Venha conhecer Vitamin, um mangá que aborda temáticas relevantes: bullying, assédio,, amor próprio e relações inter-pessoais

Alô pessoas!

Como prometi no meu post de dia internacional da mulher, trouxe hoje para discussão o mangá Vitamin, da autoria de Keiko Suenobu, concluso em apenas um volume. Originalmente publicado na revista Bessatu Friend em 2001, foi publicada no Brasil pela editora JBC em 2015 e traz uma temática que não pode ser deixada de lado. Peço licença para explorar o mangá e, para isso, é inevitável que eu exponha alguns spoilers, então caso você não queira ler, pare por aqui!

Prontos ou não, lá vou eu!

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História

A mangaká nos apresentou a história de Sawako Yarimizu, uma garota de 15 anos estudante do colégio Tomaru. Sawako faz parte de um grupinho de garotas que levam uma vida normal: hobbies, notas do colégio, faculdades que querem prestar, namorados… E aí reside o problema! Sawako namora Kouta, mas desde a primeira aparição do casal no mangá já é possível sentir a atmosfera de tensão, representando um relacionamento nada saudável. Kouta pressiona Sawako para que ela tenha relações sexuais com ele, embora seja bem evidente que ela não se sente à vontade para tal. Vamos conversar sobre isso em instantes, mas desde já gostaria de ressaltar que ele não emprega violência física em momento algum, e a relação ocorreu ainda que Sawako tenha demonstrado que não queria, mesmo que timidamente.

Enfim, não se preocupem e continuem lendo para acompanhar as discussões xD

Um dia Kouta fica para limpar a sala de aula, costume do povo japonês, e coincidentemente Sawako está a caminho da mesma sala, carregando pertences do colégio a pedido de um professor. Mais uma vez, Kouta aborda sua namorada e mesmo diante da hesitação de Sawako, eles iniciam a relação. Embora Sawako tenha colocado um bilhete na porta de “não entre”, um dos alunos os flagrou. Entretanto, foi possível ver apenas o rosto de Sawako, já que Kouta estava de costas. Nervosa, nossa querida protagonista mal dormiu.

No dia seguinte, Sawako se depara com a maior desgraça que poderia acontecer:

 

Sawako Yarimizu é uma piranha vagabunda

 

Sawako vira alvo de piadinhas e chacota – outro comportamento que será abordado no nosso bate-papo – e não só por ter sido flagrada. PASMEM: após tirar satisfações com seu namorado, a personagem descobre que ele disse aos outros que não era ele que estava com ela porque ele “foi no impulso mas ia protegê-la e dar um jeito depois”. A partir daí, o bullying só piora: desde camisinhas – aparentemente usadas, pois aparecem desembaladas em seus pertences – até um momento crítico do mangá em que as garotas a despem e desenham um panda em seus seios, dizendo que as garotas que “davam para todo mundo” ficavam com os mamilos pretos. Sawako se desespera e não tem para onde correr: o namorado terminou o relacionamento, o professor diz que ela deve ser mais forte e Sawako parece ter apoio apenas do pai – o qual parece fazê-lo por pena. Sawako enlouquece, inclusive há uma cena em que ela chega a pegar uma faca – não é muito claro se a intenção é suicídio ou auto-mutilação, mas eu vou com a primeira opção – mas é impedida por sua mãe.

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Sawako de pronto decide largar o colégio e ficar em casa desenhando mangás, o que sempre foi seu verdadeiro sonho – ofuscado pelo sucesso da irmã na faculdade que gerou a pressão que os pais exerciam sobre Sawako para que ela fizesse o mesmo. Uma de suas criações foi publicada, fator que desencadeou o apoio da mãe. Todos esses fatos foram como uma verdadeira “vitamina” para a querida protagonista, que decidiu comparecer à formatura e seguir seus sonhos. O desfecho é inspirador – e por isso a atitude será conversada também 😛

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O comportamento de Kouta

Vitamin_024-kouta Queria abrir um parênteses aqui para dizer que vamos analisar o comportamento de Kouta e sua incapacidade de lidar com o não.

