Para quem quer entender um pouco mais sobre esta profissão.

Geralmente, quem curte games está sempre em busca de informações sobre o seu jogo ou estúdio favorito. É aí onde entra o jornalista, trazendo as últimas notícias, entrevistas e reviews. Quer saber mais sobre o jornalismo de games no Brasil? O jornalista e editor do UOL Jogos, Théo Azevedo, fala um pouco sobre a diferença entre o jornalismo feito 20 anos atrás e o de hoje, fala também de jogos indies a Triple A, e dá dicas para quem quer seguir a carreira, além de outras curiosidades.

Théo Azevedo
Théo Azevedo

Garotas Geeks: Qual a diferença do jornalismo de games que era feito 20 anos atrás para o jornalismo feito atualmente?
Théo Azevedo: É até difícil comparar. Vinte anos atrás a internet engatinhava e existiam praticamente apenas revistas de games no Brasil. Nem se falava em jornalismo de games. Em relação aos consoles, havia somente Gradiente (Nintendo) e Tectoy (Sega), além das distribuidoras de jogos de PC – Brasoft, Greenleaf, etc -, então era complicado falar mercado de games também. Mesmo os games não eram tão complexos naquele tempo – ao menos em comparação aos dias atuais.
Na imprensa o que se via, portanto, era uma linguagem voltada ao público infantil e muito serviço – dicas, passwords, detonados e por aí vai. Eram textos simples, por vezes até cômicos (ler uma revista dos anos 90 hoje é garantia de um passeio nostálgico e boas risadas).
Hoje o cenário é completamente outro: os games amadureceram, o público também. Dá pra consumir informação de qualquer natureza, em qualquer lugar. Tem vídeo, youtuber etc.
Logo, quem quer enveredar pela área precisa levar tudo isso em conta. O profissional é muito mais exigido que em qualquer outra época.

GG: Como as revistas especializadas em games conseguem competir com os veículos online? Já que com maior acesso às informações por causa da internet publicar notícias sobre games ficou mais rápido, acessível e dinâmico.
TA: Boa pergunta. Faz tempo que estou afastado das revistas de games, então não sei se sou a pessoa mais apropriada para responder. Minha impressão, contudo, é que ainda existe uma parcela do público apegada às revistas de games, ao contato físico com as páginas. Só que é um contingente muito menor se comparado aos anos 90 e creio que não esteja aumentando.

Clash Royale

GG: Existe alguma diferença do jornalismo de games que é feito lá fora para o que é feito aqui no Brasil?
TA: Existe, sobretudo, uma diferença entre os mercados estrangeiro e nacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, há diversos sites de games e, em especial, espaço para segmentação: mobile, eSport, indie, podcast, vídeo, etc. Por quê? Porque há mais anunciantes ou mesmo um público mais engajado com o conteúdo produzido. Se tem dinheiro, fica mais fácil de as coisas acontecerem. Com efeito, a imprensa estrangeira possui um acesso muito maior ao mercado (jogos, produtores, empresas), algo com o qual dificilmente conseguiremos competir.

Chroma Squad

GG: Há 20 anos os jogos indies não faziam parte da nossa realidade. Como os games independentes mudaram a indústria de jogos e como eles são retratados no jornalismo brasileiro? Recebem a mesma atenção dos jogos Triple A aqui no Brasil?
TA: Como os indies são retratados no jornalismo brasileiro vai de veículo para veículo. O que posso dizer é que os AAA ainda dão muito mais audiência que os indies, e este é um fator fundamental na hora de decidir quais pautas focar. Levando em conta que nós, produtores de conteúdo, adoramos jogos indie, e que estes estão cada vez melhores e mais importantes (especialmente para “oxigenar” a indústria de games com novas abordagens), nosso desafio é embalar o conteúdo de forma que fique cada vez mais atraente, pois também não é justo esperar que um indie consiga competir em popularidade com God of War.

Pokémon GO

GG: E quanto aos jogos de smartphone? Saímos do jogo da “cobrinha” para Pokémon Go graças ao aumento da tecnologia utilizada nos celulares. Grandes desenvolvedoras (e indies também) têm investido nessa plataforma. Como os games para smartphone podem ajudar a popularizar os jogos?
TA: Os games para smartphone possuem milhões de adeptos e movimentam caminhões de dinheiro. Isso é fato. A questão é entender que tipo de conteúdo quem joga em plataformas móveis quer consumir. Não vejo muita gente interessada em uma entrevista com o criador de Clash Royale, por exemplo, mas talvez em dicas para se dar melhor no game. Ou então no caso inusitado de um menino que gastou toda a grana do pai em microtransações. Comparar com Pokémon Go pode gerar distorções, pois nunca um game mobile gerou tanto interesse audiência; na imensa maioria dos casos, ainda é difícil converter o jogador de games mobile em leitor sobre o assunto.Assassin's Creed UnityGG: Como os estudantes de jornalismo ou jornalistas podem se inserir no mercado de trabalho? Quais dicas você pode dar para quem quer seguir a área?
TA: Antes de mais nada, qualquer aspirante a jornalista de games precisa saber que este segmento sofre das mesmas mazelas que o jornalismo como um todo: poucas oportunidades, dificuldade em vislumbrar plano de carreira, baixos salários, passaralho, etc. Isso dito, e melhor dica é: seja visto. Raramente alguém é contratado na imprensa de games como base no CV. Hoje há inúmeras formas de gerar e publicar conteúdo, seja de maneira autoral ou em sites de média expressão e que aceitam freelancers. Já é um começo, uma forma de praticar e mostrar o que você sabe fazer.
Penso que todos devem ser remunerados de maneira justa pelo trabalho que desempenham, mas já vi muita gente que começou trabalhando de graça, mas aproveitou a vitrine para se aperfeiçoar, conhecer pessoas e, eventualmente, conseguir uma oportunidade melhor.

Compartilhe: