Bizarro, pra dizer no mínimo.

Em um movimento extremamente mal planejado e recheado de falta de noção, a Wales Interactive lançou e rapidamente apagou o trailer de um jogo em FMV (full motion video, um estilo em que o jogo reproduz cenas gravadas anteriormente de acordo com as escolhas do jogador) chamado Gamer Girl. Nesse “jogo”, o jogador teria a função de moderar o chat do canal de uma streamer chamada “Abicake99”, interpretada por Alexandra Burton. Além de banir espectadores que fizessem comentários inadequados e aumentar o número de inscritos, o trailer deixa claro que alguma coisa perigosa está no caminho da streamer, e que o moderador deverá ser capaz de “equilibrar suas transmissões e o drama de sua vida” – e o trailer parece terminar com ela sendo atacada em sua vida real.

Se você tem muita tolerância para engolir lixo, pode assistir o tal trailer excluído no tweet abaixo:

De acordo com os desenvolvedores, em uma sequência de tweets defensivos publicados na última quinta, o jogo deveria mostrar como Abi “enfrenta os trolls e – supera – os personagens tóxicos em suas transmissões”. Eles disseram que é uma história sobre “empoderamento”. Exceto que é muito comum que, quando um grupo tenta “alertar” sobre experiências traumáticas que nunca enfrentaram, o resultado normalmente é colocar o trauma como entretenimento sem oferecer nenhum comentário, crítica ou análise relevante sobre o tema.

Trad.: [eu não quero realmente comentar algo sério sobre o gamer girl porque eu sei que todo mundo já fez isso, mas: o clássico problema com “jogos de empatia” é que sempre acabam se tornando “esse jogo é interessante para pessoas não marginalizadas e traumatizante para pessoas marginalizadas”]

E ah, se você ainda está curiosa se alguém envolvido no desenvolvimento do jogo possui experiência com esse tipo de toxicidade enfrentada por jogadoras e minorias diariamente, bom…

Trad.: [Fui até o site da empresa que criou Gamer Girl. Essa é a foto da equipe. Agora faz muito mais sentido como esse jogo perturbador chegou a ser produzido.]

Quando um monte de homens brancos se reúne para decidir o que é ou não “empoderador” para mulheres, esse é o maior sinal vermelho que você pode encontrar. O jogo credita a Burton como escritora porque suas respostas são improvisadas, o que é ótimo em termos de expressão criativa, mas não afeta de maneira alguma o enredo do jogo ou a forma como o trauma é explorado.

O jogo acaba sendo uma fantasia de poder masculino em que você começa como o moderador de uma streamer e acaba por decidir o que ela deve ou não fazer em sua vida cotidiana, até chegar ao ponto em que deve proteger a vida dela. É perturbador.

E isso é algo ainda mais vergonhoso porque o game surge em um momento que a indústria de jogos está passando por seu próprio movimento de exposição de abusos por figuras de poder, uma espécie de #MeToo próprio, com dúzias de desenvolvedoras, streamers, influenciadores, entre outros, sendo responsabilizados por seu comportamento abusivo e predatório.

Trad.: [wow, esse trailer de Gamer Girl é… não. amo monetizar o trauma de mulheres, especialmente após o grande momento MeToo da indústria]

Ainda bem que o trailer foi retirado das redes sociais, mas sinceramente toda a produção deveria ser descartada… Na verdade, isso nunca deveria ter sido produzido, especialmente por essa equipe.


Fonte: TheMarySue

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