Por que quem melhor pra falar sobre maternidade que um homem, não é mesmo?

Em seus esforços para criar mais conteúdo para o Aranhaverso, a Sony Pictures anunciou ter planos para desenvolver um filme sobre a super-heroína da Marvel, Loteria (Jackpot, no original). E o estúdio já contratou o roteirista Marc Guggenheim (de Arrow e Caçadores de Trolls) para escrever a história. Contratar Guggenheim pode fazer sentido por alguns motivos, afinal ele já escreveu para Aquaman, O Espetacular Homem-Aranha, Super-Homem e Batman. Além disso, ele é cocriador de Arrow e Lendas do Amanhã e trabalhou como showrunner em ambas as séries.

Loteria, criada por Dan Slott (O Espetacular Homem-Aranha) e Phil Jimenez (Crises Infinitas), teve sua primeira aparição em 2007, em um quadrinho gratuito, “Spider-Man: Shift Swing”. Sara Ehret, uma cientista grávida que trabalhava para uma subsidiária da Oscorp, estava trabalhando com experimentos em geneterapia, quando acidentalmente foi exposta ao vírus “Lot 777”. Após o vírus reescrever seu DNA, Sara dá à luz a sua filha Madeline e desenvolve força sobre-humana. Ela então se une à Iniciativa, e divide o seu tempo entre ser uma super-heroína e ser mãe.

Eventualmente, ela se aposenta e passa o manto de “Loteria” para Alana Jobson, que adquire suas habilidades utilizando um hormônio de crescimento mutante. Após Jobson ser morta em uma luta, Sara retorna ao posto de heroína. Apesar de não terem sido divulgados mais detalhes, o filme deverá ter como foco a vida de Sara Ehret, com ênfase na maternidade como super-heroína.

E Guggelheim provavelmente tem capacidade de adaptar a personagem para as telonas. O problema é que a crítica não é sobre o seu trabalho.

Mas sério. Por favor.

Eles não poderiam ter encontrado uma roteirista mulher para escrever a história de uma super-heroína? Especialmente uma mãe, para escrever um filme de heróis que retratará a experiência da maternidade?

Guggelheim é um excelente escritor e criador, mas o fato da Sony não contratar uma mulher para escrever especificamente esse filme é um tapa na cara de todas as roteiristas que estão no mercado.

Alguns dias atrás, a Sony anunciou ter planos de criar um filme da Madame Teia com S. J. Clarkson (de Jessica Jones) sendo cotada para a direção. Se o filme for feito, será o primeiro filme de super-heroína dirigido por uma mulher na empresa.

E isso não quer dizer que apenas mulheres possam contar histórias sobre mulheres. Mas a história de uma mulher lutando para conciliar seu heroísmo e sua vida como mãe merece a autenticidade e precisão que apenas alguém que já tenha passado pela experiência da maternidade pode fornecer. Roteiristas e escritoras já lutam diariamente para existir em uma indústria dominada por homens, uma luta que é ainda mais difícil se você engravida e se torna mãe. A indústria do cinema e TV raramente oferece qualquer tipo de apoio e licença-maternidade para roteiristas é algo que não existe.

Assim como em diversas indústrias, gravidez e maternidade podem destruir a carreira de uma mulher e a possibilidade de valorização financeira. E, para surpresa de ninguém, a discriminação contra grávidas é um dos maiores problemas na indústria do entretenimento (assim como em várias outras).

Homens são quase sempre contratados para escrever histórias masculinas. E isso limita a forma, os gêneros e histórias que as mulheres são contratadas para escrever. E se os homens escreverem também as histórias sobre mulheres e maternidade, o que sobrará para as mulheres do ramo? Com a quantidade de mulheres talentosas trabalhando atualmente, é incrível que a Sony sequer tenha pensado em contratar uma mulher para esse trabalho.

Não é como se elas não existissem. A verdade é que o estúdio não se preocupou ou ligou o bastante para isso. A direção do filme ainda não foi anunciada, mas infelizmente não devemos esperar que uma mulher seja contratada pelo estúdio. O que é uma pena.


Fonte: TheMarySue

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