Principalmente questões envolvendo racismo. E isso é MUITO importante.

Com o lançamento da Disney+ , a maior parte da imensa coleção da empresa foi ao ar em streaming, e isso também significou o lançamento de muitos filmes que apresentam representações problemáticas de raça. De acordo com o HuffPost, foi relatado que o canal poderia censurar cenas que a própria Disney considerou ultrapassadas – e não sem razão. No entanto, a plataforma adotou uma abordagem diferente. Em vez de remover as cenas, a Disney+ decidiu simplesmente colocar um breve aviso de conteúdo no início de cada filme com esses problemas. Da mesma forma que filmes colocam avisos para cenas de violência, uso de drogas e semelhantes.

O aviso de isenção de responsabilidade na animação de Dumbo, por exemplo, fornece uma descrição do filme e, na parte inferior, após aviso sobre tabaco, diz:

“Este programa é apresentado como originalmente criado. Pode conter representações culturais desatualizadas.”

Nesse caso, o aviso refere-se ao personagem “Jim Crow” (Jim Corvo). Jim era uma caricatura racista criada nos teatros do sul dos EUA por volta de 1830, performada pelo ator Thomas D. Rice fazendo blackface, numa sátira extremamente estereotipada de escravos afro-americanos. O termo “Jim Crow” se tornou, graças à peça de Rice, uma expressão pejorativa que significava “negro”. O personagem de Jim Crow foi também inspiração para nome de leis segregacionistas e supremacistas que, entre outras coisas, proibiam o acesso de negros a piscinas públicas, hospitais e asilos.

Comparação entre o personagem da animação e o personagem retratado em músicas e peças de teatro antigas.

Pessoalmente, acho que foi realmente melhor lançar os filmes sem edição do que tentar corrigi-los retroativamente. É inegável que essas imagens problemáticas já estão há muito tempo disponíveis para serem assistidas em outras plataformas, em outras formas de mídia, então seria mais eficiente trazer à tona e utilizar esses momentos da história da Disney para contextualizar suas falhas e não omitir que elas existiram.

Muitos desses filmes problemáticos são filmes que eu adorava quando criança (como Os Aristogatos) e eu espero que, se os pais compartilharem esses filmes com seus filhos, eles usarão esses problemas como oportunidades educacionais. Esses problemas ainda são reais atualmente e ignorá-los não fará com que eles desapareçam.

Às vezes, olho para filmes como Peter Pan e penso em como ouvi a música “What Made The Red Men Red?” tantas vezes sem que ninguém me alertasse sobre o problema do racismo na letra e na representação dos índios nativo-americanos (principalmente quando a “selvagem e exótica” Tigrinha diz coisas como “mim precisar ser salva, mim ser ótima amiga”, ou quando índios se comunicam com sons guturais e coisas semelhantes). Em vez disso, só tomei consciência da representação cultural errônea muito mais tarde.

Sem esse diálogo crítico, você pode acabar normalizando esses estereótipos em uma nova geração que se sente com direito a esse sentimento de nostalgia.

No entanto, algumas pessoas acham que a Disney poderia ter feito uma declaração mais forte. Muitos compararam a ação do estúdio com a da Warner Bros., cujos filmes e desenhos animados também contêm estereótipos culturais e raciais, e eles se desculparam com avisos declarando que “essas representações estavam erradas na época e estão erradas hoje.”

Eu acho que isso é algo mais do que justo de se dizer, porque o texto da Warner Bros. assume responsabilidade e não se apóia no elemento histórico de ser “datado” para apagar a culpa. Ainda assim, acho que esse é um passo na direção certa para a Disney, e fico mais aliviada que eles tenham abordado o assunto em vez de tentar enterrá-lo.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue

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