Pra quem sabe fechar um pouco mais perto da chave de ouro.

No final de agosto, a CBS anunciou que uma de suas séries mais populares, The Big Bang Theory, finalmente chegaria ao fim. A série, renovada por mais de dez temporadas, já há algum tempo tem atraído críticas sobre a forma como representa mulheres, pessoas de etnias diferentes e personagens deficientes, apenas como alvos de piadas em busca de risadas do público, em vez de personagens realmente interessantes.

A série representa a cultura nerd de uma forma terrível, – e vamos ser bem sinceras agora – apesar do Leonard, que muitas vezes tem todas aquelas características que podem ser consideradas incrivelmente nojentas pra um ser humano normal, talvez poder ser considerado uma representação bastante precisa dos homens brancos “nerds”, em suas atitudes e desejos. Tem vários, VÁRIOS, vários, vários, vááááários posts na internet criticando isso e outros pontos da série.

As histórias sobre geeks têm se tornado cada vez mais populares, uma vez que a cultura geek se tornou algo facilmente comercializada. Mas os filmes e séries de TV focadas em nerds, fãs e outros membros da cultura, acabam invariavelmente sendo escritas por homens brancos, sobre homens brancos, e sempre ridicularizando o que é considerado ser um geek.

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The Big Bang Theory pode ser a obra mais conhecida, mas o filme Fanboys é outro bom exemplo a ser estudado: a esquecida comédia tem como centro um grupo de amigos – todos brancos e uma mulher como prêmio – que planejam roubar “A Ameaça Fantasma” antes de seu lançamento, já que um deles está morrendo e quer ver o filme antes disso. Cheio de participações de artistas como Kevin Smith e Carrie Fisher, o filme é vulgar e ofensivo, dando preferência a piadas ruins sobre o elemento sentimental da história. Os protagonistas masculinos são paródias ridículas de tudo que esperamos que os fanboys sejam, e a única mulher, interpretada por Kristen Bell, é apenas um prêmio para um deles no final. Mas a pior cena do filme é aquela em que os membros do grupo estão “sendo testados” para ver se são fãs de verdade. Eles acertam todas as respostas, mas quando surge uma pergunta sobre sexo, todos ficam paralisados, exceto a mulher. Isso então, aparentemente, prova que eles são verdadeiros fãs de Star Wars. Não é uma boa piada. Não foi engraçado na época e continua não sendo hoje. Eu sei que muita gente nem pensa nisso como algo engraçado, mas de qualquer forma saturou bastante já. Hoje existem diferentes formas de ser geek e nerd, muito mais diversidade e absolutamente nenhum motivo para se apegar a piadinhas que todo mundo está cansado de ouvir talvez mais que as piadas do tio do pavê. Já dá pra fazer humor inteligente sobre geeks e críticas que sejam realmente atuais e úteis pro crescimento da galera.

Por mais incrível que possa parecer, é na literatura para jovens que tem surgido as melhores representações do universo geek, especialmente em obras escritas por mulheres. Esses livros contém um universo muito mais diverso de personagens e uma representação menos estereotipada deles.  “Fangirl”, de Rainbow Rowell, “Scarlett Epstein Hates It Here”, de Anna Breslaw,  “Gena/Finn”, de Hannah Moskowitz e Kat Helgeson. Várias obras excelentes, direcionadas para jovens e com foco no fandom e seus desafios.

Fangirl, da RR
Fangirl, da RR

Geekerella”, de Ashley Poston, é outro excelente exemplo de livros para garotas geeks. A história fala sobre Elle, que é uma fã da série cult de ficção científica “Starfield”, e odeia o elenco do reboot. Darien, estrela do reboot da série, está procurando alguém para se conectar. Eles acabam se conhecendo e lentamente se apaixonam por meio de mensagens de texto. E seu romance é uma das coisas mais fofas de todos os tempos. Elle parece uma fã de verdade de algo e um verdadeiro exemplo da cultura geek e como ela pode encontrar seu caminho por meio da ficção. Como resultado, o livro consegue evitar praticamente todas as armadilhas no caminho da escrita sobre fandom. Uma sequência intitulada “A Princesa e a fangirl” (The Princess and the Fangirl) deverá ser publicada no próximo ano.

E é incrível que pouquíssimas dessas obras sequer cheguem ao Brasil, e que também sequer cheguem a ser cogitadas para as telinhas e telonas. Já está mais do que na hora dessas histórias chegarem às telinhas também, e por isso propomos que a próxima grande série sobre geeks e cultura geek seja escrita por uma mulher. E que inclua mulheres negras, personagens LGBT, e pessoas com deficiência. Nós precisamos de uma representação honesta sobre como a cultura geek pode formar uma comunidade para identidades marginalizadas, que são ridicularizadas tanto pela sociedade “padrãozinho” quanto pela subcultura que tentam se integrar. A popularidade de sites como Black Girl Nerds, SyFy Fangrrls, Nerds of Color, entre outros, demonstra que não apenas há mercado para histórias não focadas em homens brancos, cis e héteros “nerds”, mas também que há mulheres interessadas em escrever para uma série do tipo.

A cultura geek é enorme. Eventos como a Comic Con são hoje muito maiores do que diversos festivais mundiais. Os atores hasteiam suas bandeiras geeks e a subcultura do fandom é uma chave para o mercado de hoje. Se assumirmos o fandom e nossa nerdice, temos de abraçar todas as suas facetas, parando de apresentar apenas estereótipos ofensivos e homens brancos como a regra.

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Esse negócio do homem branco, virgem, estranho, que se diz nerd e conquista a garota bonita no final já cansou. E isso da mulher prêmio já tinha cansado MUITO antes. Vamos mostrar como os fãs LGBT encontraram voz através do ship entre Spock e Kirk. Vamos contar a história dos fundadores da WakandaCon. Vamos mostrar como mulheres inteligentes podem fugir totalmente de estereótipos e servir como inspiração, como a Shuri. Simplificando, vamos encontrar uma nova cara e voz para a cultura geek.

The Big Bang Theory chegou ao fim. Vida longa ao seu sucessor. Mas deem uma chance às mulheres.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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