Finalmente ganhamos a heroína que merecemos, e ela finalmente ganhou um filme à sua altura

A expectativa era alta, o medo era grande, já fomos traumatizados no passado pela DC, e é justamente por isso que é um enorme alívio dizer que O FILME DA MULHER MARAVILHA É MUITO BOM. Depois dos decepcionantes Homem de Aço, Batman vs Superman e Esquadrão Suicida, é maravilhosa a sensação de ter uma diretora mulher e uma protagonista feminina botando as coisas no lugar.

Mulher Maravilha é um longa de origem, que mostra o surgimento da heroína desde a infância, na ilha de Themyscira, até seu choque com o mundo humano. Diana (Lilly Aspell na infância e Gal Gadot adulta) é superprotegida por sua mãe, que tenta evitar que uma profecia se conclua e a filha precise enfrentar Ares, o Deus da Guerra. A garota, no entanto, sonha em ser uma guerreira e insiste até ganhar permissão para ser treinada. Quando ela finalmente alcança seu potencial, a proteção da ilha é quebrada por Steve Trevor (Chris Pine), um soldado americano que foge dos alemães na Primeira Guerra Mundial. É aí que começa a jornada de Diana em busca da paz.

Simples e competente, o filme entrega o que se propõe a fazer e vai além. É uma trama balanceada, que acerta a mão na hora de ser informativa, nas cenas de ação, no drama, e até no humor. Em vez das clássicas piadinhas de uma linha, tão comum em filmes de herói, o roteiro constrói diálogos inteligentes e engraçados. O tom é sempre correto, com picos de ação equilibrados aos respiros, nos quais podemos conhecer melhor os personagens e nos afeiçoar a eles. E depois da edição desastrosa de Esquadrão Suicida, um longa bem montado e sem firulas desnecessárias era tudo o que a gente queria.

Muita iluminação e batalhas à luz do dia! Adeus ao clima sombrio de BvS
Muita iluminação e batalhas à luz do dia! Adeus ao clima sombrio de BvS

A fotografia é um deleite em meio aos longas confusos e sombrios que a DC geralmente entrega. As cenas em Themyscira, cheias de cor e muito sol, são contrastadas com as sequências no mundo dos humanos, que está em guerra, mais monocromáticas mas ainda assim bem iluminadas. As batalhas são muito bem coreografadas e não se apoiam no CGI como uma muleta. A ação tem lá sua dose de câmera lenta, como seria de se esperar, mas isso é muito melhor aproveitado que em qualquer outro longa de super-heróis.

Patty Jenkins, que também dirigiu o premiado Monster (2003), é uma ótima diretora de atores e extrai de Gal Gadot uma Mulher Maravilha que já existia dentro dela. A personagem, criada literalmente em uma bolha, é inocente mas não é burra. Ela é uma mulher adulta que percebe o mundo cruel pela primeira vez, e se encanta e se decepciona com ele, sem aquela ingenuidade sexista e infantilizada tão clichê. Diana é inteligente, versada, fala centenas de línguas, não se deixa enganar pelos homens e entende mais de sexo e relacionamento que eles.

Tão aguardado pelos fãs e sob tanta pressão, não é exagero dizer que é um enorme alívio sair do cinema feliz. Tanto pelo histórico da DC quanto pelo histórico de filmes com super-heroínas (quem não se lembra dos traumas que foram Mulher-Gato [2004] e Elektra [2005]?). Muita coisa estava em jogo neste longa, porque diferentemente dos protagonistas masculinos, mulheres no papel principal carregam uma responsabilidade muito maior. Se falharem, podem congelar todos os filmes de heroínas por anos. E os filmes de heróis, mesmo se envergonham nas bilheterias, continuam sendo produzidos. Homens podem falhar um monte vezes e essas falhas serão atribuídas a causas diversas, mas se uma mulher falha é porque ela é mulher. Então vamos encarar o sucesso desse filme como uma vitória de todas nós.

Tomara que arrebente nas bilheterias. <3

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