Bate papo especial com o trio criativo da premiada graphic novel/webcomic.

Já apresentamos a você a belíssima graphic novelTerapia – Volume 1” (Não leu a coluna sobre esta HQ ainda? Como assim? A solução está aqui), produzida à seis mãos por Mario Cau, Rob Gordon e Marina Kurcis . Assim como eu, você também pode acompanhar a jornada do jovem protagonista na busca pela compreensão de si próprio e do mundo no site da Petisco.

“Terapia” está concorrendo ao Troféu HQMIX  pelo 4º ano consecutivo na categoria Melhor Web Quadrinho (HQ publicada na internet). A webcomic já ganhou duas outras edições, em 2011 e 2013.Terapia_HQ_Premiada

Além disso, ‘Morphine’, graphic novel solo de Mario Cau, concorre ao HQMIX na categoria Melhor Publicação Independente One-Shot (edição única). A votação é só para profissionais da área e vai até dia 9 de julho. A entrega do troféu será realizada no dia 12 de setembro, no SESC Pompeia.

O trio criativo responsável pela webcomic/HQ “Terapia – Volume 1” deu uma entrevista exclusiva para o Garotas Geeks. Mario Cau, Rob Gordon e Marina Kurcis falaram sobre como foi o financiamento coletivo, a HQ, o mercado nacional de quadrinhos, a diferença entre webcomic e HQ impressa e alternativas de publicação para autores independentes. Confira nosso bate-papo com os autores.

Rob, Marina e Mário no 26 Troféu hq miX
Rob, Marina e Mário no 26o Troféu HQ MIX

GG: Como foi o processo de levar a webcomic para o Catarse? 
MÁRIO: Com o crescimento de projetos de HQ financiados diretamente pelos leitores, achamos que era o meio ideal para viabilizar Terapia. A ideia inicial era um livro colorido, com sete capítulos e material extra. Ficaria muito caro para fazer de forma independente e não era viável fazermos por editora, pois queríamos lançar no FIQ de 2013. Escrevemos o projeto, idealizamos recompensas, fizemos o vídeo… Essa parte foi bem tranquila. Cuidar do projeto, uma vez que está online, dá muito mais trabalho.
ROB: Uma vez que o projeto está no ar, o problema é a ansiedade. Você divulga para os leitores – a divulgação é extremamente importante, e precisa ser feita de forma constante – mas você acaba esperando o resultado imediato, mesmo sabendo que isso não vai acontecer.
MARINA: Desde que começamos a produzir a história, já sabíamos que seu formato, temática e a arte proporcionariam um livro bacana, bonito. O processo foi bastante trabalhoso, especialmente para o Mario, que montou o projeto e os orçamentos, tanto do livro em si quanto das recompensas. Como o Rob colocou, a ansiedade foi muito grande, e todos os dias fazíamos o máximo de divulgação possível, até atingirmos a meta.Marina-e-hq-Terapia

GG: O financiamento atendeu à expectativa de vocês? O que acharam da adesão do público? Vocês têm mais projetos previstos?
MARIO: Financeiramente, com certeza! Passamos da nossa meta inicial, tivemos em torno de 700 apoiadores. Um projeto de financiamento coletivo exige muita dedicação: é preciso divulgar, engajar, inovar. Muitos dos nossos leitores apoiaram, outros talvez não tenham visto o projeto, e é assim mesmo que acontece. Outras pessoas conheceram a HQ pelo projeto e hoje continuam acompanhando a webcomic.
ROB: Temos outros projetos, tanto individualmente como em conjunto… Mas nada ainda é oficial.
MARINA: O financiamento até ultrapassou minha expectativa! Por mais que soubéssemos do potencial da história, bateu uma insegurança de não atingirmos a meta a tempo. Perceber que 700 pessoas acreditaram em Terapia junto com a gente foi extremamente gratificante.Página-de-Terapia-Webcomic

GG: Qual a parte desta HQ que vocês mais gostaram de fazer? E qual deu mais trabalho?
MARIO: Como ilustrador, a parte que mais me agrada é justamente criar as narrativas visuais, as composições de página. Encontrar as expressões certas, os ângulos certos. E experimentar, variando técnicas, com as possibilidades de criar significados e metáforas para enriquecer a leitura. Eu adorei desenhar os capítulos 5 e o 6. Foram muito exigentes em relação à atuação dos personagens.
ROB: Acho que a parte que mais gostei de fazer foram os três primeiros capítulos, quando eu ainda estava descobrindo os personagens. Tanto o Garoto como o Terapeuta são muito ricos, têm muitas facetas, e cada uma tem uma linguagem própria. E, para mim, esse processo de descobrir, de conhecer o personagem é extremamente divertido, é como se eu fosse uma criança com um brinquedo novo. E a que dá mais trabalho, é sempre o começo de um novo capítulo. Nós temos um esqueleto central de Terapia traçado, mas ele permite que a gente brinque ou aborde temas que não estão previstos nele. Como roteirista, toda vez que eu penso num capítulo novo, lembro que ele precisa estar de acordo com esse esqueleto e com tudo o que foi contado até agora. Mas ao mesmo tempo, preciso criar algo que surpreenda o leitor, que faça ele pensar “nunca imaginei que a história viria para esse lado!”.
MARINA: O roteiro em si é muito bacana de fazer. O meu desafio é unir um enredo interessante, que cative o leitor, às teorias e técnicas da psicologia. Já aconteceu de alguns capítulos terem sido originados de algum conceito que estudei, e foram desenvolvidos para fluir na história. Outros, surgiram de alguma ideia brilhante e/ou maluca do Rob, e precisei pensar em como se daria o “tratamento psicológico” do protagonista, mantendo a trama fiel à nossa proposta e à Psicologia. Procuro conduzir os diálogos do terapeuta como se estivesse tratando um paciente de verdade, sempre atenta ao código de ética e tentando torna-los o mais real possível, ainda que esta seja uma obra de ficção.Marina-Rob-e-Mário