O assunto polêmico: assédios, estupros e crimes do gênero. Pois bem, é cada vez mais recente a quantidade de denúncias dessas ações, até mesmo pelo encorajamento maior devido à repercussão de alguns casos na mídia – o que é um sinal excelente. Ainda é muito comum ver pessoas que defendem opiniões que perpetuam esse tipo de comportamento, desde o clássico “ela estava pedindo” até o “mas ela é minha esposa/namorada/companheira!” (como se o sexo fosse obrigatório em um relacionamento). O caso de Sawako se enquadra perfeitamente na segunda situação. Aliás, estatisticamente, a maioria de casos do gênero ocorre com pessoas próximas e familiares, dado que me deixa completamente horrorizada. Então, Kouta age dessa forma porque Sawako é sua namorada, e portanto acha que ignorar os sentimentos e a vontade da companheira é algo perfeitamente aceitável. ERRADO. É preciso que se saiba respeitar o outro como ser humano. Respeitar suas atitudes e opiniões e se contentar com a resposta negativa. Seria mesmo uma maravilha se o ditado “quando um não quer, dois não fazem” realmente fosse colocado em prática…

Outro aspecto que achei crucial discutir é o pensamento de que Sawako poderia ter evitado a situação se tivesse resistido mais. Claro, é certo que Sawako acaba cedendo por ter medo de perder seu namorado – e ela depois aprende a ter amor próprio <3 – mas isso JAMAIS justifica uma atitude abominável e desrespeitosa como a de Kouta. Se a pessoa não quer, NADA lhe dá o direito de fazer.

Nota: isso vale para o contrário também, pois existem homens que são estuprados da mesma forma. Apenas me dirigi ao público feminino por ser maior incidência e pela protagonista do mangá ser uma mulher.

O comportamento dos colegas: bullying

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bullying é cada vez mais frequente em nossa sociedade. Aliás, o mangá Limit da mesma autora (resenha em breve no blog) também retrata o bullying, mostrando esse ser um tema relevante para a mangaká Keiko Suenobu – assim como deveria ser a todos. O discurso do “mimimi” tem crescido muito, principalmente nas redes sociais, trazendo textos como “hoje tudo é bullying“. Mas a história em questão demonstra que o bullying pode ser mais violento do que se imagina.

Geralmente, os bullies (praticantes do bullying) sofrem de baixa auto-estima, a qual tem uma efetiva melhora a partir do sofrimento de outrem, geralmente mais fraco. Esses “valentões” – bem entre aspas mesmo porque de valentes não tem nada – buscam se manter cercados por pessoas com as quais estabelecem um vínculo afetivo ou uma relação de controle, promovendo os ataques àqueles que não participam do grupo, de forma a garantir sua posição no círculo de amizades. É constatado por uma pesquisa publicada no Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria que além de fatores individuais que contribuem na adoção de comportamentos agressivos como distúrbios comportamentais, impulsividade, entre outros, há ainda condições familiares que parecem favorecer o desenvolvimento da agressividade: desestruturação familiar, relacionamento afetivo deficitário com a família, excesso de tolerância, prática de maus tratos físicos e explosões emocionais como forma de afirmação do poder parental.

Quanto às vítimas, já está em vigor a lei nº. 13.185, de 6 de novembro de 2015, conhecida como a lei do bullying, que o configura da seguinte forma:

Art. 2º. Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência ou discriminação e, ainda:

I – Ataques físicos

II – Insultos Pessoais

III – Comentários sistemáticos e apelidos pejorativos

IV – Ameaças por quaisquer meios

V – Grafites depreciativos

VI – Expressões preconceituosas

VII – Isolamento social consciente e premeditado

VIII – pilhérias

A lei foi criada a fim de minimizar as incidências do bullying, instituindo capacitação de equipes pedagógicas para discussão, prevenção, orientação e solução do problema; campanhas de conscientização; dar assistência às vítimas, entre outras medidas previstas no art. 4º da lei, partindo-se do pressuposto de que a escola pode – e DEVE – mostrar aos alunos praticantes que essa não é a única maneira de se conquistar respeito ou de se destacar.

