Provavelmente muitas pessoas conhecem, mesmo que superficialmente, a muçulmana Malala, uma menina que foi baleada por membros do Talebã por fazer campanhas pela educação, especialmente pela educação de meninas. Há algumas semanas foi divulgado que os membros do grupo Talebã que a atacaram foram presos e, mais recentemente, que a jovem foi, junto a um indiano, ganhadora do prêmio Nobel da Paz.

Mas, além desses fatos e de sua presença em discursos e eventos, quase não há informações sobre sua vida, suas amigas, sua religião ou sequer sobre o que ocorreu antes e depois do atentado que sofreu. Em sua biografia, Malala conta sobre como era sua vida antes de o Talebã dominar sua região, o Vale do Swat, o atentado e sua “nova vida” na Inglaterra.

O livro Eu sou Malala, escrito pela jovem Malala Yousafzai com auxílio de Christina Lamb foi publicado pela editora Companhia das Letras em 2013. É narrado em primeira pessoa, de modo que podemos conhecer os pensamentos e sentimentos mais verdadeiros da menina. Ela conta sua história de um jeito intenso, de modo que até mesmo a descrição sobre seu nascimento se torna emocionante.

Ler a biografia de Malala nos faz entender não só sobre seu atentado, mas também sobre sua região, sua religião e a forma como o Talebã se instaurou nela. Para nós, que costumamos pensar/ver todo o Oriente Médio como possíveis terroristas, é um tapa na cara – e uma ótima fonte histórica.

Meu pai, Ziauddin, é diferente da maior parte dos homens pachtuns. Pegou a árvore e riscou uma linha a partir de seu nome, no formato de um pirulito. Ao fim da linha escreveu “Malala”. O primo riu, atônito. Meu pai não se importou. Disse que olhou nos meus olhos assim que nasci e se apaixonou. Comentou com as pessoas: “Sei que há algo diferente nessa criança”. Também pediu aos amigos para jogar frutas secas, doces e moedas em meu berço, algo reservado somente aos meninos.

Meu nome foi escolhido em homenagem a Malalai de Maiwand, a maior heroína do Afeganistão

Malala fala muito sobre o povo pachtum, sobre suas tradições e sobre sua visão do islamismo. Juntamente ao seu pai, visitava escolas e percorre diversos lugares buscando ajuda para que meninos e meninas possam estudar. Ambos chegaram a sofrer ameaças, mas isso não os detém, ao contrário.

O livro também conta com algumas fotos do acervo de Malala. Algumas de sua infância, com sua família, e algumas de passeios escolares. Há fotos também as ações do Talebã, como açoitamento em público, fotos suas em discursos importantes e, claro, fotos do seu atentado, do ônibus onde foi baleada com uma amiga e suas no hospital.

Ler a história de Malala nos permite sentir um pouco do que ela viveu. Sua sabedoria e doçura nos lembra que o mundo pode ser um lugar muito bom, mas também um lugar muito ruim. Se vivendo aqui já é triste saber que há centenas de crianças sem acesso a educação, saber que em uma parte do mundo uma menina poderia ter morrido pelo seu direito à educação é ainda mais revoltante.

Recomendo Eu sou Malala sem contra-indicações. Tanto para entender um pedaço do mundo quanto para ser uma pessoa melhor.

Usei um dos xales brancos de Benazir Bhutto sobre meu shakwar kamiz predileto, e conclamei os líderes mundiais a prover educação gratuita para todas as crianças do mundo. “Que possamos pegar nossos livros e canetas”, eu disse. “São as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. Só fiquei sabendo como meu discurso foi recebido quando a audiência me aplaudiu de pé. Minha mãe estava em lágrimas e meu pai disse que eu tinha me tornado a filha de todo mundo.

Para ler um trecho do livro pelo site da editora, clique aqui.

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