Atenção: este post contém spoilers sobre o filme “Malévola”.
Desde a estreia de “Malévola” ouvi muitas críticas negativas sobre o filme. Então, decidi tirar isso a limpo, comprar meu balde de pipoca e ir ao cinema para poder opinar.
Sim: o filme de 97 minutos é afobado, tudo acontece muito rápido e temos a sensação de que em nenhum momento o diretor deseja se aprofundar em algum personagem ou cena. Entretanto, sai do cinema apaixonada.
“Malévola” (assim como “Frozen” e “Valente”) nos mostra uma quebra de estereótipo que a Disney nunca havia feito até então. Um filme que aborda a violência contra a mulher de uma forma que nunca esperamos ver em um filme “infantil”.
Desde 1937, é comprovado (até mesmo por estudos acadêmicos) que a Disney vem influenciando a vida das crianças, principalmente de garotas. A ideia de que toda princesa criada por Walt Disney precisava de seu príncipe parece ter morrido em “Malévola”.
O filme reinventa a famosa história da “Bela Adormecida” de forma atual, justificando toda a maldade da vilã principal. Malévola não é malvada just for fun, mas sim porque foi traída pelo homem que amava.
Mais uma história de romance “água-com-açúcar-mela-cueca”? Não.
No filme, Malévola é mutilada pela sua primeira paixão. Stefan (e sua ambição em ser rei) corta as asas da personagem para conquistar o trono, deixando claro uma metáfora com os abusos contra à mulher, principalmente o estupro. A cena em que Malévola acorda e percebe que suas asas foram arrancadas por aquele que amava é uma das cenas mais tocantes do filme. A partir daí, a personagem entra em uma transformação em busca de vingança, respeito e independência.
Outra surpresa do filme são as cenas em que o personagem Stefan bate em mulheres. (sim, um filme da Disney onde mulheres apanham de homens. QUEM DIRIA, HEIN?)
Em alguns momentos, podemos ver o personagem encarnar o papel do homem abusivo, que machuca a mulher tanto fisicamente quanto psicologicamente. E confesso que foi uma grande surpresa ver isso sendo abordado em um filme de “conto de fadas”.
Mas “Malévola” não fala apenas sobre o papel da mulher, o filme também aborda o amor entre mulheres.
O tão esperado beijo entre a princesa adormecida e o príncipe não resulta em nada. Aurora continua dormindo feito uma pedra. Mas, ao perceber o erro que havia cometido, a vilã Malévola é a responsável pelo beijo que acorda a princesa. Um “beijo de amor verdadeiro” como o próprio feitiço dizia.
Quem diria que iríamos viver para ver uma princesa sendo acordada pelo beijo de uma mulher, enquanto o príncipe é colocado de lado, em um papel totalmente secundário. Foi nesse momento em que “Malévola” me conquistou: ao deixar para trás o estereótipo da princesa indefesa e do machismo de que toda mulher precisa ter o seu príncipe. E, principalmente, por mostrar que um “beijo de amor verdadeiro” não depende de gênereo.
De forma simples e direta, “Malévola” fala do amor e da quebra do paradigma machista da princesa que só sabe cantar com os passarinhos e esperar o príncipe chegar. Depois de “Mulan”, “Valente” e “Frozen”, a Disney mostra que está deixando de lado os contos “mela-cueca-água-com-açúcar” para levantar questões muito mais importantes em seus filmes.
Longe de fazer o discurso feminista radical: “Malévola” não é apenas uma adaptação de um conto de fadas. O filme trata de questões muito mais polêmicas: estupro, abuso contra a mulher e diferentes tipos de amor.
Sem dúvida, “Malévola” não é o melhor filme da Disney, mas surpreendeu ao mostrar que o papel da mulher em um conto de fadas pode ser muito mais importante do que estamos acostumados a ver. <3
Jornalista, pedreira, uma das fundadoras do Garotas Geeks e desbravadora de indie games. Muda a cor do cabelo 1 vez por mês, é a encarnação humana do Snorlax e faz cospobre de Pikachu nas horas vagas. Me encontre em qualquer lugar com o @tammynhoca :)