Veja também os melhores personagens LGBT do mundo otaku!

Depois do texto maravilhoso sobre “Por que precisamos de mais LGBT no universo nerd“, achei que seria super bacana criar uma reflexão em torno disso no universo otaku, especificamente.

Senta que a conversa vai ser longa. Mas bora lá!

Considerações iniciais

Mesmo sendo um país conhecido por seu conservadorismo, o Japão tem tomado a liderança da representação LGBT na mídia durante diversos anos. Embora grande parte dessa incumbência fique a cargo de subgêneros dedicados inteiramente às relações amorosas e sexuais entre pessoas do mesmo gênero em mangás e animes (como nos mangás shoujo ou shounen-ai, assim como especificamente nos mangás yaoi e yuri), não deixa de ser verdade que muitas das obras mais populares ou mesmo as mais tradicionais de animes e mangás japoneses incluam personagens gays, lésbicas e transexuais, ainda que como membros de um elenco secundário. Detalhe importante: mesmo que o título tenha apenas a palavra LGBT, também estou incluindo nesse meio os personagens travestis, crossdressing e andróginos.

Tá aí o Bon Clay, do anime One Piece – de autoria de Eiichiro Oda, como um dos meus exemplos preferidos.

É perceptível para qualquer interessado na cultura japonesa de animes e mangás que existe uma longa lista de personagens que se identificam abertamente nas histórias como gays/lésbicas/trans e afins. No entanto, infelizmente, nem sempre isso é sinônimo de uma representação positiva. Em várias destas histórias, os leitores mais críticos apontam uma tendência de se utilizar limites de estereótipos ultrajantes e de se jogar personagens em papéis muito específicos. O maior exemplo disso é: mais do que frequentemente, essa representação fica responsável apenas pela parte de alívio cômico da história, então os personagens têm comportamentos geralmente injuriosos e muitas vezes são mostrados simplesmente como personagens lotados de maneirismos (gesticulação artificial, exagerada ou ritualística de movimentos corporais) femininos. Quando se trata de representação de personagens lésbicas, assim como nos casos em que elas da mesma forma são usadas como alívio cômico nos enredos, muito se perde quando por trás existe apenas o fetiche e a sexualização exacerbada.

A primeira questão firmada aqui é evidenciar que obviamente existe(m) um (ou alguns) enigma(s) no que concerne à representação LGBT dentro do mundo otaku, mas mostramos primeiramente estes pontos negativos para então tentar ascender os pontos positivos e mostrar como eles são importantes para o universo geek/otaku, citando vários exemplos de personagens mais marcantes (ao menos os que me recordo no momento; sintam-se à vontade para postar nos comentários outros exemplos do conhecimento de vocês).

Presença LGBT na mídia de animação japonesa

Se você for parar para analisar, vai perceber que a temática LGBT sempre esteve presente nas produções de animação japonesa em geral. Mas podemos ousar ao dizer que foi em meados de 1973 que ela começou a se revelar de maneira menos tímida e mais representativa. Nesse ano foi produzido o anime Gatchaman, provavelmente um dos primeiros animes a introduzir a ideia de um personagem com corpo masculino e uma alma feminina, que foi o personagem de Kratz Berg, também conhecido como Galactor. A partir daí, outros diversos exemplos explodiram na mídia. Nos animes e mangás mais velhinhos, vários personagens foram sendo notados e outros tantos surgiam nos mais recentes: General Blue de Dragon Ball (1986!!)… {saca só que coisa hilária}:

…Griffith de Bersek (1988), Kurama e Karasu de Yu Yu Hakusho (1990), Leiga em Shurato (1990), Kamatari Honjo em Rurouni Kenshin (ou Samurai X) (1994), Hell de Jibaku-kun (ou Bucky) (1999)… E muitos, muitos outros. O famoso e popular grupo de mangákas da CLAMP, por exemplo, são mestras (sim, mestrAs, porque a CLAMP é um grupo formado unicamente por mulheres) em criar triângulos amorosos não convencionais. Porém os exemplos não pararam nem de longe por aí. E antes que você me pergunte, sim, nem todos tinham a homossexualidade assumida, mas… Ficava sempre aquela incógnita no ar. E em alguns casos os próprios autores dos mangás confirmavam em entrevistas que os personagens realmente eram homossexuais.

