Vamos discutir o episódio 4 da segunda temporada!

Mais uma semana, mais outro episódio angustiante de The Handmaid’s Tale – ou O Conto da Aia, em tradução brasileira. O episódio, nomeado “Outras mulheres”, revela uma época desagradável no passado de June e também um novo inferno acontecendo no presente – trazendo nossa heroína grávida, que já sofreu imensamente, a um novo nível de desespero. O que aconteceu com a revolução?

SPOILERS ABAIXO

Depois de quase saborear a liberdade, apenas para ser puxada de volta para o colo aterrorizante de Gilead no último segundo, é compreensível que June (Elisabeth Moss) esteja se sentindo totalmente péssima. Não demorou muito para que uma nova marca de gado fosse perfurada na orelha dela – e lá se foi todo aquele agonizante esforço sangrento para tirar a velha – e ela é então acorrentada a uma cama no Centro Vermelho, Sob Seu Olho, mas principalmente Sob o Olho da Tia Lydia (Ann Dowd). A televisão raramente tem vilões tão grandes e ainda assim tão cheios de nuances como a tia Lydia – você pode perceber que ela tem uma mente com uma velocidade surpreendente apesar de toda a retórica fundamentalista que ela segue e que seus modos autoritários parecem ser uma atuação de uma mulher que entende melhor do que ninguém como Gilead funciona, particularmente a respeito da dinâmica mais que pesada entre esposas e aias. De qualquer forma, ela cravou suas garras em June e quer vê-la dando a luz a um bebê saudável.

A escolha de June é simples: ficar no Centro Vermelho (Red Center), dar a luz e ser executada – ou se submeter mais uma vez a ser chamada de Offred, vestir o terrível vestido vermelho de aia, fingir que sua fuga era na verdade um “sequestro de terroristas” e provar ela é digna de servir os Waterfords. June escolhe a última opção, claro, e embora ela ainda aja de maneira um pouco rabugenta no início – olhando séria e fixamente para tia Lydia durante várias situações constrangedoras – seu espírito lentamente se esvai à medida que o episódio avança. Daí surge aquela terrível sensação de estar de volta naquele quarto/prisão na mansão dos Waterford, onde a moradora “Martha”, Rita (Amanda Brugel), devolve as mensagens desesperadas contrabandeadas para June afirmando temer ser pega em ligação com o Mayday, com o tempero final do apagamento da icônica frase “nolite te bastardes carborundorum” do seu esconderijo no armário. ):

 Não há mais mensagens secretas de esperança no armário de Offred. Imagem: Hulu
Não há mais mensagens secretas de esperança no armário de Offred. Imagem: Hulu

Depois, há a indignição de June a ser forçada a participar de um “chá de bebê” para Serena Joy (Yvonne Strahovski), em um ritual extremamente macabro que culmina com as mãos de Offred e Serena sendo unidas enquanto a esposa entoa repetidamente “deixem as criancinhas virem até mim”. E então temos de lidar com o sentimento doentio que atormenta June quando ela descobre que não só Mayday não está mais ajudando as aias, mas que a aia que falou contra o apedrejamento de Janeane na temporada passada teve sua língua cortada como punição. Mas o pior de tudo foi saber o que houve com a família Econopeople que escondeu June em sua casa na semana passada. A razão pela qual seu resgatador e sua família não retornaram da igreja era tão ameaçador quanto June temia. Tia Lydia, que sabia de tudo como sempre, narra friamente seus destinos: a esposa foi forçada a se tornar uma aia, seu doce e jovem filho foi colocado com uma nova família adotiva, e o homem … bem, aquele corpo é o dele, balançando na brisa em cima do muro de execução pública de Gilead.

