Enfrentar os próprios medos ou fugir deles?

Recentemente, JBC adquiriu o título O Homem que Foge, um mangá classificado como “conto de fadas adulto” que retrata uma lenda antiga que nos leva a provar as consequências de fugir da realidade em vez de encarar os problemas que aparecem por aí. Prepare-se para uma viagem louca e conturbada dentro do protagonista – ou dentro de si mesmo.

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História

Eu digo seguramente que a história é o ponto forte do mangá, e o que mais chama a atenção. Seu pano de fundo da história é uma lenda bem simples, mas que mantém as pessoas presas a elas:

Na floresta da cidade há um urso que vive sozinho em uma cabana. Durante o dia, tem forma de urso, mas à noite, se transforma em gente. No dia seguinte, volta a ser urso. Se alguém passar o dia inteiro com esse urso, poderá ter um desejo realizado. Entretanto, somente crianças podem vê-lo, porque, quando viram adultos, as pessoas se tornam mais gananciosas.

A lenda, porém, foi criada para manter as crianças longe da floresta – seja pelo medo do urso, seja porque os pais jamais deixariam os filhos dormirem em uma floresta escura – e também os adultos, já que todos os que vão para a floresta desaparecem e não mais voltam. Essa não é uma história de mistério na qual há crimes ou coisas sobrenaturais que fazem as pessoas desaparecerem. Essa é uma história sobre reflexão pessoal.

Atenção: A partir deste ponto, a postagem possui spoilers. Não nos responsabilizamos pela leitura.

[spoiler]O mangá mostra a vida de três pessoas e seus encontros com o urso que, na verdade, é apenas um urso. O homem que a lenda conta é realmente um homem, que vive na companhia do urso, que é tão dócil que come e bebe em pequenos potes.

Importante dizer, antes de tudo, que os encontros são mostrados no mangá desrespeitando a ordem cronológica. Primeiro, existe um homem que convive com o urso. Ele escreveu diários e os manteve na cabana, revelando alguns fatos sobre a realidade da procura pela lenda. Posteriormente, esse homem morre e o urso fica desamparado temporariamente, até que outro adulto vai em busca da lenda e lá permanece até encontrar os diários, motivo que o fez voltar para sua casa. Por último, a criança que aparece no início do mangá vai até o urso e descobre que a lenda do desejo concedido por um urso que vira homem à noite não é real. Ou melhor dizendo… É um fato que ninguém tem um desejo específico concedido, mas uma mágica acontece. E das boas.

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O grande fato da procura pelo urso é explorado por meio desses diários, e o motivo é único: quem procura pelo urso está esperando pela morte, inconscientemente. A busca pelo urso em uma floresta abandonada representa a fuga da realidade. Afinal, o que é melhor para fazer essa representação senão uma lenda? É tudo uma questão de perspectiva: a pessoa foge para a floresta e encontra um urso solitário, vivendo em uma cabana. E então, é preferível para ela viver em companhia do urso do que voltar à sua vida comum. A partir do momento em que isto acontece, é bem claro para os leitores que essa pessoa já não busca mais motivos para viver sua vida.

Contudo, tanto o segundo homem que chegou a conviver temporariamente com o urso quanto a criança que passa uma noite lá percebem, ao ler os diários, que eles possuem toda uma vida pela frente e que embora a vida seja repleta de obstáculos, a solidão não irá resolvê-los e inclusive pode, por muitas vezes, prolongar o sofrimento.

A grande mensagem por trás desta história é que fugir dos problemas por diversas vezes pode deixá-los ainda maiores. E esta temática é passada ao leitor com muita emoção.

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Arte

O mangá tem uma arte muito característica. Os traços são confusos e desalinhados, creio eu que propositalmente, pois esse tipo de arte passa aos leitores a sensação de confusão, de tristeza, de angústia, de solidão.

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Combinando o tipo de arte com o tradicional branco e preto dos mangás, aliados ao pano de fundo da floresta e a temática da história, a sensação é completa: o leitor acaba se imaginando na situação das personagens. Viver com o urso, ou sem o urso? É o que passa pela cabeça o tempo todo durante a leitura.

Conclusão

A obra me surpreendeu muito, principalmente pelas sensações que me causou. Já me emocionei muito com mangás, mas dificilmente encontro obras que possam causar reflexões tão profundas. É necessário um pouco de atenção na leitura, já que a história não se passa em ordem cronológica, e um pouco de perspicácia para entender a metáfora por trás da situação, mas uma vez que se lê, o ensinamento perdura para toda uma vida.

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