Uma jornada em busca de amor <3

O review de hoje fica por conta do fofíssimo “Where is my heart?”, um jogo “antiguinho” (2011) que passou batido pela vida “gamística” de muita gente, mas que merece uma atenção especial por sua inovação e beleza.

Se você curte aquelas imagens mindfuck que te prendem por um tempo para compreender do que se trata, como as estruturas impossíveis de  Escher, vai curtir muito Where is my heart?. Não brinca tanto com a perspectiva, como Monument Valley  e Echochrome, mas sim em como os pedaços de cenários se ligam em um mundo completamente desconexo.

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O ambicioso indie game criado por Schulenburg Software, estúdio solito do alemão Bernie Schulenberg, e publicado por Die Gute Fabrik é basicamente um puzzle platformer 2D single player que quebra a forma tradicional de andarmos pelo cenário. O mundo pode ser explicado de forma muito simples como um quebra cabeça mal montado. As coisas estão lá, porém fora do lugar.

Exemplo de sequência de quadros: 1º – 2º – 4º - 3º - 5º
Exemplo de sequência de quadros: 1º – 2º – 4º – 3º – 5º

O jogador assume o controle de 3 pequenas criaturinhas, os espíritos da floresta, que devem trabalhar em conjunto para restaurar a saúde da “Heart-tree” – simbolizando a “mãe-natureza”. Seu objetivo é simples: pegar os corações espalhados pela fase e chegar ao ponto de saída, representado pelo buraco em uma árvore. Tudo seria extremamente fácil, não fosse pelo fato de o mundo estar confuso e desconexo, com os fragmentos do cenário desordenados.

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Ao passar algumas fases, os espíritos da floresta ganham o poder de transformar-se em formas evoluídas muito mais COOL que as antigas e com habilidades especiais, como pulo duplo, um tipo de visão raio-x do capeta e controle sobre a rotação dos fragmentos.

História

Uma família de espíritos da floresta vivia em paz e harmonia com a natureza, habitando e protegendo o centro oco de uma árvore, cujas raízes mantinham o mundo unificado e em ordem. Um dia, ao recolherem corações com “sentimentos puros” para alimentá-la, alguns corações cinzas corrompidos, com emoções negativas, afetaram a planta e a deixaram muito doente, impedindo-a de manter a união natural e assim o mundo colpasou.

Desorientados e sozinhos, os monstrinhos devem partir em uma jornada pela floresta labiríntica para recuperar os corações dispersos no percurso e trazer de volta seu lar como era antes.

Personagens

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Brown o monstrinho marrom (duh) que tem a aparência semelhante a de um boneco de pano. Vira o Antler Ancestor (ancestral de chifres), um alce que pode “saltar no espaço” – o tão conhecido pulo duplo.

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Orange – Criatura laranjinha que não sabemos se está rindo ou chorando das mortes de seus amiguinhos. Transforma-se em um dentinho (?) feliz com asas (ou seja o que raios for aquilo), chamado de Rainbow Spirit (Espírito do arco-íris).

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Grey – Personagem mais maneiro e foda. Quando evolui, transforma-se no BAT KING (Rei Morcego), que possui a habilidade especial de ver coisas que os outros não enxergam, como plataformas escondidas ou rostos macabros nas paredes e na árvore #capirotofeelings. É também a participação especial de Kankurou (Naruto) no game.

NOPE! Just Chuck Testa
NOPE! Just Chuck Testa

Jogabilidade

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Parte dos princípios básico de jogos plataforma: você deve atravessar os obstáculos pulando ou voando e chegar ao objetivo – a saída ao final da fase. Você irá encontrar os vales de espinhos, precipícios e todas fórmulas usadas para os clássicos games de plataforma. Por vezes, o jogador precisa recuperar alguns dos corações presentes para habilitar blocos transparentes que formam pontes (mesma coisa que muitas fases de Mario) para conseguir alcançar a saída.

