Quem você juraria?
A HQ de Scott Snyder já havia me chamado a atenção alguns meses atrás, e eu torcia bastante para que alguém o lançasse por terras brasileiras, até que a surpresa veio com esse lançamento da Darkside. WYTCHES é uma ótima obra para quem curte terror e bruxaria e que explora diversos medos familiares. Até onde você iria para ajudar sua família? Onde você buscaria coragem em situações tão novas e inexplicáveis para segurar a barra? O terror de Snyder envolve tudo isso, com uma abordagem interessante e uma ideia muito particular de como seriam as brvxas – como são chamadas as bruxas de Snyder.
“Aliás, esqueça tudo que você sabia sobre bruxas (…) Elas são gigantes, antigas, primevas e profundamente malignas. Elas têm um conhecimento das ciências naturais que supera as fronteiras da medicina contemporânea. Elas têm muito poder. Podem lhe dar praticamente o que você quiser. E estão por aí, esperando que você venha pedir. Mas, primeiro, você tem que dar o que elas querem… Afinal de contas, elas também precisam comer. Então, quem você daria a elas para ter o que quer? Para curar um ente querido doente? Para se curar? Para ter o que sempre desejou? Você entregaria um vizinho? A pessoa amada? Quem você juraria?” (trecho retirado do epílogo)
De certa forma, as bruxas fazem parte do imaginário cultural há alguns séculos, tendo seus altos e baixos, mas sempre à espreita, aguardando quem será o próximo a se aventurar e contar uma história sobre elas. São personagens que sempre recebem algum tipo de roupagem diferente, mas que mantém alguns elementos em comum com seus antecessores. A bruxaria quase sempre tem forte ligação com as mulheres, com a natureza, e muitas dessas vezes com algo de maligno. Tudo isso remonta aos períodos antigos, e que acabam sendo reproduzidos ainda hoje.
Snyder trabalha com um tipo de personagem já bastante presente no gênero do terror, mas consegue dar um toque novo às suas bruxas. As brvxas são criaturas assustadoras e cruéis, seres antigos, “quase como mutantes”, como se tivessem mesmo evoluído além da espécie humana. Não estamos nem falando de pactos e possessões, elas “só são”; e você pode receber o que quiser, desde que dê algo – ou alguém – em troca para elas. Isso acaba as tornando ainda mais perigosas. Imagine: se você pudesse receber qualquer coisa que quisesse, qualquer desejo, quem você daria em troca? Snyder não utiliza nem a questão de “você o faria?”, mas já questiona logo quem você entregaria. É algo muito tentador, muito sedutor e atraente para perguntar “se”.
A história de WYTCHES gira em torno da família Rook, que se muda para Litchfield, em busca de um recomeço. Após um incidente que afetou aos Rooks, mas principalmente à filha Sailor, a família se mudou, procurando um pouco de paz. Entretanto, e como bem se pode imaginar, não é nada perto disso que eles vão encontrar. Na verdade, o recomeço vai ser algo muito mais difícil do que eles imaginavam.
Nos epílogos que a Darkside manteve no final da edição brasileira podemos ler como Snyder decidiu escrever essa história. O toque de “isso é uma história bastante pessoal”, que Snyder tanto afirma nesses epílogos pode ser percebido desde o início, logo no primeiro capítulo. É realmente algo muito pessoal, e isso é notável.
A história, em si, é envolvente e emocionante. Um pai, que procura salvar sua família de algo invisível, que não entende, e que sempre sente medo do que pode vir a acontecer, mesmo achando que tudo é uma loucura e que não pode estar acontecendo. Seu instinto de retirar coragem de sabe-se lá onde para proteção é mais forte do que a dúvida da realidade.
Sobre o autor
Scott Snyder é aclamado roteirista de HQs, tendo escrito Vampiro Americano, Batman, The Wake, Monstro do Pântano, entre outros.
Graduada em história, levo uma vida baseada em referências de filmes dos anos 80 e 90. Escrevo e pesquiso sobre terror.