O Pulse é um RPG como você nunca viu. Pelo menos, eu nunca tinha visto nada parecido. Nem de longe o jogo lembra um RPG tradicional. Não há um mestre, nem um enredo e nem personagens, e as histórias começam e terminam em uma única sessão (ou seria, terminam e começam?). Além disso, o livro é pequeno, com apenas 28 páginas e redondo. É isso mesmo que você leu: redondo. Tudo nele é inovador – o sistema, a mecânica, a forma de narrar cooperativamente, o desenvolvimento do jogo e a forma de terminar o jogo.

A ideia do jogo é a seguinte: Por meio de desenhos em pulsos, os jogadores conseguem juntos contar uma história a partir de uma única cena, criada de forma cooperativa. Mas peraí, tem certeza que isso é um RPG? Se a gente partir da premissa que RPG é um jogo/atividade de representação de uma realidade, sim, Pulse pode ser considerado um RPG. Ele faz parte da nova geração de jogos, os Role Playing Games narrativos ou colaborativos.

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A partida (ou sessão como rpgistas costumam falar) começa com um fato central, imutável, representado por um ponto no centro da folha papel, que é o objeto da investigação. Todas as ações relacionadas ao fato reverberam através do tempo e do espaço, e os ecos podem ser rastreados até determinar um ponto de origem, analisando os pulsos que o cercam. Os jogadores, como detetives em uma cena de crime, investigam, questionam, fazem conjecturas, propondo hipóteses para definir o que pode ter acontecido para desencadear aquele resultado. Ou seja, o grupo sabe como a história acabou, mas precisa investigar para que ela faça sentido, rastreando a origem de cada pista, cada elemento, para compor o passado daquele evento. Por meio dos pulsos, cada linha pode ser usada para levantar novas possibilidades. O jogo acaba quando os jogadores estão satisfeitos. Todos os jogadores.

Podem jogar de 3 a 5 jogadores, e as sessões duram em média uma hora e meia, ou mais se os jogadores quiserem se aprofundar cada vez mais na história criada. Também é possível realizar várias partidas seguidas, com histórias diferentes em cada uma delas.

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Entendeu? Não? Na próxima coluna, explico como funciona a dinâmica do jogo, inclusive porque pretendo jogar algumas sessões para testar. Agora vocês vão saber mais sobre a criação do jogo e sobre o livro.

Os pulsos do Pulse

O mineiro Vinícius ‘Encho’ Chagas, publicitário, webdesigner e designer de jogos, criou Pulse, para o concurso Game Chef, em maio de 2013. Como Encho ainda trabalhava numa agência de publicidade na época, Pulse foi desenvolvido em nove dias durante as madrugadas e finalizado num fim de semana para o concurso.

Encho Vargas

O Game Chef é uma competição internacional para desenvolver jogos analógicos (não-eletrônicos) – geralmente RPGs e RPGs Live-Action, mas também jogos de tabuleiro e card games. Após vencer a etapa brasileira, Pulse foi traduzido para o inglês e passou por algumas reformulações melhoraria do texto e de seu funcionamento, para ficar mais fácil de ser aprendido e jogado. Em setembro de 2013, Pulse foi escolhido entre mais de 160 jogos, como Campeão Mundial da competição. Com o prêmio, Encho largou tudo e trabalou duro para preparar a versão impressa em 20 dias, para que a Kobold’s Den pudesse lançar o livro.

O livro Pulse é impresso em papel Aspen de alta qualidade (também conhecido como ‘papel caixa de ovo’) e foi lançado pela loja e editora Kobold’s Den . Em seu inusitado formato redondo, o livro funciona também como compasso para o desenhar os pulsos. Todas as compras do livro de papel levam o PDF grátis. Pulse custa R$39,90 e pode ser adquirido na loja virtual da Kobold’s Den. O conjunto de dados e as canetas coloridas não estão inclusos.

Cenários de Pulse (5)

Três diferentes cenários foram criados para jogar Pulse: “Crime Futurista” – Baseado na temática investigativa de Minority Report; “Investigadores do Passado” – Onde os jogadores investigam momentos históricos reais e redescobrem suas origens; e “Além das Sombras de Evaril” – Aventureiros tentam através do ritual dos pulsos desvendar o que realmente aconteceu com seus pais nas sombras da antiga masmorra.

Mas afinal, como é que se joga Pulse? Aguente firme, aproveite para arrumar várias canetas coloridas e ampliar seus conceitos, que na próxima coluna eu conto.

 

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