Complexa e forte e merecedora de um Oscar!

Better Call Saul é uma das melhores séries para televisão da atualidade. E em sua quinta temporada, a série parece ter alcançado o impossível: não apenas fazer jus à massiva reputação da série original, como para alguns, tê-la superado. As duas séries são comparadas constantemente, e apesar de muitas dessas comparações merecerem um aprofundamento, uma das mais interessantes (e menos frequentes) contrasta a maneira como cada uma das séries trata as suas personagens femininas.

Ainda que Breaking Bad seja quase universalmente aclamada, as mulheres da série nem sempre parecem receber o mesmo cuidado que a série costuma ter como um todo. Marie e Skyler (Skyler em particular, como explicamos aqui) são alvos constantes de ódio e misoginia, mas isso não quer dizer que a escrita não tenha culpa. As mulheres da série constantemente recebem papéis de apoio, não sendo importantes na narrativa como um todo, e geralmente existem como experimentos ou formas de avançar o desenvolvimento dos personagens masculinos.

Porém, ao olharmos para Better Call Saul, sua protagonista feminina absolutamente destrói essas críticas. Os co-criadores Vince Gilligan e Peter Gould já discutiram sobre terem ou não escrito Kim para ser uma personagem “feminista”, mas não importa a forma como você olhe para isso, ela é uma das mais interessantes, bem escritas e interpretadas de todo o universo das séries.

O motivo? Não é como se a série tivesse a personagem como centro. No papel, ela tem um papel similar ao de Skyler para a estrutura da história – ela é a esposa do protagonista que deve lembrar ao público e ao Jimmy/Saul, sobre a gravidade das situações em que está se metendo, além de mantê-lo no lugar, cumprindo o papel de par romântico.

Apesar disso, Kim se tornou uma das personagens favoritas dos fãs, além de se destacar por sua atitude destacadamente feminista. Ainda que seja difícil apontar um motivo pelo qual ela é uma personagem forte feminina, isso pode ser resumido da seguinte forma: Ela está completamente no controle da própria história, ainda que para pior.

Por cima, isso pode parecer contra intuitivo. Ter uma personagem feminina falhando ou fazendo escolhas erradas pode não ter as melhores implicações sobre ela, mas a oportunidade de fazer isso, sem ser diminuída, é algo que normalmente é direito exclusivo dos personagens masculinos. Em Better Call Saul, Kim é claramente apresentada como uma advogada competente e confiante, com uma forte ética de trabalho e um alinhamento moral claro. Em uma série mais rasa, seria fácil ver esses traços em uma personagem que nunca erra – a bela, inteligente e leal esposa que ainda é uma incrível advogada.

E essa versão de Kim cumpriria todos os quesitos para ser uma personagem “feminista”, mas não seria nem de longe tão interessante e amável.

A razão pela qual amamos tanto a Kim (e pela qual ela é tão incrível) é que ela possui independência suficiente para fazer escolhas conscientes, ainda que ruins, assim como os personagens masculinos podem fazer – em vez de apenas ser levada a participar dos esquemas de Jimmy.

Esse episódio foi FODA!

Vejamos sua decisão de visitar Lalo Salamanca no oitavo episódio da quinta temporada, por exemplo, todo mundo sabia que era uma péssima ideia. Kim é uma advogada sem qualquer vínculo com o mundo do crime, e ainda assim, conscientemente, ela decide visitar um chefe do cartel apenas por acreditar que seu marido pode estar em perigo. É um péssimo movimento, mas um que ela escolhe fazer. Ela não se encontra com Lalo por ter sido sequestrada no meio da noite, ou é utilizada para conseguir um resgate e torturar Jimmy. Nós sabemos que ela é uma mulher inteligente, então vê-la tomar uma decisão ruim não nos faz pensar menos dela.

Nós admiramos o quão longe ela está disposta a ir por quem ela ama.

Isso acontece novamente no episódio seguinte, quando Lalo vai até a casa de Jimmy e Kim para ameaçá-los. Ela se levanta contra Lalo e defende Jimmy de suas acusações. Sim, ela está estressada e sim, isso a coloca em mais perigo do que antes, mas novamente é uma decisão da personagem. Kim Wexler pode não ser a personagem “tradicionalmente feminista”, mas ela é uma mulher forte e no comando de sua própria história. Nas palavras da própria personagem:

“Você não me salva. Eu me salvo”.


Fonte: TheMarySue

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