O que já dá pra começar a perceber é que isso não é de hoje, então vamos desde já desmistificar aquela bobagem do “na minha época não existia essas coisas”. Sempre existiu e sempre irá.

De One Piece a Cavaleiros do Zodíaco

Em séries populares de shounen como One Piece, Bleach e Fairy Tail, personagens gays assumem papéis secundários, em geral também com esta tendência de alívio cômico. Em Fairy Tail, há o Bob, o mestre crossdressing da guilda de Blue Pegasus, que é um “flerteiro” sem caminho de volta. Em Bleach, o exemplo de personagem secundário recorrente é o Ayasegawa Yumichika, um shinigami ~levemente~ extravagante. Já One Piece apresenta a “Rainha das Queers” ou Okama Queen (okama é uma gíria japonesa para a palavra travesti), um dos comandantes do exército revolucionário chamado Emporio Ivankov, uma drag queen cujo poder mais característico é o de modificar os hormônios do inimigo e transformá-lo em uma pessoa do sexo oposto. E há, claro, o fascinante Bon Clay <3, que também é um okama super animado e um exímio dançarino de balé, o que também é seu estilo de luta: o Ballet Kenpo.

A apresentação dos animes acima traz um reflexão sobre a necessidade de incentivo e até mesmo conscientização de mangakás e otakus em geral a respeito da criação e apreciação de personagens que fujam do estereótipo massivo nesses animes: o “gay-pastelão”. No entanto, felizmente, praticamente tudo que tem seus contras também tem seus prós. No caso de One Piece, por exemplo, o Ivankov e o Bon Clay são aclamados heróis que salvam o protagonista diversas vezes de situações que, sem dúvidas, ele não conseguiria se safar sozinho. Os fãs de One Piece já conhecem a filosofia do Okama Way (máxima utilizada por Bon Clay) e sempre peço para que eles pensem nela não apenas por apreço ao personagem, mas por sua significância, que é de extrema importância para mostrar que não é a identidade de gênero ou a orientação sexual que faz uma pessoa boa ou ruim:

Há aqueles que se extraviam do caminho da masculinidade.
Há aqueles que se extraviam do caminho da feminilidade.
Mas não se deve extraviar do caminho da humanidade!
Todos os amigos devem se espalhar pelo céu da verdade e florescer! Okama way! – By Bon Clay

Sim, ele também fala o “by Bon Clay” no final, lol. Então, a ideia é que ainda que estes personagens sejam utilizados na maior parte do tempo para alívio cômico, seja imprescindível haver mais do que apenas isso. Eu citei especialmente One Piece pra exemplificar isso porque a naturalidade entre personagens (supostamente, porque nem todos confirmam) héteros e personagens com outras identidades de gênero no enredo é evidente, e porque essa diferença em momento algum é colocada como algo que diminui, humilha ou inferioriza o personagem como pessoa. E é isso que é importante.

Outro exemplo valioso, que penso ser a principal representação positiva famosa dos trans – ou, neste caso, também cabendo o termo bissexual – seria Ryoji “Ranka” Fujioka, do mangá/anime Ouran High School Host Club. Ryoji é o pai da Haruhi, a protagonista, que também se transveste como menino a história praticamente toda, mesmo que graças a uma mera e atrapalhada confusão. O comportamento de Ryoji na série é sempre alegre e vivaz, e ele é geralmente mostrado vestindo roupas femininas. Ele tem um lado mais sério e perigoso, apresentado sempre que corre para proteger sua preciosa filha.