Se você presenciar um ato de bullying, denuncie, ainda que você não seja a vítima. Pode ser que ela esteja fragilizada demais, assim como a Sawako.

O comportamento do professor

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Como foi dito, o papel do professor e dos demais funcionários é levar o caso à direção para que as medidas cabíveis sejam tomadas, além de encorajar a aluna a procurar assistência psicológica se for o caso. Jamais a atitude do professor, após todo o relato de Sawako, deveria ser aceito. Esse pensamento dos últimos dois quadrinhos são um grande problema principalmente nos casos mais graves, como o do mangá, prolongando o sofrimento da vítima, até porque o comentário coage ainda mais a pessoa, plantando a ideia de que ela que é frágil demais, quando na verdade ninguém deveria ser sujeito a humilhações.

O comportamento dos pais

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O pai de Sawako lhe parece bem mais prestativo do que sua mãe. Ele foi o primeiro a notar os sinais de sua filha e buscou apoiá-la em seu sonho o máximo possível, embora diversas vezes foi possível notar o sentimento de “pena” que ele transmitia, principalmente quando dizia que ela estava “doente”.

A mãe de Sawako, por sua vez, é do tipo que nunca elogia, além de poder os sonhos de sua filha durante pelo menos 75% do mangá. A mãe de Sawako a trata por vezes como se ela estivesse se vitimizando, o que é muito triste.

É importante que os pais acreditem nos filhos e lhes prestem assistência, até porque muitas vezes uma conversa amiga e um abraço podem ser mais eficientes do que outro tipo de ajuda.

A reação de Sawako

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De forma alguma condenarei alguma reação de Sawako, mesmo a cena da faca. Só quem já passou por situações similares sabe o quanto é difícil relatar o que houve. Mas, apesar de tudo, é necessário tentar ao máximo para que o ofensor não saia impune, além da oportunidade de apoio emocional, já que ambas as situações podem causar trauma que seguem a pessoa para o resto de sua vida. É necessário enfrentar esse fantasma, mesmo após punição dos envolvidos.

Outra questão importantíssima é a recuperação da auto-estima e o amor próprio, sentimentos que deveriam ser cultivados em todos nós. Admito que são realmente sensações difíceis de se cultivar, inclusive devido à toda mensagem discriminadora que é disseminada na mídia ou até mesmo à evidente discriminação pela própria sociedade.

Resumidamente: Ame a si mesmo, tenha fé em si mesmo e se valorize. Ninguém é melhor do que ninguém e todos tem suas particularidades, sendo elas qualidades ou defeitos, o que nos individualiza. Por isso, não deixe que ninguém passe por cima de você. Seja forte como a Sawako e busque ao máximo correr atrás de tudo aquilo que lhe aflige, para que você possa seguir sua vida sem quaisquer interferências e deixar isso para trás.

Conclusões

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Sem sombra de dúvidas, Vitamin é um mangá que entrou na minha lista de obrigatórios. Além de todas as questões abordadas aqui no post, ainda existe uma outra crítica secundária: a escola não define quem você é. Quem já se formou sabe muito bem que a vida lá fora não tem NADA de comum com a vida do colégio. Todas aquelas coisas bobas que importavam de repente são ínfimas. Uma outra perspectiva ainda permite dizer que a faculdade não define seu futuro. Ainda que fazer a faculdade desse mais oportunidades à Sawako, ela optou pelo sonho de ser mangaká, ainda que fosse um caminho mais árduo e simplesmente porque isso traria felicidade a ela.

De todos os aspectos explorados, acredito que TODOS sejam muito interessantes para a reflexão. Dê uma chance para esse mangá e se surpreenda!

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