Depois de algumas frustrações, um clímax extasiante

** ALERTA DE SPOILER: este post discute pontos do final da 3ª temporada de The Handmaid’s Tale. **

O final da terceira temporada do The Handmaid’s Tale, da Hulu, melhorou a frustrante e polarizada season finale da temporada anterior, que colocou June e seu bebê prestes a fugir para o Canadá – até que June muda de ideia e decide ficar em Gilead para resgatar Hannah (e consequentemente lutar contra o sistema). E apesar de compreensível, foi um final abrupto e um pouco insatisfatório para o arco de fuga de June, principalmente porque pareceu uma season finale mais impulsionada pelas necessidades do enredo do que pela motivação real dos personagens da série.

Afinal, sendo bem realista: o que June poderia possivelmente conseguir conquistar em Gilead como aia? Quanto de esperança ela poderia ter de resgatar sua filha distante? Aprendemos rapidamente no começo da 3a temporada que a resposta é “não muito”.

Primeiro porque June faz uma tentativa fracassada de se encontrar com a filha, que termina em um enforcamento de uma Martha. E como a 3ª temporada foi anunciada como a temporada da “rebelião” (com o slogan “bendita seja a luta”), seus esforços foram, inicialmente, irrelevantes. Deixaram os telespectadores frustrados e ansiosos por alguma ação.

A série enfraqueceu com tendências de torture porn, mostrando desnecessariamente cenas de estupro e tortura brutais.

Mas, acima de tudo, os esforços de June foram bem desapontadores, porque ela continuava tentando convencer os Waterfords (principalmente Serena Joy) a ajudá-la, apenas para ser traída por eles no final, como sempre. Até mesmo a grande vitória de June, que era ter tirado Nichole de Gilead, está sob ameaça: os Waterfords lançam uma campanha internacional de relações públicas para convencer o Canadá a entregar o bebê de volta. E já que Gilead é considerada uma nação com um poder bélico potente, o medo ressurgiu.

Mas depois de uma temporada repetitiva e cambaleante, os últimos episódios finalmente aumentaram o ritmo. Encorajada pelo assassinato do Comandante Winslow e pela prisão dos Waterfords, June tenta enviar 52 crianças de Gilead para o Canadá por meio de um avião de suprimentos de contrabando, com um exército de Marthas e algumas Aias auxiliando seu plano.

Nas cenas de abertura do último episódio, nós vemos um aterrorizante flashback (que deixou muita gente horrorizada), mostrando, nas entrelinhas, mulheres e crianças deficientes sendo mortas por cachorros e armas de fogo. June está sendo levada para um ônibus com outras mulheres capturadas, tentando em vão pedir ajuda. Ela tinha sido separada de Hannah e provavelmente estava a caminho do Centro Vermelho onde seria treinada pela Tia Lydia. Vemos vislumbres de outras mulheres que logo se tornariam suas companheiras aias, incluindo Janine, que ousadamente ameaça processar todos. É uma cena desorientadora e perturbadora – e na narração de June, ouvimos sua discussão sobre a crueldade de Gilead, uma implacabilidade que ela devia incorporar se quisesse ter sucesso em sua missão.

Foi emocionante ver June se apropriar da até então lenda urbana do “Mayday“, liderando a rebelião. A missão é repleta de perigos e um conjunto aparentemente impossível de desafios.

E embora ela tenha mantido uma atitude firme e determinada, quase gélida, vemos June desmoronando aos poucos durante o episódio. Quando uma Martha chega cedo demais com uma criança, June conforta a garota assustada e tenta explicar pra ela o que significa “liberdade” fora dos limites de Gilead. Mas no final das contas acaba apontando uma arma para ela, com medo de que ela chorasse e estragasse o plano depois que a Martha que a trouxe conseguiu fugir, amedrontada do plano não dar certo.

Esse momento destaca o problema mais profundo da missão de June: a de convencer dezenas de crianças a deixarem a única casa e família de que se lembram, atravessar uma floresta correndo risco de morte e ir para um país que provavelmente nunca colocaram os pés. A maior força da Gilead é sua doutrinação, e era desanimador imaginar toda a lavagem cerebral que essas crianças eram submetidas e quanta terapia precisarão para se libertar completamente do controle que Gilead tinha sobre elas.