Acho essencialmente fantástica a forma como Ouran é totalmente receptivo ao assunto da homossexualidade ou transexualidade, de tal forma que até a própria protagonista enfatiza que não vê problema algum em se vestir ou ser confundida com um garoto na escola.

Para Haruhi, o que importava na verdade era o caráter da pessoa. E que era mais divertido conhecer uma pessoa pouco a pouco pela personalidade dela, não por sua aparência.

Haruhi melhor pessoa <3

E quem poderia deixar de lado um exemplo como o Shun, de Cavaleiros do Zodíaco? Nós é que não, é lógico! Segundo uma matéria que saiu no G1 (!!??), o produtor do novo filme de CDZ, Yosuke Asama, fala de uma das polêmicas em relação ao Shun, o cavaleiro de Andrômeda. No anime, ele tinha armadura cor de rosa, com “seios”. Asama fala que a equipe recebeu inúmeras mensagens dos fãs perguntando se Shun era gay e explica:

Não o fizemos homossexual, mas com sexualidade indefinida. Shun é um rapaz bonito, gentil e educado que dá valor à amizade. A ideia era passar a mensagem de que a amizade entre os cavaleiros é importante: é com ela que vencem as batalhas. Queremos que a nova geração veja como é aceitar quem é diferente.

Preconceito vindo dos próprios otakus

Nem seria necessário comentar, pela obviedade da coisa, que o Shun lidera os termos chulos (que não merecem ser reproduzidos) vindos da trupe de fãs e otakus em geral que adoram cunhar personagens assim, né? E olha, francamente, acho esse preconceito dos otakus enormemente irracional, uma vez que o próprio grupo otaku se auto-reconhece muitas vezes como alvo de preconceitos por “gostar de desenhos japoneses”. Mas a verdade é que, infelizmente, mesmo dentro de grupos segregados é comum encontrarmos comportamentos segregadores. É fácil notar entre ambientes mais comuns dos otakus – como fóruns, blogs, canais de vloggs no YouTube ou páginas específicas na internet – os apelidos nada carismáticos: “normalfags”, “narutards”, “onepiecetards” e por aí vai. São muitos os termos e os preconceitos dentro dos próprios fãs de animes e mangás, lamentavelmente. Bora botar a mão na consciência…

O pior de tudo é que muitos nem discutem a história, mas barram materiais por puro e simples preconceito, o que está acontecendo com muita frequência: as pessoas não chegam nem perto de um anime, mesmo que seja uma obra incrivelmente bem elogiada como está sendo, por exemplo, Sakamichi no Apollon, por ele ter conteúdos ou insinuações homossexuais – ou mesmo mais femininas. Ignora-se a qualidade da história para se focar no preconceito contra um ou outro detalhe! Mas olha: o que realmente importa, pessoas, não é se o casal ou o personagem é hétero ou homossexual, e se sim os produtores, animadores e diretores conseguem contar a história de forma boa, ok? Como eu citei neste post:

Uma obra e sua qualidade devem ser julgadas por argumentos efetivos e fundamentados como a originalidade, o impacto da história na época de publicação, o desenvolvimento da história e dos personagens, o refinamento da arte e a capacidade de conexão com o seu público alvo, por exemplo. Se a obra atinge os objetivos por ela propostos, se ela é original e inovadora… Mas, acima de tudo, a forma como o mangá ou o anime é desenvolvido.

Se analisamos assim, independente do gosto pessoal de cada um, a qualidade da obra vai ser a mesma. (Até mesmo porque seus valores nem sempre vão ser compartilhados com todo o resto da humanidade, né? Aceitar isso é primordial para não voltarmos à Idade Média).

