Confira a primeira parte da entrevista com a homenageada da 10ª edição do FIQ-BH

Que tal conhecer algumas artistas fantásticas, brasileiras e estrangeiras, e que estão deixando seus nomes registrados na história da nona arte? Ano passado, tive a oportunidade de entrevistar algumas mulheres incríveis durante o FIQ e agora (acabaram as minhas desculpas) quero apresentar algumas delas para vocês!Erica Awano -Divulgação FIQ 2018

A homenageada do FIQ 2018, Érica Awano iniciou sua carreira na área com a minissérie em quadrinhos “Street Fighter Zero 3”, escrita por Marcelo Cassaro. A parceria de sucesso se repetiu na premiada série “Holy Avenger”, título que durou 42 edições – na época, considerado o quadrinho nacional mais longevo para público adolescente – e “DBride”, publicada originalmente dentro da revista Dragon Slayer. As duas histórias são ambientadas no cenário de RPG Tormenta.Erica Awano - Arte no FIQ 2018

A quadrinista trabalhou para o mercado estadunidense e europeu em títulos como “Warcraft Legends”, série de mangá ambientado no famoso jogo “World of Warcraft” e “The Complete Alice in Wonderland”, roteirizada por Leah Moore e John Reppion, colorida por PC Siqueira. Em 2006, participou do álbum em comemoração aos 25 anos de O Menino Maluquinho de Ziraldo; em 2009, do álbum “MSP 50” em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, escrevendo e desenhando uma história do Chico Bento.Exposição Erica Awano no FIQ 2018 -foto2 Luciana d'AnunciaçãoEm 2016, na publicação “Memórias do Maurício”, ilustrou o relato do encontro e amizade com Osamu Tezuka, considerado por muitos como o pai do mangá moderno. O trabalho mais recente no mercado brasileiro data de 2017 na série “GGWP” produzida pela Riot Games do Brasil, baseada em relatos de jogadores em partidas de “League of Legends”.

Confira agora a primeira parte da entrevista Érica Awano:

Eu não fui realmente pioneira, houve outros artistas antes de mim, mas eu acho que o momento em que eu apareci é que era o momento, a hora certa de aparecer. Era o momento em que estavam vindo para o Brasil os desenhos animados japoneses, e quando  você apresenta esse tipo de coisa em uma mídia que atinge muita gente, como a televisão, automaticamente, as pessoas começam a ficar interessadas em tudo que tiver essa cara.Erica Awano - foto 2 Glenio CampregherO problema principal, no caso, é que nessa ocasião, todos os desenhistas preparados, que tinham conhecimento, que tinham uma afinidade com esse traço, eram mulheres e todas descendentes de japoneses. Porque os homens, mesmo os descendentes de japoneses, todos tinham a opção dos quadrinhos americanos e eram, em geral, do que eles iam atrás. Já as mulheres, porque a família queria que mantivesse contato com a língua japonesa e tal, a gente mantinha o contato através de revistas, de mangás. Por causa disso, a gente só desenhava nesse estilo.  E não era uma coisa que a gente esperava que fosse ter futuro. Não é que meu desenho era o melhor, mas era o que entre o que os artistas estavam apresentando naquele momento, ele era o que mais convencia, mais parecia com o traço japonês. E eu acabei entrando no mercado de quadrinhos desse jeito.

Eu estava no lugar certo, na hora certa e fui favorecida por uma série de fatores. E comecei a enviar cartas para para revista que falava de animação japonesa, a Animax. O editor achou legal o meu desenho e ligou três dias depois na minha casa. Não que eu tenha enviado o número, mas ele me achou assim mesmo. Ele ligou entrou em contato comigo e disse “Temos um grupo que se encontra todos os fins de semana na Gibiteca Henfil. Venha para a gente poder conversar, estou produzindo uma revista e quero incluir uma parte sobre como desenhar mangá”. Eu pensei, nem sei desenhar mangá, como vou conseguir ensinar isso?  Mas por fim, as coisas foram se ajustando eu comecei a fazer a sessão de como desenhar mangá.Exposição Erica Awano no FIQ 2018 -foto Luciana d'AnunciaçãoPouco tempo depois, na Gibiteca, onde a gente se encontrava todos os finais de semana, por acaso, o Marcelo Cassaro foi fazer um lançamento. O Sérgio Peixoto, o editor da Animax, tinha os direitos de publicação das HQs com personagens da Capcom e fez um portfólio do nosso grupo para apresentar para as editoras. Ele apresentou esse material para o Cassaro que ficou interessado. O Cassaro pediu para os artistas fazerem um teste para escolher quem seria selecionado para participar da publicação e foi assim que eu acabei entrando.

Holy Avenger
Quando comecei a desenhar Holy Avenger eu não conhecia RPG, só recentemente conheci melhor o jogo, mas no meu caso, isso não fez diferença. Embora contar histórias e fazer uma campanha de RPG tenham a suas semelhanças, fazer quadrinho é um processo diferente. De certa forma, quando desenho, interpreto o que recebe do roteiro. Produzir quadrinhos tem uma certa semelhança, mas na maior parte, é diferente. Mesmo que eu não tivesse conhecimento do RPG em si, isso não fez grande diferença pois eu tinha já uma certa obsessão por fantasia medieval. Às vezes, o Cassaro tinha que explicar alguma coisa, na maioria das vezes, não tinha problema nenhum.Erica Awano - foto3 Glenio Campregher

Preconceito
O pessoal achava que eu não existia, porque eles não acreditavam que tinha uma mulher desenhando. Tinha uma galera que falava mal para caramba nos fóruns na internet, mas quando encontrava comigo nos eventos, ninguém falava nada.

Mas preconceito de forma mais direta, não. Eu sempre trabalhei com gente muito legal, um pessoal que sempre respeitou as minhas opiniões.  Com relação às outras pessoas, eu desconfio que eles pensavam “Nossa, uma mulher. Nossa, ela é tão baixinha”. E o pessoal ficava meio assustado, porque eu tenho formação universitária, em Letras e quando falava que era da USP, pior ainda. Mas eu vi outras colegas que estavam começando nessa mesma época e que ouviram muita coisa ruim.

E aí, curtiu? Quer saber um pouco mais da trajetória dessa artista brasileira tão fantástica? Na semana que vem tem mais, com a segunda parte da entrevista com Érica Awano.

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