizam a habilidade de Mulan para artes marciais e arco e flecha, as quais podem ser vistas no trailer.

A Hua Mulan original também possuía um impressionante nível de confiança e determinação antes de suas aventuras no exército, ao contrário da versão de 1998, onde ela precisava de algum incentivo para acreditar em si mesma. Esta Hua Mulan não precisa de um guia dragão falante para protegê-la; ela pode se proteger sozinha.

Afinal, Mulan pode ter sucesso sem Mushu? Absolutamente! Hua Mulan era uma figura bem conhecida na cultura chinesa muito antes da Disney se apropriar dela. Sua história literalmente sobreviveu desde a sua criação em 386 d.C. e foi transmitida através das gerações. Ele gerou várias adaptações de filmes e palcos ao longo do século XX. Mulan literalmente tem uma cratera em Vênus com o nome dela. Então, sim, a história nos responde que o live-action de Mulan pode não apenas ser muito mais bem sucedido, mas também muito mais icônico sem Mushu.

E fazendo muito mais sentido com a alteração dele por uma fênix, já que dragões são criaturas consideradas sagradas no imaginário chinês, logo, muito mais suscetíveis a serem representados por estrangeiros de forma ofensiva. A fênix representa as lendas da China e faz a Disney correr menos risco.

No final das contas, a parte mais importante da história de Mulan é seu coração e sua bravura. Mulan nunca foi sobre Mushu, e definitivamente é uma história que pode ser contada sem ele – como vem, na verdade, sendo contada sem ele há séculos.

Então, em vez de lamentar a falta de Mushu, é hora dos fãs se concentrarem no que o filme de Mulan realmente se propõe: dar a uma heroína asiática a representação devida e mostrá-la como a mulher durona que ela sempre foi.

Aprendam que às vezes as coisas não são como a gente quer e por um bom motivo.

Vejam abaixo o novo trailer:


Texto traduzido e adaptado do Bustle.

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