Naruto e os costumes japoneses

No mangá/anime de Naruto temos o personagem Haku, um jovem ninja da Vila Oculta da Névoa que se vestia com kimonos, tinha cabelos compridos, e era um dos personagens mais populares da série ninja. Esse exemplo do mangaká Masashi Kishimoto felizmente foge um pouco do padrão cômico de animes populares em geral, e mostra Haku fora do ambiente de batalha, agindo naturalmente como uma garota comum, sendo que até o Naruto acaba se sentindo meio derretido por ele, momentaneamente. Apesar de ser um dos primeiros antagonistas com força extraordinária da série a enfrentar o protagonista, ainda assim adquiriu sua admiração como pessoa e como ninja. Outra coisa que também torna a saga de Haku incrível é o relacionamento, mesmo que implícito, que ele tem com seu mentor, Zabuza.

PS.: Também tenho o Orochimaru nas suspeitas, já que ele viveu um boooooom tempo num corpo de mulher – uma das “cobaias” que ele utilizou para sobreviver – e ele não pareceu se incomodar nem um pouco com isso. (Apesar de eu ser da opinião de que ele era uma criatura assexuada… Mas ele teve um filho, então ok né).

Haku <3 Zabuza

Na verdade, graças ao Haku, entramos em outro ponto crucial dessa conversa: a ideia de que travesti e crossdressing (pessoas que usam roupas tradicionalmente associadas ao sexo oposto), estão associados à marginalidade. Só que isso não é exclusividade do Brasil ou da cultura europeia, por exemplo, acontece em todos os grupos sociais. No entanto, quando temos casos de marcas sociais diferentes em encontros de culturas, pode haver dificuldades de entendimento a esse respeito. Então vamos explicar: No Japão, a roupa clássica tradicional era o kimono, que no fundo é… uma “saia”, e que era usado tanto por homens quanto por mulheres. Não era uma ideia tão arraigada de “calças para homens e saias para mulheres”. É claro que existem kimonos diferentes, inclusive para sexos opostos, mas no fim, para um ocidental, eles parecem a mesma coisa: uma saia. A ideia dessa argumentação é explicar que personagens de mangás e animes não se sentem “pervertidos” ao usar roupas do sexo oposto, seja por praticidade ou como artifício para conseguir o seu intento (como quando Zoicite se disfarça de Sailor Moon para atacar o Tuxedo Mask ou o Bado de Patlabor se disfarça de odalisca para fugir do país) ou simplesmente por gosto pessoal mesmo (como Rubi Moon de Sakura Card Captor, que realmente é do sexo masculino, mas que optou por usar o uniforme feminino da escola e suas saias porque “eram mais bonitas”). O mesmo vale para a questão dos cabelos, já que por muito tempo homens e mulheres no Japão usavam os cabelos compridos, embora houvessem diferenças no modo como eram penteados (inclusive, é sabido que os samurais consideravam uma desonra cortar o cabelo).

Diferenças continentais e tabu

Assim, muitos dos sinais que recebemos de personagens de mangás e animes são lidos, em nossa sociedade, como marcas de um comportamento social (e sexual) marginal.

Esperamos dos homens que sejam “rudes”, “fortes” e descuidados de sua imagem pessoal, que tenham cabelos curtos, nunca usem saias ou maquiagem, que não se aproximem fisicamente de outros homens (a não ser na comemoração dos gols no futebol, né) e que não mostrem seus sentimentos. Das mulheres, esperamos que sejam belas e preocupadíssimas com a aparência e seus longos cabelos, que sejam frágeis e medrosas e que pensem o tempo todo em como conseguir um homem que as proteja.

Quando encontramos personagens masculinos que apresentam cabelos compridos, traços delicados e comportamento sensível (como um símbolo de seu caráter) ou mulheres de cabelos curtos, traços fortes e comportamento agressivo (como marcas de sua determinação) ou personagens travestidos (seja lá por qual for a razão), nós os identificamos imediatamente com o que esses sinais significam em nossa sociedade – a homossexualidade – e com toda a carga negativa que esse conceito tem na sociedade (em geral cristã) ocidental.

