Em 13 de setembro de 1973, às 18:28:32, uma mosca califorídea, capaz de 14.670 batidas de asa por minuto, pousou na rua Saint Vicent, em Montmartre. No mesmo segundo, num restaurante perto do Moulin-de-la-Galette, o vento esgueirou-se como por magia sob uma toalha, fazendo os copos dançarem, sem que ninguém notasse. Nesse instante, no 5º andar do nº 28 da rua Trudaine, 9º distrito, Eugène Colère, de volta do enterro de seu amigo Émile Maginot, apagou seu nome da caderneta de endereços. Ainda nesse mesmo segundo, um espermatozóide de cromossomo X, pertencente ao senhor Raphaël Poulain destacou-se do pelotão e alcançou um óvulo pertencente à Sra. Poulain, em solteira, Amandine Fouet. Nove meses depois nascia Amélie Poulain.

Agora, como tá virando moda aqui, uma musiquinha para entrar no clima:

A infância

Seus pais não eram o que poderíamos chamar de afetivos e carinhosos, principalmente o pai, que só a tocava durante os exames médicos mensais. Amélie que sonhava em ganhar um abraço do pai de vez em quando, ficava emocionadíssima quando ele simplesmente encostava nela para ouvir seu coração com um estetoscópio. Justamente por isso, ele achava que ela tinha problemas cardíacos, pois toda vez que ele escutava seu coração, ele estava acelerado. Por causa dessa suposta doença, Amélie passou a ter aulas em casa com sua mãe, sendo privada do contato com outras crianças.
Tudo piorou ainda mais depois que sua mãe morreu. As duas estavam saindo de uma igreja, quando uma mulher x resolveu se matar se jogando lá do alto da torre, atingindo Amandine Poulain. Seria cômico se não fosse trágico. Seu pai, que já era frio, ficou ainda mais recluso. E Amélie Poulain resolveu passar a sua infância sonhando até o dia em que ela pudesse partir.

“Amélie Poulainices” quando criança

O episódio da máquina fotográfica
Depois de jogar Bubbler, o peixinho dourado no rio, a mãe de Amélie deu uma câmera fotográfica para consolar a menina.
Enquanto ela tirava algumas fotos, aconteceu um acidente de carro. Então o vizinho dela, foi apavorar a garota dizendo que cada vez que ela tirava uma foto, acontecia uma tragédia. E ela acreditou (#tammynhocafeelings)! A noite, em casa, ela olha aterrorizada para o jornal vendo todas as coisas ruins que aconteceram no mundo, e ela tinha certeza que a culpa era dela.
Quando ela descobriu a verdade, ela resolve se vingar. Ela ficou sentada no telhado do vizinho durante uma partida inteira de futebol, e sempre que ia ter um jogada importante, como um gol ou algo do tipo (porque eu não entendo nada de futebol), ela tirava o cabo do contato da antena, deixando o cara maluuuco (pense como aquele seu amigo viciado em futebol reagiria)! A cara que ela faz na frente da TV é uma das mais engraçadas do filme, se quiser ver tem a cena no final deste post [1].

A mulher em coma
Outra coisa que ela imaginava era que uma conhecida que estava em coma na verdade só tinha escolhido dormir o sono de uma vida inteira de uma vez só, porque assim quando ela levantasse, ela poderia ficar acordada dia e noite até o fim da vida. Fofinho, não é?

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Um pequeno acontecimento muda a vida de Amélie Poulain completamente. Foi exatamente no dia 31 de agosto de 1997, o dia em que a Lady Di morreu (mas não foi isso hehe). Ela ficou tão chocada ao ouvir a notícia que deixou a tapa do seu perfume cair, e esta rolou até bater em um ladrinho do banheiro. A pequena pancada mostrou que ele estava solto. Então Amélie descobre que atrás do ladrilho tinha uma caixinha que algum menino escondeu lá pelos anos 50. Dentro da caixinha, tinha diversos tesouros de criança, como foto de um jogador de futebol, bonequinhos e figurinhas. A partir daí ela sai em busca do dono da caixinha.
Mas ela não faz isso como uma pessoa comum, claro, porque ela é Amélie Poulain! Ao descobrir quem é o homem, ela espera até ele passar do lado de uma cabine telefônica, e liga para ela bem no momento em que ele está ao lado. Quando percebeu que ninguém ia atender o telefone, ele mesmo foi até lá. Porém desligam na cara dele. E nesse exato momento ele olha para baixo e encontra a caixa. Quando Amélie vê que o homem começa a chorar de emoção, fica espantada e o segue até um bar. Lá ela fica parada perto dele e escuta ele contado para o barman que uma coisa fantástica havia acontecido com ele, e que isso ia fazê-lo tomar várias atitudes em relação a vida, como visitar a filha que ele não vê a muito tempo e conhecer o seu neto.
É nessa hora em que a vida da própria Amélie Poulain muda, e ela passa a ter o desejo de ajudar as outras pessoas, mas sempre anonimamente e com pequenas coisas, que é bem característico de sua parte.

Amélie Poulain e suas poulainices

Nossa personagem cultiva um gosto particular pelos pequenos prazeres. Aliás, o filme inteiro se trata disso, das pequenas coisas da vida que muitas vezes nos atingem muito mais do que as grandes.