Quando June aponta a arma para a Martha e depois para a garotinha, é uma imagem alarmante, que nos lembra o quão longe June foi empurrada, e o quanto Gilead já conseguiu mudá-la. É também um testemunho da atuação de Elisabeth Moss (que é maravilhosa, como sempre), já que ela nos permite ver esse lado desequilibrado de June.

Heroísmo não é só discursos e poses de poder; é  também terror, estresse e um pouco de insanidade.

A fuga da Martha desencadeia uma série de eventos, principalmente de guardiões inundando as ruas e começando a revistar casas. Lawrence tenta cancelar a missão, mas June lembra que ela tem a arma e, portanto, o poder. Superficialmente, a arma. Mais profundamente, uma legião de Marthas e o alto risco de todo mundo ali ser morto caso descobertos. Mas o caso é que há uma ousadia destemida nessa nova June, que corajosamente zomba: “Eu não vou mandar ela de volta para ela ser estuprada e mutilada neste mundo insano que você ajudou a construir.”

À medida que o plano de fuga se desdobra, June, as Marthas e as crianças caminham pelos bosques para chegar ao aeroporto, fugindo dos guardiões, dos carros com lanternas gigantes e dos cães de busca. Isso aumenta a dúvida dos telespectadores de que esse grupo massivo de pessoas, a maioria crianças assustadas, seria realmente capaz de atravessar silenciosamente a floresta. Mas afinal eles conseguem, antes de encontrar um guarda nos portões do aeroporto.

Então June manda Rita e as crianças encontrarem outra entrada enquanto ela se sacrifica para distrair o guarda. E a cena é de causar choro. Não posso falar por todo mundo, mas as minhas lágrimas começaram a rolar incontrolavelmente enquanto os pensamentos de que June iria morrer começam a gritar na minha cabeça. Mas numa reviravolta emocionante, June descobre que não está sozinha, já que um grupo de aias (incluindo Janine) e Marthas retornam para apoiá-la. Elas atiram pedras contra os guardas, que abrem fogo, matando várias de suas companheiras. Então June novamente se torna heroica e se sacrifica de novo entrando na floresta pra salvar a vida das restantes, chamando a atenção do guarda. June é baleada, mas consegue, em outra reviravolta emocionante, atirar no guarda e obrigá-lo a avisar por rádio que o ataque era um falso alarme, dando ao plano mais tempo pra obter sucesso.

Caída e sangrando, June sorri ao ver o avião partindo por cima de sua cabeça. Contra todas as probabilidades (e francamente, a lógica – mas nesse caso eu francamente NÃO LIGO) as crianças escaparam. Nós os vemos pousar com segurança no Canadá, onde Luke, Moira e Emily estão trabalhando com um grupo de ajuda a refugiados para recebê-los. Quando a garotinha de antes encontra seu pai entre os voluntários, quando Luke se frustra quando não vê Hannah descendo do avião e quando Rita chora enquanto conta a Luke que June foi quem conseguiu tudo aquilo, nós aqui do outro lado da tela nos debulhamos novamente em lágrimas copiosas.

Outros desenvolvimentos no Canadá incluem Fred se vingando de Serena, que é (FINALMENTE) presa por estupro (que ela forçou em June e Nick). É gratificante ver Nichole ser tirada dos braços dela enquanto Serena é finalmente responsabilizada por suas ações. Ainda assim, eu adoraria ver mais clareza sobre o acordo dela no Canadá. Ela realmente achava que recuperaria a custódia de Nichole? Afinal, quais foram os tais termos de sua imunidade? E por que os Waterfords estão sendo mantidos em acomodações de luxo em vez de prisões?

Um dos aspectos mais decepcionantes desta temporada foi um certo abandono da linha da Serena, um dos personagens mais complexos da série. Será interessante ver qual o papel (se houver) dos Waterfords na 4ª temporada.

Na manhã seguinte, June ainda está na mata, miraculosamente viva e consciente, quando uma equipe de aias a resgata. Eles a levantam, carregando-a numa espécie de maca feita de suas capas vermelhas.

Nas cenas de abertura do episódio final da temporada, essas mesmas mulheres estão aterrorizadas e incapacitadas de reagir. No final, eles são um exército, uma irmandade encorajada pela rebelião de June. É um final poderoso e o começo de um novo e empolgante capítulo para The Handmaid’s Tale.

Mal podemos esperar por ele.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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