June fica profundamente horrorizada – tão horrorizada e com sentimento de culpa tão grande que não foi nem mesmo preciso a tia Lydia dizer que tudo isso era culpa dela, mas é claro que a tia Lydia o fez mesmo assim. Só que daí a tia Lydia tenta amenizar isso de uma forma não menos bizarra e de lavagem cerebral, daquele jeito que só a Tia Lydia conseguiria fazer: “June, que fugiu, June fez isso. Offred, que foi sequestrada, não o fez. Offred é inocente.” E isso faz um efeito tremendo em June e acaba fazendo com que ela acabe indo beijar o chão dos Waterford à procura de perdão e aceitação. Depois de se reconciliarem, Serena – que estava pronta para prender Offred na cama de ferro do Centro Vermelho até a morte – faz outra de suas bizarrices, rastejando até o quarto de Offred para apalpá-la, ou melhor, apalpar “seu bebê”, tateando a barriga de Offred enquanto murmura “mamãe ama você”. E bom, sabemos há muito tempo que em Gilead o espaço pessoal é com certeza um privilégio, mas essa interação leva essa noção a um nível totalmente novo. E é, como sempre, cruel.

O retorno de June para os Waterfords – e a subsequente redução dela para a submissão total, ao ponto de parecer loucura – não é apenas por causa de seu trauma atual. Recebemos alguns flashbacks bem completos de um momento crucial em sua vida pré-Gilead que The Handmaid’s Tale evitou explorar até agora: o fato de que ela ficou com Luke (O-T Fagbenle) enquanto ele ainda era casado. Claro, vimos o primeiro encontro ilícito deles e observamos passivamente o amor deles florescer, testemunhando a alegria que eles tiveram com a filha. Mas o fato é que June foi inicialmente a “outra” (a “adúltera”, a “decaída”, como tia Lydia frequentemente a chama, com esmero), e ela encontrou a ex desprezada de Luke duas vezes. Primeiro, a mulher, que aparenta estar bastante perturbada, confronta-a quando June estava saindo de uma aula de ioga, num tipo de conversa educada do tipo “eu quero pedir para você se afastar e dar tempo para nós resolvermos o nosso casamento” que logo se transformou em insultos gritados. Então, alguns anos depois, June está com Luke e a bebê Hannah quando ela vê a ex em público, e pode sentir que ainda há dor e fúria envolvida. Embora ela não lamente o ocorrido, já que ela seguiu seu coração, a culpa de June ainda é palpável. No presente, com muito mais peso emocional pressionando-a, os pecados percebidos de seu passado reverberam com ainda mais magnitude. “Deixe Hannah me esquecer”, ela reza, com uma aceitação sombria e derrotada que nunca vimos nela antes. “Deixe-me me esquecer.”

E claro, isso não é bom.

Comendo por dois. Imagem: Hulu
Comendo por dois. Imagem: Hulu

Outras reflexões e questionamentos intrigantes variados a partir do episódio 4:

  • Enquanto June contava as 71 flores em sua colcha no Centro Vermelho, Serena contava os 92 dias que Offred e o bebê estavam desaparecidos.
  • A relação da tia Lydia com Serena enquanto fumante é tão tensa quanto sua relação com Offred, com uma dinâmica de poder ainda mais estranha.
  • Meio que me sinto muito mal por Rita, que se tornou o saco de pancadas de Serena enquanto Offred estava fora de seu alcance.
  • Nick (Max Minghella) foi uma espécie de fantasma esta semana. Aparentemente, ninguém descobriu que ele ajudou June a fugir – ou talvez este seja outro sapato desagradável ainda esperando para cair em cima de nossas cabeças.
  • Não percebemos muito do Comandante Waterford (Joseph Fiennes) esta semana, mas há uma cena bem pequena, porém significativa, em que ele leva alguns homens do Comando de Gilead a uma excursão de tiro ao prato durante o chá de bebê de Serena. Parece que, após os acordos aparentemente bem-sucedidos da última temporada com o México, Waterford está disposto a ser o “enviado especial para o Canadá”, um cargo para o qual ele será considerado se conseguir colocar a vida em sua casa em ordem. As coisas parecem estar se movendo nessa direção, com Offred de volta e tudo mais, então será que ele vai conseguir a posição? E, considerando que o Canadá se tornou um abrigo para os refugiados de Gilead, por que será que ele quer essa designação específica?
  • A música melancólica na cena de créditos do episódio é “Hate“, da Cat Power, e contém letras como “Eu me odeio e quero morrer”. Novamente… não tá nada bem. /: Como já comentaram fãs da cantora, se depressão tivesse uma música-tema, Hate seria a escolha perfeita.

O que vocês estão achando da série até então? Alguém notou algo mais no episódio quatro? Comente com a gente!


Texto traduzido e adaptado do io9.

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