E lá vamos nós de novo…

No episódio de hoje de “o que diabos está rolando em Animais Fantásticos”, o diretor David Yates resolveu novamente se pronunciar sobre o quão clara será a sexualidade de Dumbledore na sequência de Animais Fantásticos e Onde Habitam.

Anteriormente, Yates e o ator Jude Law foram criticados por afirmar que a sexualidade de Dumbledore não seria algo tratado no filme, apesar de ser elemento chave na história. Naturalmente, as pessoas ficaram chateadas. Mas agora que o lançamento se aproxima, Yates voltou atrás em seu posicionamento, provavelmente com medo que a polêmica (somada à controvérsia de Nagini) possa afastar os fãs dos cinemas.

Yates afirmou que foi “mal interpretado” quando falou sobre a sexualidade de Dumbledore. “Naquela entrevista, eu não disse que Dumbledore não era gay. Ele é. Essa parte desta enorme narrativa que Jo está criando não é centrada em sua sexualidade, mas não estamos disfarçando ou escondendo isso… A história [do relacionamento romântico] não está evidente neste filme em particular, mas é claro que você consegue ver… que ele é gay. Algumas cenas que gravamos são momentos muito sensuais entre ele e o jovem Grindelwald”.

E há de fato algumas cenas no último trailer que apontam isso, inclusive uma cena bastante romântica envolvendo um jovem Dumbledore tocando as mãos de uma imagem de um jovem Grindelwald no Espelho de Ojesed (provavelmente antes dele se transformar em um rato-toupeira-pelada interpretado pela porta do Johnny Depp e perder qualquer tipo de atratividade).

Mas a questão permanece: o filme tornará a sexualidade de Dumbledore realmente em canon ou apenas dará algumas pistas e esperará que a audiência utilize seu conhecimento externo para conectar os pontos?

Law já parecia ter percebido a recepção aos seus comentários anteriores, quando afirmou:

As pessoas são muito apaixonadas por essas histórias, e esse tópico em particular não lida apenas com os personagens do livro, mas com pessoas reais lidando com sua sexualidade… Então eu entendo o porquê dessa carga emocional.

Sim, crush, há uma carga emocional enorme. Estamos em 2018 e um personagem relevante LGBT em um grande filme, sem que isso seja uma piada, sem que ele morra, e que possui um arco de relacionamento é uma coisa mais rara do que o Snape tratando bem um aluno de fora da Sonserina. Dumbledore já cai no estereótipo com sua trágica história de amor, mas pelo menos ele é uma figura proeminente, e é por isso que estamos loucas para vê-los nos telões.

E além disso, ainda teremos que nos conformar com o que recebermos no filme. Yates afirmou que o relacionamento será desenvolvido durante os cinco filmes, mas por que temos que esperar? Por que isso não pode ser tratado como algo mais relevante na história, desde o início, para estabelecer o relacionamento e tornar a representação clara? Representação LGBT não deveria ser tratada como um jogo de espera, em que os fãs ficam esperando que em algum momento as coisas se tornem canon, já que a necessidade de representatividade é algo urgente.

Franquias em geral tratam a sexualidade como um “spoiler”, ou como algo que os fãs têm de esperar para ver. Isso não existe na vida real e as pessoas não deveriam ter de esperar para saber. Pessoas LGBT existem na vida real e merecem ser representadas nas telonas. Nós vemos isso o tempo todo. A única coisa que separa Yates do discurso “ah, eles estão lá, só ainda não revelamos” da Marvel, ou do constante “será que ele vai” de Poe Dameron em Star Wars é o fato que sabemos que Dumbledore é gay, graças à J.K. Rowling. Então o tapa na cara é mais dolorido.

Rowling já foi atacada por sua retroativa, e muitas vezes, imperfeita representação. Pelo fato da sexualidade de Dumbledore ser clara desde o início, e não apenas uma provocação, ela poderia começar a desfazer o dano causado por suas palavras. Mas não, assim como a maioria dos escritores héteros, ela vê a sexualidade como algo que só importa nos casais heterossexuais. A parcela LGBT do público terá de esperar a hora certa, porque deuses nos livrem de ter representatividade distraindo o público e tirando a atenção dos personagens héteros e seus amores de infância.

Já é quase tarde demais. A decisão de Rowling de incluir o “plot twist” de Nagini e sua incapacidade de parar de mudar a história para tentar ser “progressista” já manchou a experiência de Harry Potter para alguns de seus fãs, inclusive com a terrível defesa de Johnny Depp como parte do elenco.

Assim, acabamos presas com uma franquia que não progrediu junto de sua audiência. Se Yates e Rowling não forem cuidadosos, vão ser deixados para trás por muitos dos fãs, que tentarão encontrar algum local onde possam se ver representados. A nostalgia tem um poder mágico, mas não é capaz de consertar tudo.


Fonte: TheMarySue

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