No entanto, para entender melhor o porquê de personagens gays em mangás e animes, precisamos ver as causas da ausência de tais personagens nos quadrinhos e desenhos animados ocidentais: tabu. O resumo de tudo é praticamente “só” isso. Um tabu é algo que existe, mas sobre o qual não se fala em público, não se discute e, principalmente, que se esconde ao máximo, para que a sua simples menção não “corrompa as mentes mais fracas”. E é por isso que a homossexualidade geralmente é simplesmente banida de tudo o que tenha a ver com crianças nos meios de comunicação ocidentais. Porém, outras sociedades não-cristãs não costumam ter esse preconceito tão fortemente arraigado, muito provavelmente graças às diferenças de doutrinação religiosa e suas condenações. Infelizmente isso não quer dizer que casais homossexuais ou o grupo LGBT não sofram preconceito no oriente, mas que em geral podem ser mais bem tolerados que no ocidente.

A partir daí, acho então de suma importância enfatizar pelo menos alguns dos fatídicos momentos em que séries nipônicas ou seus episódios foram colocados ao ar com versões cortadas ou simplesmente banidos em diversos países (em geral ocidentais) simplesmente por essas aparições homossexuais ou de crossdressing.

Um grande exemplo dessa censura é o episódio de Pokémon, onde James se veste de mulher e aparece com seios (episódio 18 da 1ª temporada: Férias em Acapulco), que foi banido e extremamente criticado no ocidente. Ainda assim, o James e a Jessie continuaram fazendo crossdressing por muitos outros episódios.

Equipe Rocket <3

Um outro exemplo disso é quando o Kurama de Yu Yu Hakusho foi transformado em personagem feminino na televisão filipina.

Situações como essa não apenas são decepcionantes como também acabam por alterar radicalmente a concepção original do autor sobre as relações nas quais se baseiam a trama. Felizmente, porém, isso está sendo bem menos recorrente atualmente.

!REPRESENTATIVIDADE IMPORTA!

Mangás e animes buscam a mais próxima possível identificação com o leitor e com a sua realidade. Assim, como há realmente homossexuais no mundo (apesar de muita gente não gostar do fato), eles TÊM de ser representados nas obras para que possam se identificar com elas.

A presença LGBT nos mangás e animes apenas contribui para que as pessoas cisgênero reconheçam, nas obras, o mundo do qual fazem parte.

Mas seja qual for a razão dessa representação, a presença de personagens LGBTs em mangás e animes têm sempre influência sobre a trama e qualquer modificação dessa característica acaba desvirtuando a obra, por isso minha ênfase nesses casos tristes de banimento ou de alteração do enredo e dos personagens.

Animes com temática lésbica

Personagens lésbicas, por outro lado, tendem a ser retratadas de uma forma mais séria nos mangás e animes. As primeiras personagens lésbicas que os espectadores ocidentais encontraram foram provavelmente a Haruka Teno (Sailor Urano) e a Michuru Kaio (Sailor Netuno) de Sailor Moon.

Na verdade, Sailor Moon tem uma longa lista de personagens e casais homossexuais, mas este é o mais proeminente deles. Ambas, Haruka e Michuru, foram ocasionalmente um par amoroso, mas na maior parte da trama elas foram retratadas como personagens super maduras, inteligentes, sérias e poderosas ao invés de apenas bases de alívio, como nos quadrinhos. Graças a isso, Sailor Moon atingiu uma expressividade maior e um carinho muito grande de um público bastante amplo.

Encontrar exemplos lésbicos em anime e mangá é muito mais difícil do que personagens gays masculinos, principalmente porque esses personagens gays parecem já ser um quase-padrão do gênero shounen. A maioria dos exemplos vêm de franquias mais antigas, como Devilman /Devilman Lady e Revolutionary Girl Utena, onde a série clássica de ‘gender-bender’ também contou com poderosas personagens lésbicas e uma atração sexual entre as personagens Anthy e Utena.