Amélie gosta de: ir no cinema e se virar para trás no escuro para observar o rosto dos outros; procurar detalhes nos filmes que ninguém vê; enfiar a mão bem fundo no saco de cereais; quebrar a cobertura do “creme brúlée” com a colher e jogar pedras no canal Saint Martin.

Amélie não gosta: de quando os motoristas dos filmes não olham para a estrada e do dono da hortifruti, o Corllingon.

Ela também se diverte com perguntas idiotas sobre a cidade à sua volta. Como por exemplo, quantos casais estão tendo orgasmo nesse exato instante? Ela chega a uma conclusão: 15!

Como eu disse, depois de ajudar Bretodeau (o dono da caixa) ela passa a ajudar outras pessoas ao seu redor. Alguns de seus feitos são (atenção! Se você quer ver o filme, nas próximas linhas contém spoilers):

1) Gravar coisas interessantes da televisão para o “homem-de-vidro” que não pode sair de casa há 20 anos e que, além disso, usa a televisão apenas para ver as horas. E deixa as fitas na casa dele anonimamente.
2) Ela escreve uma falsa carta de amor para a vizinha que foi abandonada pelo marido e que morreu em um acidente na América do Sul. Na carta dizia que ele se arrependia do que tinha feito e que voltaria para ela. Mas por um “pseudo-acidente” nos correios, a carta chegou muitos anos depois, mas a mulher ficou feliz por saber que seu marida realmente a amava.
3) Ela faz com que a solitária moça hipocondríaca da tabacaria e o solitário cliente maluco do gravador se apaixonem e fiquem juntos, acabando com sua solidão.
4) E o principal (para mim), é ajudar o seu pai, fazendo com que este, que vivia recluso em sua casa, saísse para conhecer o mundo. E ela consegue isso de um jeito único, ela rouba o anão de jardim dele e pede para sua amiga aeromoça tirar fotos dele de diversos lugares do mundo, e depois enviar para Raphaël Poulain.
5) E uma das partes mais cômicas é quando ela invade a casa de Corllignon para se vingar dele mexendo em pequenos detalhes da casa fazendo ele achar que está ficando maluco.

[/SPOILERS]

Amélie Poulain se apaixona

No meio do filme, ela encontra Nino Quincampoix, por quem se apaixona à primeira vista. E ela não poderia ter encontrado alguém mais perfeito para ela. Nino também é meio maluco sonhador, e seu hobby é colecionar diversas coisas. Naquele momento ele colecionava fotos 3×4 que as pessoas não gostavam e jogavam fora logo depois de sair da máquina. Outra coisa que ele colecionava eram empregos; ele trabalhava numa loja de pornôs e no parque de diversões ao mesmo tempo, mas também já tinha trabalhado como Papai Noel de Shopping e guarda-noturno. Mas antes de dar tudo certo no final, ela põe em ação diversos “estratagemas” para se aproximar dele. Mas o que importa é que sim, ainda há uma esperança para os sonhadores nos tempos de hoje.

Interpretações

Audrey Tautou

Dizem que ela foi escolhida pelo papel 10 segundos depois que entrou para fazer o teste. O diretor ficou fascinado por ela de cara! E não é à toa, não podemos imaginar uma Amélie melhor. Dizem também que o que mais chamou atenção nela foram seus grandes olhos escuros, que o diretor busca captar a todo momento no filme. Caso você não se lembre, você pode vê-la também nos filmes O Código da Vinci e o recente Coco Avant Chanel (pelo menos esses são os que ficaram conhecidos por essas bandas daqui).

Flore Guiet

Também não podemos deixar de lado essa menininha, que apesar de só aparecer no comecinho do filme, também faz Amélie Poulain perfeitamente quando criança. Por curiosidade, Flore mora atualmente em Ilhabela, aqui em São Paulo mesmo.

São Tempos Difíceis para os Sonhadores


O filme tem algumas frases muito boas que eu gostaria de compartilhar aqui:

“Estranho o destino dessa jovem mulher, privada dela mesma, porém, tão sensível ao charme das coisas simples da vida…”

Pintor: “Ela prefere imaginar uma relação com alguém ausente do que criar laços com aqueles que estão presentes.” Amelie: “Hummm, pelo contrário. Talvez faça de tudo para arrumar a vida dos outros.” Pintor: “E ela? E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?

“Pois estragar a propria vida é um direito inalienável”

“Então, minha querida Amélie, não tem ossos de vidro.Pode suportar os baques da vida.Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus”

Vídeos

Você que leu esse post e ficou com vontade de ver o filme (de novo ou pela primeira vez), vou por algumas cenas aqui, só para piorar um pouquinho:

A história de Bubbler, o peixe suicida e a Câmera Fotográfica [1]

Amélie gosta de:

Quando aparece o coração dela batendo pela primeira vez por Nino:

O momento em que ela guia um cego pela cidade:

Corllignon acha que está ficando louco:

OBS: Esse texto inteiro foi escrito sob a trilha sonora do filme, se alguém quiser pode pedir hahah

OBS2: E se você que nunca viu o filme já torceu o nariz por ser um filme francês e já pensou em vir me trollar por eu ser uma “pseudo-cult”, então peço que, antes de mais nada, assista! Eu admito que tenho certos preconceitos com o cinema francês, mas O Fabuloso Destino de Amélie Poulain me fez quebrar esse preconceito.

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