Uma pena.

Infelizmente, os remakes em live-action de Mulan e Aladdin não foram grandes sucessos perante a crítica, mas esse não é o maior problema. A verdade é que essas duas produções gigantescas também foram enormes oportunidades perdidas para uma colaboração cultural histórica. Desde a versão em live-action de 101 Dálmatas (1996), a Disney sabe que a recriação de suas obras clássicas de animação pode ser lucrativa, e filmes como Alice no País das Maravilhas (2010) e O Rei Leão foram muito populares (e lucrativos). Mas nem todo remake foi um sucesso entre os críticos, e ainda assim, a Disney não parece aprender nada com seus erros no passado.

A ideia de um remake em live-action para Mulan surgiu ainda em 2010. Após diversos adiamentos, o projeto foi ressuscitado em março de 2015, e em outubro de 2016 surgiu a primeira informação de que o filme teria sua estreia marcada para o mês de novembro de 2018. Também em outubro de 2016 surgiu a informação de que um remake de Aladdin estava sendo produzido, e que deveria ser lançado pouco após Mulan. Com grandes problemas nas duas produções, evitáveis em ambos os casos, caso a Disney optasse por colaborar com as culturas que queria representar nos filmes, e apelas para sua atenção.

Desde o início, ambos os filmes já ficaram marcados por controvérsias sobre como estariam lidando com o material cultural envolvido. Aladdin em particular, foi massacrado por diversos motivos, inclusive pela escolha de Naomi Scott como a protagonista Jasmine (ela não é do oriente médio), pela introdução desnecessária de um personagem branco, e pelos diversos relatos que apontavam que figurantes brancos estavam sendo maquiados para parecerem “mais étnicos” (uma prática ironicamente apelidada de “brownface”). Se houvesse algum esforço para se aproximar das indústrias cinematográficas dessas regiões, certamente a maior parte (se não todos) destes problemas não teria acontecido.

Com Aladdin e Mulan, a Disney perdeu uma oportunidade para realmente colaborar com outros países, tentando melhorar a representatividade nos filmes originais em animação.

As empresas de produção envolvidas em ambos os filmes eram todas estadunidenses. Nenhum dos filmes foi dirigido por um indivíduo envolvido com as respectivas culturas, apesar de ambos serem baseados em contos folclóricos recheados de importância cultural. Mulan é baseado no poema ancestral chinês “A Balada de Mulan”, enquanto Aladdin reconta a história do conto árabe “Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa”.

A China possui uma imensa indústria cinematográfica, em flagrante ascensão, então escolher não contratar roteiristas, escritores, produtores ou mesmo diretores chineses é algo assustador.

A contratação de Niki Caro para dirigir o filme é especialmente ofensiva nesse sentido, levando em consideração sua relativa falta de experiência e as críticas recebidas pela forma como ela apresentou a cultura japonesa em seu filme, Memory and Desire (1998). De forma similar, temos vários diretores árabes aclamados pela crítica, como o cineasta Haifaa Al-Mansour (seu primeiro filme, Wadjda, por exemplo, foi nomeado para o BAFTA, em 2014), que poderia fazer mudanças interessantes em Aladdin. Em vez disso, o escolhido foi o diretor inglês Guy Ritchie – conhecido por seus filmes britânicos sobre gângsters – que decidiu ter uma pegada inspirada em Bollywood na história árabe, escolhendo a estrela estadunidense Will Smith para o papel do gênio (e narrador da história).

A contratação de Ritchie fez um pouco mais de sentido, pelo ponto de vista de ser um diretor aclamado, mas ainda assim, sua abordagem inspirada na cultura da Índia para uma história árabe foi no mínimo um erro.

E o mais irônico é que os primeiros relatos sugeriam que o remake de Aladdin seria ambicioso e não tradicional, e o filme seria em formato não-linear. Isso seria muito mais condizente com o material-fonte, que era a coleção de contos árabes conhecido no ocidente como “As Noites Árabes”. E alguns podem alegar que a Disney não queria mudar a fórmula existente, que já havia feito dinheiro no passado – mas não deixa de ser desapontador.

Com Mulan sendo um fracasso retumbante na China novamente, talvez a Disney agora pare de tentar comercializar outras culturas a fim de criar entretenimento lucrativo. Ou pelo menos, talvez a próxima produção tenha uma tomada um pouco mais próxima da cultura que ela tenta representar.

Sonhar ainda é de graça.


Fonte: Screenrant

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