Carta que nem sabemos como foi aprovada pela equipe, em primeiro lugar…

No início do mês, Zaiem Beg, antigo editor-chefe da página ChannelFireBall (uma das distribuidoras de Magic: The Gathering) publicou um texto expondo a empresa Wizards of the Coast (empresa dona da franquia) pela falta de diversidade em sua equipe criativa, pela forma como funcionários negros eram tratados no ambiente de trabalho e diversas outras questões problemáticas presentes na empresa que é composta majoritariamente por pessoas brancas. E ao menos uma mudança foi feita rapidamente após a repercussão da crítica: a carta “Invoke Prejudice” (Invocar Preconceito, em tradução livre) foi removida do jogo.

Sim, a carta, publicada pela primeira vez há cerca de 25 anos, apresentava um grupo de figuras encapuzadas, com trajes similares ao de grupos como a Ku Klux Klan, carregando machados. E permitia que você contra-atacasse um feitiço da cor oposta a aquela que você controla, a não ser que o jogador pague mais para invocá-la. Não é nada sutil.

A preocupação de Zaiem não era sobre a existência da carta, mas pelo fato do código para sua URL (algo que não existia 25 anos atrás) ser 1488. O número é um símbolo de ódio invocado por nacionalistas brancos e neonazistas, e nenhum esforço foi feito para mudar isso (1488 faz referência a uma frase de Hitler e a saudação nazista, Heil Hitler).

A Wizards of the Coast respondeu em uma publicação em seu blog oficial, alegando que vão utilizar essas críticas e chamado a agir como uma forma de aprender como podem se tornar uma empresa melhor com relação as práticas raciais.

Hoje, nós mudaremos o ID do multiverso e removeremos a imagem da carta ‘Invoke Prejudice’, originalmente impressa em 1994. A carta é racista e isso se tornou ainda pior pelo ID do multiverso que infelizmente foi codificado alguns anos atrás. Não há lugar para racismo em nosso jogo, ou em qualquer lugar.

Mas nesse ponto, ela nunca deveria ter sido publicada ou colocada no ‘gatherer’. E por isso pedimos desculpas. Os eventos das últimas semanas e a atual discussão sobre como podemos apoiar melhor as pessoas de outras etnias nos fizeram examinar a nós mesmos, nossas ações e inações. Nós agradecemos a todos que nos ajudaram a reconhecer quando falhamos. Nós devíamos ter sido melhores, não podemos ser melhores e nós seremos melhores.

A empresa também removeu as imagens de cartas racistas ou culturalmente ofensivas, incluindo “Invoke Prejudice” (invocar preconceito), “Cleanse” (limpeza), “Stone-Throwing Devils” (Diabos arremessadores de pedras), “Pradesh Gypsies” (Ciganos de Pradesh), “Jihad” (Guerra Santa), “Imprison” (Prender) e “Crusade” (Cruzada). As cartas inclusive foram banidas de todos os torneios oficiais.

Ainda há muito trabalho a ser feito enquanto continuamos criando nossos jogos, comunidades, e uma empresa mais inclusiva. Saibam que trabalhamos a cada dia para nos tornarmos melhores e que ouvimos vocês. Nós esperamos compartilhar mais dos nossos planos com vocês enquanto os nossos jogos e organização evoluem.

E é um tanto óbvio que nas salas de jogos, nas transmissões e grandes canais dedicados ao jogo, é difícil encontrar minorias. Com tantos artistas, escritores e criadores de conteúdos negros, seria no mínimo interessante ver qual seria a sua abordagem sobre um plano inspirado em cultura africana. Além disso, com a entrada de várias personagens femininas negras no universo do jogo – Kaya, Vivien, Samut… – é um tanto triste imaginar que nenhuma mulher negra tenha trabalhado nelas.

Mesmo na discussão sobre a arte, ao olhar cartas antigas é fácil perceber que os personagens negros não possuíam um fenótipo, tornando difícil entender se alguém era apenas “marrom” ou uma pessoa negra.

Uma das mudanças mais fáceis que deveriam ser feitas é a inclusão de artistas e escritores negros, mas isso não vai acontecer se a empresa e a comunidade os tratarem com o desprezo atual.

Remover as cartas e fazer um pronunciamento é apenas um primeiro passo. E esperamos que eles vão de fato atrás de pessoas negras para buscar soluções reais, porque se isso não acontecer, a tendência é que nada realmente mude.


Fonte: TheMarySue

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