Preparem o coração! A dica de mangá dessa semana está dramática com uma pitada de romance em uma história emocionante! Conheçam: Só Você Pode Ouvir!
Só Você Pode Ouvir é um mangá de Hiro Kiyohara, mesmo artista de Another, adaptado de um conto escrito pelo autor Otsuichi e lançado em volume único (one-shot). Foi publicado no Brasil pela JBC no fim do ano passado.
A história:
Ryo Aihara é uma colegial com vários problemas. Ela não fala muito bem em voz alta, não tem amigos, não consegue se relacionar bem com ninguém e… Não tem um celular. Em sua classe todos possuem o aparelho e isso leva Ryo a pensar que ainda que tivesse um, não haveria com quem falar nem pra quem ligar, já que a garota não tem um amigo sequer. Por esse motivo, ela começa a imaginar um celular. Escolhe o tamanho, formato, as cores e até mesmo a música do toque de chamada. De tanto imaginar o aparelho, em dado momento o celular imaginário realmente começa a tocar. E quando Ryo finalmente decide atender, vem a surpresa: tem alguém do outro lado da linha!
É então que conhecemos Shinya Nozaki, um rapaz que sofre com os mesmos problemas de Ryo e que assim como ela, também inventou um celular imaginário. Mesmo achando tudo isso a coisa mais absurda do mundo, Shinya e Ryo logo descobrem que não são resultados de alucinações um na cabeça do outro e estabelecem uma amizade, encontrando um no outro tudo aquilo que não tinham em suas vidas até o momento, mas que ansiavam receber das outras pessoas. Amizade esta que cresce mesmo eles morando em cidades diferentes e mesmo havendo entre eles uma diferença temporal de uma hora – a linha do tempo de Ryo está uma hora adiantada com relação à de Shinya – quem já assistiu “A Casa do Lago” vai entender bem como isso funciona.
É impossível ler Só Você Pode Ouvir sem ser tocado pelo sentimentalismo da história. Não é todo mundo que passa pela mesma situação durante esse período da adolescência. Tanto Ryo quanto Shinya são excluídos e mantidos na solidão por não terem com quem conversar, ninguém que se interessasse em conhecê-los. É por isso que o fato de ter alguém que possa te ouvir, quando ninguém mais ouve, acaba deixando ambos chocados, ainda mais por ser via um celular imaginário. O mangá em momento algum explica como raios essa comunicação telepática acontece, mas nem é preciso, já que o crescente relacionamento dos dois é o foco principal. Portanto, não é todo mundo que já passou por isso um dia na vida de uma forma que possa se identificar, mas todos invariavelmente já sofreram algum tipo de rejeição e sabem bem como é se sentir assim. Do outro lado, pode ser que você já tenha encontrado uma pessoa que te entende como nenhuma outra, mesmo você tendo um milhão de amigos.
Shinya e Ryo passam a se “telefonar” sempre que possível, assim como bons amigos fazem, contanto problemas, se ajudando, comentando o dia-a-dia e até passando cola no meio de provas na escola e seu relacionamento vai se fortalecendo cada vez mais e culmina em um final totalmente inesperado.
O principal ponto de Só Você Pode Ouvir não é, como alguns dizem, o problema de dois adolescentes que não possuem um aparelho celular. O tema em foco é a solidão e a exclusão em uma fase da vida que costuma ser mais complicada que as outras. É difícil se sentir estranho, deslocado, incompreendido e rejeitado por praticamente todos ao seu redor. Esse ponto principal provoca uma reflexão também em quem é socialmente ajustado, pois nessa situação nem sempre sabemos valorizar corretamente as pessoas que estão ao nosso lado, afinal como seria se não tivéssemos ninguém por nós? Tanto Ryo quanto Shinya são profundamente solitários e é por isso que se apegam quase instantaneamente um ao outro por terem se identificado – um é o reflexo do outro – e encontraram em sua relação um ponto de apoio, refúgio e simpatia.
Vale a pena?
Só Você Pode Ouvir é o tipo de mangá que quando você acaba fica hoooooras refletindo na vida e em tudo que nós já superamos para chegar onde estamos. Quem é mais velho vai se lembrar do caminho tortuoso já trilhado e quem ainda é adolescente terá certeza que as fases ruins sempre passam, assim como tudo na vida. A arte do mangá é belíssima e os traços parecem combinar com a profundidade da história que ao progredir vai dando um aperto no coração!
Com toda a certeza vale a compra! Ainda mais por ser volume único já que você não vai precisar sair correndo atrás dos outros trocentos volumes. É uma história delicada, profunda e comovente!
Tradutora ainda não formada, cantora de aniversário de parente, frustrada por não ter tido um GameBoy na infância. Adora vídeo-games mas é péssima em todos eles. Fundadora do já falecido Flyleaf Brasil e com apenas 5 palavras no vocabulário se acha fluente em japonês. Fica para sempre devendo sua entrada no GG à musa mangaká Ai Yazawa.