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Quem desejar fazer 100% do jogo deverá recuperar os 172 corações no decorrer do game. Porém há algo que torna essa tarefa bastante difícil: a cada morte, um coração cinza substitui um rosa. Apesar disso, se você não está buscando resultados perfeitos, não há penalidades duras para os erros – mortes resultam no respawn automático do personagem para o início da fase. Não há contagem de vidas e também não há tempo.

Poder de Rainbow Spirit
Poder de Rainbow Spirit

Conforme o jogador evolui as coisas se tornam cada vez mais complicadas, sendo necessário mais testes, erros e retornos. Há momentos em que a frustração bate, e aí é bom dar uma pausa e voltar mais tarde, antes que o pobre controle sofra as consequências.

Bat king e sua visão das trevas
Bat king e sua visão das trevas

Arte e inspiração

O game é todo em pixel art – aquele estilo quadriculado dos games antigos de 8-bits. A cartela de cores é formada por combinações análogas para o fundo, com detalhes bastante saturados em pequenas plantinhas e em locais com água. Os objetos com maior destaque ficam por conta do rosa brilhante dos corações e do laranja vivido da criaturinha chorona, Orange.

Há um cuidado especial para os detalhes, que pode ser notados na vegetação encontrada no caminho – desde cogumelos cintilantes a “samambaias” e cataratas que enfeitam as paredes do cenário.

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A inspiração para a base do jogo surgiu de uma experiência extremamente pessoal e inesperada: durante uma trilha na floresta, Bernie Schulenburg e sua família se perderam por não ter um mapa consigo. Em meio ao stress da desorientação, outros problemas vieram à tona, mostrando o lado ruim da personalidade de cada um e mexendo com os sentimentos de Bernie, fazendo-o representar, de forma lúdica, isso no game.

Primeiro rascunhos de Where is my heart? e fase inicial
Primeiro rascunhos de Where is my heart? e fase inicial

Trilha Sonora

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Composta por Alessandro Coronas, a trilha do game segue o estilo chiptune, lembrando as nostálgicas músicas de games 8-bits do Attari, Mega Drive, NES e diversos outros consoles de antigamente. Junto a isso, foram acrescentados o canto de pássaros e outros sons relaxantes, deixando a trilha tão tranquilizante e calma que não aconselho os jogares noturnos a testarem quando estiverem com sono, pois o clima calmo e aconchegante provavelmente vai derrubá-los.

Para quem curte chiptunes, fica aqui a dica da Chipmusic – rede social onde os amantes desse estilo podem encontrar semelhantes, trocar experiências e acompanhar as novidades dos artistas.

Pontos negativos

Em algumas fases ficou confuso o modo correto de resolver os puzzles usando o Rainbow Spirit – perdi a conta dos momentos em que apelei para o “seja o que deus quiser!” e tentei a sorte por não encontrar uma solução lógica. Muitas vezes dava certo, mas outras o personagem travava entre os obstáculos e o único jeito de arrumar era reiniciando o console.

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Outro ponto realmente ruim é a falta de seleção de fases no PS3, portanto se você ferrou com os corações de algum dos levels no progresso, se vira e vai desde o início. Na versão para PC arrumaram isso, além da adição 5 novas fases.

Não há troféus para o PS3/PSP, somente conquistas para os usuários do Steam.

Conclusão

Se você curte desafios interessantes e que fogem do comum, certamente Where is my heart? suprirá sua sede por puzzles. O game me proporcionou algumas horas de diversão (acredito que em torno de 3 horas) e ainda estou muito longe de fazer tudo. Mas vá com calma, pois a dor de cabeça – pela busca constante em entender como as coisas se ligam – é garantida também.

Disponível desde 2011 para PS3 e PSP pela Playstation Store ($ 6,99), e lançado em maio de 2014 para Mac, Windows e Linux através da Steam (R$ 15,99), Humble  ($ 7,99) e GOG  ($ 7,99)

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