Seria um pecado da minha parte não mencionar o absolutamente incrível Cutie Honey, que é um anime também de 1973, o ano magya citado no começo do post<3 Nele, a protagonista frequenta uma escola católica (treta) onde todas as alunas e professoras são lésbicas! A Terra é invadida por monstras lésbicas e a confusão está toda feita. Cutie Honey na verdade foi o precursor dos animes de gênero mahou shoujo, ou seja: garotas que usam magia. Porém, Cutie Honey tinha um público mais voltado para o sexo masculino. Só que ainda assim era uma baita peitada mesmo no conservadorismo. Por que? Porque os anos 60 e 70, principalmente, foram muito conturbados num Japão recém saído de uma Segunda Guerra Mundial, que ao mesmo tempo que se abria timidamente de novo para uma nova liberação sexual depois de haver muita censura, havendo também o contraste pelos valores e códigos morais dos mais conservadores. Detalhe crucial: Sailor Moon foi inspirado em Cutie Honey!

Em Sakura Card Captors, anime cuja protagonista era rodeada e abraçada o tempo todo pela sua melhor amiga, a meiga Tomoyo, também deixava uma incógnita. Ou vai dizer que a frase “Sakura, eu gosto de você, mas é de um outro jeito” não tinha uma outra conotação?

YES, TINHA SIM!
YES, TINHA SIM! Créditos da foto: Camila Kinomoto

[spoiler]No episódio 66 do anime, Yukito (o amor platônico da protagonista) chega a confessar para Sakura que ele estava apaixonado por Touya, o irmão dela.[/spoiler]

Não é difícil ver uma lacuna entre personagens gays e lésbicas – não apenas em estereótipos, mas também na representação de cada grupo. Os mangás mais modernos, especialmente shounen, frequentemente apresentam homens gays, e embora eles geralmente usem os personagens como alívio cômico, vários deles têm inúmeras aparições durante a série e têm a oportunidade de contribuir muito para as principais histórias, como vimos anteriormente. Por outro lado, muitos exemplos de personagens lésbicas de séries bem antigas (coisa de décadas) são apresentadas como mulheres maduras com extremo apelo sexual feito para o prazer quase exclusivo do público masculino em vez de especialmente para mulheres lésbicas. Fica aqui o apelo aos mangakás, artistas de comics e demais criadores:

FAÇAM MAIS MULHERES FORTES! Criem mais strong female leads! Façam mais animes de lésbicas PARA LÉSBICAS! 

Por sorte, mais e mais mangakás estão incorporando personagens LGBTs em suas histórias, criando novos papéis e personalidades diferentes para eles. E eu sinceramente espero que eles possam fazê-lo rompendo com os estereótipos que subalternizam as personagens. Fico muito feliz por ser fã de animes e mangás que não se importam em mostrar personagens com diferentes sexualidades e gêneros de forma não banal. E mais feliz ainda por ver fãs críticos e respeitosos.

E por fim…

Percebemos que o Japão, mesmo que com seus escorregões, muitas vezes fica um pouco à frente de muitos países por não tratar tanto esse tema como tabu. E não é que a televisão japonesa seja extraordinariamente progressista. É que a televisão americana (e ocidental em geral) é extremamente conservadora.

Mas o importante aqui é entender que essa temática sempre existiu na indústria de anime e mangás e tende a aparecer ainda mais, já que o assunto toma cada vez mais relevância.

No mais, sejam amorosos, galera. Todo mundo deve ter a liberdade de ser o que quiser. Toda forma de ser e de amar é válida!

Sejam amorosos como o Luffy, obrigada <3

Post adaptado do Girls in Capes. Muitos agradecimentos e créditos também ao post do Entre homens, ao post do Art Poissons e ao post do Elfen Lied Brasil, que nos deram ótimos exemplos de animes do post e reflexões imensamente bacanas do assunto.

Bônus: A LorelayFox fez um vídeo super bacana também nesse assunto, mas falando um pouco mais sobre desenhos ocidentais mais recentes e a temática LGBT, como por exemplo nos desenhos Hora de Aventura e Steven Universe! O vídeo é incrível e merecia um cantinho aqui no post.

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