Problema bem sério.

Sam Heughan é um ator atraente, rico e uma das estrelas de uma das séries mais populares da atualidade, Outlander, que possui um imenso fandom. O problema é que ele é vítima de uma perseguição enorme, assédio e teorias da conspiração criadas por este mesmo fandom.

Já falamos aqui no Garotas Geeks sobre a toxicidade desses fandoms, mas o caso do ator se tornou emblemático nos últimos meses. Ele não é apenas uma estrela que precisa lidar com esse lado horrível da cultura “stan” (expressão que une as palavras “stalker” e “fan” para apontar parte do fandom que persegue celebridades em redes sociais), mas também alguém que decidiu falar sobre como o assédio afetou não apenas a ele e sua saúde mental, mas também de sua família.

Tradução:

Após os últimos seis anos de constante bullying, assédio, perseguição e falsas narrativas, eu estou perdido, chateado, ferido e preciso falar. Isso está afetando a minha vida, minha saúde mental e é uma preocupação diária. Meus colegas, amigos, familiares, eu e na verdade todos próximos a mim, estamos sendo submetidos a ofensas pessoais, constrangimento, abuso, ameaças de morte, perseguição, compartilhamento de informações privadas e uma narrativa falsa e vil. Eu nunca falei sobre isso porque eu acredito na humanidade e sempre esperei que esses bullies iriam embora. Eu não posso entrar em detalhes por questões legais, mas eles são profissionais: professores, psicólogos, adultos que deveriam pensar melhor.

Recentemente, as falsas acusações variam entre eu manipular fãs, ser um homossexual no armário, tentar enganar ou extorquir fãs por dinheiro e desrespeitar as orientações sobre Covid. Eu não fiz nada disso. Eu sou um cara normal e não pareço em nada com os personagens que interpreto. Mais recentemente, alguns de vocês devem saber que estou em isolamento no Havaí. Eu vim pra cá antes da suspensão dos voos. Nenhum de nós sabia como as coisas ficariam ruins, mas quando a situação piorou, aconselhado por pessoas que confio, eu decidi ficar em um ambiente seguro. Foi uma boa decisão. Estou a salvo, isolado, sem colocar ninguém em risco e sem dar trabalho aos cidadãos locais. Vários dizem que estão desesperados para vender seus produtos (já que os hotéis e restaurantes estão fechados). Ninguém pediu para que fossemos embora.

Eu tenho medo de pegar de 3 a 5 aviões para voltar ao Reino Unido, cerca de 20 horas em diversos voos, me expondo ao perigo para ficar preso em uma cidade. Isso só aumentaria o risco para mim e para os outros. Recentemente eu fiquei doente por 3 meses e estou sendo duplamente cauteloso. Esses bullies criaram uma falsa narrativa, vazaram informações privadas e abusaram de mim e das pessoas que amo consistentemente pelos últimos 6 anos em blogs e redes sociais. Eu não vou mais entretê-los e vou bloquear qualquer um que escreva mensagens difamatórias ou abusivas. Enviando itens ou perseguindo minhas acomodações privadas, eles assediaram meus colegas de trabalho e constantemente tentaram hackear nossos e-mails e contas pessoais. Estou muito magoado com isso.

Como um ator nesses tempos, nós nos sentimos impotentes. Não podemos fazer muito, mas eu tenho tentado usar qualquer alcance que eu tenha para dar voz a projetos de caridade que precisam, e com sorte um pouco de entretenimento ou um leve alívio. Para aqueles que ainda assim não estão felizes, eu sugiro que parem de me seguir. Para todos os fãs que apoiam a mim e ao meu trabalho, MUITO OBRIGADO. Eu sou muito grato, do fundo do meu coração. Se cuidem e por favor, sejam bons uns com os outros. Temos muito para nos preocupar no momento. Vejo vocês por aí.

O ator publicou o texto acima no Twitter e no Instagram devido à repercussão ruim dos fãs com o fato de que ele havia decidido se isolar no Havaí durante a quarentena. Como mencionado em suas publicações, ele tem sido alvo de assédio dos fãs desde o início da série.

