E seus motivos para realmente finalizar a série de vez.

Quando Steven Universe estreou no Cartoon Network em 2013, não parecia ser um desenho capaz de mudar alguma coisa no modelo estadunidense de histórias animadas. A criadora da série, Rebecca Sugar, e sua equipe começaram com uma história simples: no primeiro episódio, o protagonista Steven está chateado porque sua marca de sanduíches de sorvete preferida está saindo do mercado. O episódio é tão focado na sobremesa gelada que mal toca no ponto que Steven é o primeiro híbrido entre um humano e uma raça alienígena baseada em minerais e completamente feminina.

Episódios posteriores fizeram menção ao confronto entre essa raça alienígena e a Terra, mas na maior parte do tempo, o foco continuou sendo sobre pequenas coisas – especialmente o relacionamento de Steven com os outros moradores de sua pequena cidade no litoral. Em um plano maior, Steven Universe era uma série sobre a próxima evolução de uma raça alienígena tentando alcançar a paz entre um imenso império alienígena colonizador e o pequeno planetinha em que viviam alguns soldados rebeldes. No plano menor, era uma série sobre pensamentos e meditação, sobre uma criança tentando encontrar sua identidade própria, separada de seus pais, e sobre seus amigos tentando reestruturar o seu grupo.

A história sempre foi sobre compaixão e conexão. Em seus mais de 160 episódios, Steven Universe ensinou ao seu público algumas lições sobre tolerância e aceitação, sobre a importância de se dialogar durante conflitos e reconhecer suas emoções.

Rebecca Sugar e sua equipe também construíram uma mitologia milenar de ficção científica, e amarraram isso com um filme. Ao final, uma minissérie de 20 episódios, Steven Universe Future, lidou com algumas das pontas soltas menores da história, mas sem deixar de reconhecer os efeitos causados pelos eventos da série sobre seu protagonista, que afinal de contas, é só um adolescente. A história se encerra com uma viagem, mas parece ainda haver algo pela frente, sobre como Steven lida com seu luto e trauma, e sobre o que acontece com vários de seus amigos se adaptando a nova vida na Terra. Sobre como o planeta inteiro lida com a integração pacífica com uma nova espécie alienígena.

Rebecca Sugar afirma que não tem planos de continuar a série. Ela afirmou que:

Por enquanto, não aprovei qualquer tipo de continuação oficial, e com a exceção do livro de arte Fim de uma Era, não estou envolvida e não aprovei nenhum tipo de quadrinhos, livros ou jogos de videogame. Não existe nenhum tipo de continuação em desenvolvimento no momento.

Tendo em vista como a série progrediu – muitas vezes sem qualquer informação entre as temporadas, e com revelações abruptas quando uma nova “bomba Steve” estava para ser lançada com um monte de episódios – não é surpresa que o fandom esteja esperando secretamente por mais episódios de Steven Universe no futuro. Sugar diz que a sensação de que ainda há mais a se contar fazia parte dos planos.

Eu sempre quis que esse mundo e esses personagens causassem essa sensação sublime, como se sempre existissem antes e depois dos episódios, e continuassem a existir fora da moldura do que você vê.

Teria ela pensado sobre o que aconteceria em seguida? Existe alguma esperança que a história continue de outra forma, em quadrinhos ou filmes?

A história continua fora das telas, e eu sei o que acontece a seguir, pelo menos em algumas linhas do tempo, com os personagens. Mas eu teria que decidir como e quando mergulharia nisso, ou se não é melhor apenas dar privacidade a eles.

Então por que dividir a última parte de Steven Universe em uma minissérie? Por que contar a história dessa forma? De acordo com Sugar, isso é parte do processo de produção.

Enquanto trabalhava na série original, por volta de 2016, fui avisada com relativa certeza que não seríamos contratados para mais episódios. E fui questionada se o número de episódios restantes era o suficiente para terminar a história que planejávamos.

Quando percebeu que não poderia encerrar a história da maneira que planejava, ela começou a lutar por mais seis episódios. Eventualmente, ela conseguiu esses episódios, que se tornaram o arco das Diamonds, culminando no episódio triplo intitulado “Change Your Mind”. Inicialmente, ela foi informada que teria de terminar a história naquele arco.

Imediatamente após essa reunião, quando fui informada que não haveria mais, eu subi para meu escritório e escrevi a música ‘Eu nunca poderia estar pronto’, que foi encaixada no episódio que estávamos trabalhando no momento. Eu não estava pronta para o fim da série.

Com isso, Rebecca solicitou a produção de um filme final, para que “pudesse utilizar mais um tempo como equipe, no mundo desses personagens”. De maneira inesperada, a direção do canal aprovou a ideia de um filme, mas então solicitou que a série continuasse em seguida.

Me disseram que não fazia sentido um filme sem uma série que ele pudesse promover. Então, subitamente, eu tinha mais 20 episódios para preparar enquanto trabalhava no filme. Eu fiquei exultante, e tentei conceitualizar uma forma de encaixar as peças da história que planejamos incluir na série original nesses episódios. Mas tudo teria de ser diferente após os eventos do filme, então eu precisava abordar essas histórias por um novo ângulo.

Ela também ressaltou o quanto mudou e aprendeu desde o início da série, e como o filme e a continuação da série tinham que expressar esse crescimento, deixando que Steven crescesse também. Ao mesmo tempo, “a série se tornou uma montanha-russa emocional para nós, e os membros da equipe estavam seguindo em frente. Então isso também se tornou parte da história de Steven Universe Future”.

Então quando Sugar teve que revisar o arco da minissérie final, ela percebeu que queria que ele fosse sobre o processo de encerramento e aceitação de que as coisas terminam.

Aqueles de nós que continuaram até o fim precisavam encontrar uma forma de deixar acabar. Eu queria que isso também fosse parte da história, e eu queria seguir em frente e tornar em algo que pudéssemos dividir com nosso público.

No final, Steven Universe é em todas suas formas – a série original, o filme e o spin-off final – uma expressão da própria vida de Sugar. Em particular, os temas abertamente queer da série, seu visual e as entrelinhas da história, e sua exploração da emoção e catarse, são todas experiências pessoais.

Meu amor por anime, e minha própria experiência como pessoa não-binária são partes indivisíveis da base da série. A série é uma obra diversa, mas eu tento sempre mantê-la enraizada em algo real e pessoal. Havia grandes cenas que planejávamos, como uma montagem de treinos da Jasper, e uma batalha de kaiju. Sempre nos inspiramos também nos conflitos interpessoais e catarse no final de Ojamajo Doremi (série dos anos 90).

Ela continua:

Eu queria contar uma história sobre a minha própria experiência com minha saúde mental, e inspirada em um livro que estava lendo na época, chamado ‘O Poço mais Fundo’, da Dra. Nadine Burke Harris, sobre cura dos efeitos de traumas da infância. Eu não acho que é uma questão de tropos de anime ou desafios, mas sim se manter fiel às suas histórias pessoais na equipe.

Sugar considera a série um trabalho de amor e uma forma de autoexpressão para sua escrita e também para a equipe de produção.

Eu diria que uma experiência pessoal que nós verdadeiramente compartilhamos é o amor pelos desenhos e por desenhar. E é por isso que todos nós dedicamos nossas vidas a essa forma de arte. É assim que eu penso. É tudo pessoal e verdadeiro, inclusive a parte do desenho e dos animes. É o que amamos, e a linguagem que usamos para nos expressar.

A gente te ama, Rebecca ;A;


Texto traduzido e adaptado da Polygon.

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