Se prepare para o primeiro episódio com muito deuses, sangue e violência
American Gods é uma das séries mais aguardadas pelo blog Garotas Geeks. Baseado no livro homônimo de Neil Gaiman e produzida por Bryan Fuller (Hannibal, Pushing Daisies), o seriado estreou dia 30 de abril no canal Starz e 1 de maio pela Amazon Prime Video.
O primeiro episódio é marcado pelo tom de sangue e violência que provavelmente irá permear ao longo dos oito episódios da primeira temporada, já que o livro trata de uma visão mais realista de como seriam as religiões pagãs antigas. Logo na primeira cena já é possível notar a adaptação entre o livro e a série com a chegada dos vikings ao novo mundo (também conhecido como América do Norte) e como eles conseguem trazer seus deuses, suas crenças e cultura. O que já ajuda bastante a entender como os deuses migraram para essas terras, e também vai de acordo com as pequenas crônicas narradas pelo autor em meio à ação do livro.
Segundo Fuller e Gaiman, a série sofrerá várias mudanças e atualizações, já que Deuses Americanos foi lançado em 2001. Alguns dos personagens secundários ganharão mais destaque e mais tempo em cena. As atualizações são necessárias para retratar os dias de hoje, como a caracterização de alguns deuses ou a exploração de alguns temas recorrentes nos livros. E pretendem mostrar através da diversidade do elenco, a atual diversidade de povos, crenças e culturas presentes na América do Norte.
Logo, somos apresentados ao prisioneiro e protagonista Shadow Moon, que acaba sendo solto da prisão dois dias mais cedo devido a morte de sua esposa, Laura Moon. Inclusive, Ricky Whittle está perfeito no papel. Assim como, Ian McShane como Mr. Wedneday e Pablo Schreiber como Mad Sweeney; o primeiro dando o tom certo ao personagem vigarista, mentiroso e novo chefe de Shadow, e o segundo como o bêbado leprechaun irlandês e amigo de Mr. Wednesday. Somos também apresentados ao amigo e companheiro de cela de Shadow, Low Key Lyesmith. O personagem é a única companhia ao quieto e calado Shadow e parece que servirá como uma espécie de conselheiro por meio das suas histórias.
Outro destaque à parte do episódio foi a aparição de uma divindade do amor Bilquis (Yetide Badaki). Na mitologia cristã, islâmica e etiópica, Bilquis é a Rainha do Sabá. Ao invés de ser retratada como uma prostituta, como colocado no livro, ela é uma mulher que usa um aplicativo de relacionamento para conhecer suas vítimas homens. Estava curiosa para ver como seria retratada sua cena devorando homens pela vagina de forma bem peculiar.
A cena está realmente fiel ao livro e representa (e apresenta) através da fotografia, cor do cenário e vestido vermelho quem é Bilquis em uma cena impactante, que ajuda a contextualizar quem não conhece a obra. Bilquis é um dos deuses que se alimenta de adorações e rezas, mas cada qual tem uma forma diferente de materializar a adoração.
Da mesma foram que somos apresentados aos deuses antigos vemos a aparição do misterioso e novo deus da tecnologia. Em uma cena com referências ao filme Laranja Mecânica do diretor Stanley Kubrick, Shadow é sequestrado pelo Technical Boy. Presta atenção as roupas utilizadas pelos capangas sem rosto e a cena deles chutando Shadow se não é pura referência à ultraviolência de Laranja Mecânica.
No livro, Shadow é sequestrado após o enterro de Laura, mas não espancado pelos minions do Technical Boy. Tanto as roupas como o uso excessivo de violência são referência à obra de Kubrick. O próprio produtor Bryan Fuller confirmou essa referência, já que ele é um grande fã do diretor. O livro não possui tantas lutas e sanguinolência, espera-se que a série acrescente esses tipos de cenas para ter mais ação. O deus Technical Boy também sofreu modificações. Ele foi adaptado aos dias de hoje, de uma forma menos estereotipada e inspirado nos desenvolvedores do Vale do Silício.
O primeiro episódio deixa o espectador com mais perguntas do que respostas. Porque, assim como Shadow não sabe em que encrenca se meteu ao aceitar trabalhar como motorista e guarda-costas de Mr. Wednesday, o espectador também ainda não sabe em que universo está se metendo. Quem assiste ainda vai ser apresentado aos poucos a esse novo e misterioso mundo cheio de deuses novos e antigos com diferentes tipos de crenças e heranças culturais.
Se você é fã de mitologia e independente de ter lido ou não Deuses Americanos, American Gods é uma boa pedida. Porém, American Gods vai muito além disso. O seriado chega à televisão em um momento extremamente importante, especialmente na política americana, no governo de Donald Trump com sua política de anti-imigração e a intolerância em relação a diferentes culturas, povos e crenças. Em uma época em que se questiona a imigração e o que significa ser imigrante, em que as pessoas precisam imigrar para conseguir melhores condições de vida (vide a guerra na Síria, entre outros lugares), ou seja pelo grande número de deportação de imigrantes ilegais nos EUA.
Lembrando que antes da chegada do conquistador europeu os povos nativos já habitavam a América com suas próprias crenças, mitos e cultura. E que antes disso, os povos pré-históricos já tinham chegado nas terras americanas através do Estreito de Bering (teoria mais aceita hoje em dia). A quem realmente pertencem essas terras? Aos primeiros povos? Ao povo conquistador que dizimou os nativos? Ou a todos que desejam morar nelas?
Segundo Gaiman, que também é imigrante (saiu da Inglaterra para morar nos EUA na década de 1990), a sua própria experiência como imigrante o inspirou a escrever Deuses Americanos, além da sua fascinação por mitologia. Em entrevista para o podcast Geek’s Guide to the Galaxy, o escritor afirma que: “É um livro de um imigrante sobre o que significa vir a este país”. Toda essa questão de imigração será abordada através da guerra entre os deuses.
O seriado é cheio de mistérios, questionamentos e personagens carismáticos. American Gods parece ser um série atual e necessário. Você ficará com vontade de saber mais sobre Shadow, seus confusos e misteriosos sonhos, e os deuses novos e antigos. E logo logo você estará rezando e idolatrando os deuses da série, mas cuidado com quem você irá idolatrar.
Graduada em Jornalismo e Jogos Digitais e pós-graduada em Mídia Digitais. RP de games. Fã de As Crônicas de Gelo e Fogo, Tolkien, Fables, Miyazaki, Okami, Dragon Age, Mass Effect e Horizon Zero Dawn/Forbidden West. Divido meu tempo livre com os meus vícios em séries, filmes, livros, webtoon, quadrinhos e games.