GG: Qual foi o retorno do público? 
MARIO: Temos leitores fiéis, que se tornam nossos amigos. Eles acompanham a webcomic com tanto carinho que só aumenta a nossa vontade de produzir mais e melhor. Como fazemos uma HQ intimista, experimental e que lida com temas delicados, vemos que os leitores se identificam, se engajam… Vários deles dizem, inclusive, que estamos secretamente escrevendo sobre suas vidas.
ROB: Foi o mais positivo possível. Como escritor, acho que não existe recompensa maior que um leitor se enxergar num personagem que você criou.
MARINA: Para mim, como psicóloga, é extremamente gratificante perceber a identificação dos leitores com os personagens, porque tentamos sempre torna-los o mais real possível. Já houve casos de pessoas que começaram a fazer terapia depois de ler a história.Mario-Cau-Foto-Píbola

GG: Quais as vantagens e desvantagens de cada suporte (web e HQ impressa)?
MARIO: A vantagem da web é que é universal e gratuito. Todo mundo pode ler e acompanhar no ritmo que desejar. Pode comentar, curtir, compartilhar. O contato com os autores costuma ser direto, graças às redes sociais. A desvantagem é que, geralmente, não gera nenhum tipo de renda. No nosso caso, a webcomic em si não traz nenhum tipo de renda direta.
Quanto ao impresso, a vantagem é aquele fetiche gostoso de leitor e colecionador, de segurar o livro, sentir o cheiro, folhear. Poder colocar na estante e ler quando quiser. E, claro, temos um retorno financeiro com as vendas. A desvantagem vem pelo custo de produção, impressão, estoque, distribuição. Seja independente ou por editora, o autor tem que correr atrás da divulgação e participar de eventos, para vender.
ROB: Independente da HQ ser impressa ou na internet, ela precisa ser divulgada. Hoje em dia, temos um cenário fortíssimo nas HQs independentes, mas que os sites de cultura pop, em sua maioria, simplesmente ignoram. Isso me parece errado, quando você tem uma imprensa especializada e um material de qualidade. Vemos esse atestado de qualidade na resposta do público que conhece e consome essas HQs.
MARINA: Como leitora, prefiro sempre os livros, ainda não me adaptei ao uso dessas tecnologias para leitura, ainda que seja grátis ler na internet.mais-pagina-Terapia-webcomic

GG: Há outras alternativas para os quadrinhistas autorais, além do financiamento coletivo?
MARIO: Claro. Financiamento coletivo é o irmão mais novo das formas de publicação. Antes dele já existiam os e-books, blogs, sites. Já tinha o fanzine, as editoras, a possibilidade de publicar independente com qualidade. Têm editais e concursos culturais. O que os autores precisam é conhecer essas formas de publicação, entender o mercado e ver o que é viável pra cada projeto.

GG: Vocês têm mais algum ponto/aspecto que gostariam de destacar, mas que ninguém ainda perguntou?
MARIO: Em relação à arte, sempre tem algo a mais do que parece. Terapia é uma HQ pra leitura imersiva, cheia de mensagens subliminares, metáforas, sacadas visuais. Pra quem gosta de histórias com camadas, só precisa mergulhar. Aos leitores e autores, consumam HQs nacionais! Tem tanta coisa boa pra ler e conhecer. As coisas estão aí, é só procurar.
ROB: Apenas agradecer o espaço cedido por vocês e aos leitores, sempre. Se não fossem por eles, Terapia não seria grande como é hoje.
MARINA: Reitero o agradecimento do Rob ao espaço concedido pra gente, e aos leitores. Terapia tem uma temática profunda, delicada e difícil. Não esperávamos a repercussão que tivemos ao longo desses anos, e somos muito gratos por isso, porque esse projeto é muito querido por nós.Rob-Gordon

Sobre outros projetos:
GG: Qual é a percepção de vocês sobre o mercado brasileiro de HQs autorais na atualidade?
MARIO: É riquíssimo. Vivemos uma época especial, onde autores novos e estabelecidos têm diversos meios de publicar suas histórias. Temos grandes eventos que estão ajudando a aproximar o público dos autores e de sua produção. Mas esse mercado precisa de leitores, sempre. A mídia em geral e boa parte da população que poderia consumir esse tipo de linguagem tem ainda um tipo de preconceito com quadrinhos, e espero que isso mude rapidamente.
ROB: Para mim, vive um dos melhores momentos, senão o melhor de sua história. Tem muito material bom saindo, tem gente talentosa surgindo todos os dias.
MARINA: Acredito que tanto os autores como os leitores deveriam cobrar mais espaço para HQ’s nas grandes redes de livrarias. Vejo muito material interessante sendo produzido todos os dias, mas acabam restritos às lojas especializadas e à internet.

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