Boa parte do bullying sofrido por ele vem de um grupo de fãs comprometidos com o complexo e problemático mundo do “shipping de pessoas reais”. O RPS (Real Person Shipping) consiste na prática de imaginar relacionamentos entre pessoas de verdade, e não de seres fictícios (ship é uma expressão derivada de relationship, relacionamento em inglês, e uma prática comum de fandoms com relação a personagens da cultura pop). No caso de Outlander, o problema já havia sido abordado pela Vox em 2016, em matéria que demonstrava que os fãs não imaginavam apenas os protagonistas da série com um casal, mas também os atores Sam Heughan e Caitriona Balfe como um casal.

Por anos, não apenas os dois foram assediados, mas também suas famílias, amigos e pessoas próximas, tudo porque parte do fandom acreditava que os dois estariam em um relacionamento secreto. Esse tipo de assédio não é exclusivo da série. Fãs da banda One Direction ficaram conhecidos por “shippar” membros da banda de forma tão intensa que isso chegou a causar problemas entre eles. Outro grupo de “fãs” de Sobrenatural assediou as esposas de Jared Padalecki e Jensen Ackles (Genevieve Padalecki e Daneel Ackels) por anos, porque eles acreditavam que os atores estavam em um relacionamento secreto e que as esposas eram de “fachada”.

Isso não quer dizer que as pessoas não possam “shippar” ou escrever fanfics sobre quem eles querem. Todo mundo tem o direito de imaginar e fantasiar com o que quiser. Mas existe uma diferença imensa entre gostar de “shippar” uma pessoa real e entender que aquilo é fictício, assim como a série, e levar isso para o mundo real assediando essas pessoas.

Existe uma linha entre um “ship” inocente e teorias da conspiração perigosas que muitos fãs estão cruzando. E essas pessoas estão ligando para membros da família de atores em seus trabalhos, perseguindo-as próximos de suas residências e assediando os atores e familiares nas redes sociais. E isso é muito errado.

Shippar pessoas reais e o assédio causado por isso é um problema real do fandom, mas a publicação de Heughen demonstra que esse não é o único problema. Ele é vítima de assédio por redes sociais há muito tempo, então certamente os ataques por conta da decisão de permanecer no Havaí devem estar sendo pesados. E certamente boa parte deles sequer devem ter o objetivo de ofendê-lo, o que é um problema ainda maior.

Os fãs mais ativos online acabaram se acostumando a um tipo de fala e comportamento que não é universal, e que não dá pra trazer para fora da bolha de rede social, que todos conhecemos.

Parte dessas críticas pode ser “positiva”, mas para alguém que passou anos sendo assediado, ouvindo que seus relacionamentos são mentiras, alguém cujos amigos (que não são figuras públicas como ele) foram assediados, mesmo críticas “bem-intencionadas” podem machucar.

A cultura “stan”, essa parte do Twitter (e de outras redes sociais, mas principalmente do Twitter) que é dedicada a defender certos “ships” ou celebridades, e que é igualmente dedicada a atacar qualquer um que pareça ser contra o “ship” ou a celebridade, não é algo que deva ser individualizada ou tratada de forma “compreensiva”. Em casos assim, ela pode se tornar solo fértil para bullying e assédio. E não apenas das figuras públicas, mas de todos aqueles que apenas tenham o azar de serem próximos a elas.

Sim, Sam Heughan é um homem branco, rico, saudável, atraente e hétero. Mas é uma pessoa com sentimentos e emoções, e nem mesmo seus privilégios podem impedir que ele seja atingido pela incessante toxicidade das redes sociais. E ainda que seu contato nas redes sociais não seja completamente negativo, esse tipo de comentário e ataques tem um impacto muito maior do que o apoio ou comentários positivos. E ainda que ele possa “fechar” suas redes sociais, para uma figura pública isso é parte de seu trabalho e não pode simplesmente ser ignorado.

Esperamos que sua manifestação tenha algum impacto, e que pelo menos parte desse grupo perceba seu comportamento tóxico, especialmente agora que todos estamos fazendo o melhor que podemos para sobreviver a essa terrível crise global. O fandom pode ser uma coisa bonita que conecta as pessoas, e não deveria se tornar uma desculpa para assediar as pessoas.


Fonte: TheMarySue

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